O programa do Papa são as Bem-aventuranças, diz Dom Sorondo


Cidade do Vaticano (RV) – No tweet para a Vigília de Natal, o Papa Francisco voltou a falar do Deus que se faz pequeno como uma criança para manifestar a nós o seu amor. A este respeito, a Rádio Vaticano pediu uma reflexão a um dos mais estreitos colaboradores do Santo Padre, o Chanceler das Pontifícias Academias das Ciências e das Ciências Sociais, o Arcebispo argentino Marcelo Sánchez Sorondo:

“É claro que “fazer-se pequeno” quer dizer Natal, porque Deus se faz criança: não somente se encarna! O Verbo de Deus o faz naturalmente com todas as condições da natureza humana e portanto com o nascimento. Todos admiraram quando o Papa disse “se faz pequeno”: é uma criança, completamente desarmado... Imediatamente faz nascer em nós o sentimento do cuidado, da responsabilidade, do fazer alguma coisa por ele”.

RV: A revolução de Jesus é “a revolução da ternura”, vemos isto em particular no Natal, e é algo repetido muitas vezes pelo Papa Francisco. Esta – bem o sabemos – é uma mensagem nem sempre fácil  de colocar em prática e até mesmo de compreender na nossa sociedade. De onde devemos partir, mesmo aqui no Vaticano, também no trabalho a serviço do Sucessor de Pedro?

“Esta ideia do Papa é muito forte e é em si mesma a ideia da Bíblia e do próprio Cristo. O que se pode fazer? A primeira coisa é procurar seguir o Papa e não ter nenhum tipo de reticências, pois ele está efetivamente nos mostrando a radicalidade do Evangelho. Não é nem de esquerda nem de direita, não é nem de cima nem de baixo: simplesmente quer aplicar as Bem-aventuranças! E o que promete o Senhor àqueles que são justos e àqueles que são mansos, àqueles que amam a justiça e que são construtores de paz, que tem o coração puro? O Senhor promete: “Eles possuirão a terra”. Não os ricos, mas aqueles que são como São Francisco. “Serão chamados Filhos de Deus e verão a Deus”. Estas são as três promessas que o Senhor faz àqueles que vivem de acordo com as Bem-aventuranças. E olhem que este é o programa do Senhor, do Evangelho! Não existe um outro programa! Portanto o Papa não faz outra coisa do que atuar este programa. Por isto a primeira coisa, para nós, é seguir o Papa, entende-lo bem, buscar compreendê-lo bem no sentido profundo daquilo que deseja levar em frente,  tanto mais nesta sua abertura para significar a essência do próprio Deus, que é a Misericórdia, no Ano Santo. Portanto, colaborar com ele”.

RV: A abertura da Porta Santa, em Bangui, assim também como a abertura da Porta da Caridade no Albergue Caritas, de Roma, são gestos que falam e que têm falado muito aos fieis e na realidade não somente aos fieis. Como dar continuidade a isto na vida cotidiana?

“É uma indicação: é necessário começar dali, é necessário começar onde existem exclusões, onde existe a marginalização, onde existe fome. O Papa disse, tantas vezes, que o seu projeto é realizar as Bem Aventuranças do Senhor. Uma das principais Bem-aventuranças diz isto: “Bem-aventurados aqueles que tem sede e fome de justiça”. E o Papa quer chamar a atenção para isto”.

RV: Em 2015, vimos um grande empenho do Papa não somente em relação às criaturas, mas também na defesa da criação; com a Encíclica Laudato Si, mas também com o seu apoio direito e claro a uma acordo na Conferência sobre o Clima de Paris. Alguém pode ter ficado chocado, defendendo que um Pontífice não deveria ocupar-se destas coisas, do ambiente. O que o senhor pensa sobre isto?

“Acredito que aqueles que ficaram chocados – e sabemos quem são – ficaram incomodados porque defendem o interesse privado. O Papa se chama Francisco e São Francisco significa a realização prática do fato de que todas as coisas são criadas por Deus. No Seminário estudamos o “Tratado da Criação” e São Tomás introduz a Criação no tema de Deus: todas as coisas têm uma relação com Deus, enquanto são criadas e destinadas a Deus. Joseph Ratzinger dizia que um dos tratados que é necessário ser repensado é precisamente o Tratado da Criação. É uma coisa extraordinária o fato de que o Papa, nesta Encíclica Laudato Si, tenha falado da “conversão ecológica”. A sua Encíclica, definitivamente, tem também um sentido de justiça. O que está claro é que tratar mal a Criação, o não respeitar as suas leis, produz um efeito bumerangue que vai contra o próprio homem. Isto produz mais pobreza, produz migração, produz as formas mais extremas de marginalização. São todas coisas, estas, que estão acontecendo naquilo que o Papa chama de “globalização da indiferença”. O Papa quer que a todos seres humanos seja reconhecida a dignidade e a liberdade. E está particularmente preocupado pelas novas formas de escravidão”. (JE)








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