Editorial: Vencer a indiferença


Cidade do Vaticano (RV) – O primeiro inimigo da paz é a indiferença dos homens pelos próprios semelhantes, gerada pela rejeição a Deus. Este o início da Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz que celebraremos no próximo dia 1º de janeiro de 2016: um convite a nos comprometermos com confiança na construção da paz, porque se é verdade que a paz é dom de Deus, também é verdade que a sua realização está confiada aos homens e mulheres de boa vontade.

Estamos concluindo um ano que apresenta um balanço doloroso para a paz. Terrorismo e conflitos parecem confirmar a teoria da “terceira guerra mundial em pedaços”. Ainda assim, há razões de esperança e o Papa Francisco na sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz as identifica precisamente em alguns recentes eventos internacionais, como o Acordo de Paris sobre o clima ou a Agenda ONU 2030 para o desenvolvimento sustentável. São situações que levam a acreditar na capacidade da humanidade de agir em conjunto em um espírito de solidariedade. Uma atitude, observa o Papa, que se une ao da Igreja dos últimos 50 anos, orientada ao diálogo, à solidariedade e à misericórdia.

As ameaças à paz, no entanto, são concretas e derivam principalmente da indiferença para com o próximo e do não respeito à Criação. Um comportamento de isolamento tão generalizado que o Papa Francisco indica com a terminologia, “globalização da indiferença”. Um mal que é gerado, principalmente, pela indiferença que o homem tem em relação a Deus. É da ruptura desta relação preferencial que nascem os males da sociedade e que o Papa Francisco denuncia frequentemente: a corrupção, a destruição do ambiente, a falta de compaixão pelos outros.

O caminho indicado por Francisco para combater a globalização da indiferença passa por uma profunda conversão do coração do homem, uma conversão que permita através da graça de Deus voltar a ser capaz de se abrir aos outros com autêntica solidariedade.

E os primeiros atores a serem chamados em causa como promotores de valores de liberdade, respeito recíproco e solidariedade são as famílias, os educadores, os comunicadores. E precisamente neste contexto o Papa cita o exemplo negativo daqueles comunicadores que dão mais importância ao modo como conseguem e difundem as informações.

Mas o mundo de hoje está cheio de exemplos positivos, solidários e misericordiosos: o Papa recorda as organizações que se ocupam dos direitos humanos e as associações de caridade, em particular as realidades que trabalham ajudando os migrantes em dificuldades.

O Jubileu da Misericórdia, que apenas iniciamos, representa então, uma oportunidade para refletir sobre o grau de indiferença que reside no coração de cada um de nós, de como derrotá-la e de como se comprometer para melhorar a realidade que nos circunda.

O convite do Papa na sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz 2016 é “vencer a indiferença” que anestesia o nosso coração e adormece a nossa consciência. Em árabe ‘misericórdia’ significa ‘ventre’. Isto significa – disse o jesuíta Pe Oliver Borg – que quando o homem está em sua miséria e fragilidade maior, Deus o pega e o leva ao seu ventre materno e com o seu calor e afeto lhe dá novamente vida. Nós, cancelando a indiferença com o nosso afeto pelo outro, atentos aos mais pobres e necessitados, poderemos dar novamente vida a todos aqueles que encontramos no nosso caminho. (Silvonei José)

 








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