Dom Tomasi: Os esforços da Santa Sé para erradicar a discriminação racial


Genebra (RV) - Acolhidos "com favor" os esforços da Santa Sé para promover no mundo os objetivos da Convenção Internacional sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial, da qual a Santa Sé é um dos 177 signatários. Esta é uma das passagens das Observações conclusivas do Comitê ONU para a eliminação da discriminação racial, tornadas públicas na sexta-feira, 11. Em particular, é sublinhada "a ênfase" dada pelo Papa Francisco "à importância da luta contra a pobreza", sendo evidenciado como frequentemente "os pobres são pessoas marginalizadas provenientes de grupos raciais ou étnicos na sociedade". O documento prevê ainda uma série de recomendações em relação às medidas para prevenir tais riscos. A este respeito, a Rádio Vaticano conversou com o Arcebispo Silvano Maria Tomasi, Observador Permanente da Santa Sé no Escritório da ONU em Genebra, que nas semanas precedentes realizou encontros com os representantes das Nações Unidas:

"O que me tocou foi, em particular, a ênfase com que os membros da Comissão sublinharam o papel positivo do Papa Francisco neste momento particular, pela clareza com que trata a questão da discriminação e fala da inclusão de todos na vida da sociedade e no respeito de cada pessoa. Esta dimensão de universalidade de seu ensinamento foi sublinhada com muita força, em particular no que se refere à tolerância, à reconciliação e o respeito pelas pessoas de raça diferente, recordando os apelos que o Pontífice lançou em favor da acolhida dos refugiados que provém de regiões martirizadas deste globo, especialmente do Oriente Médio rumo à Europa e da América Central e da América Latina em direção aos Estados Unidos. Um outro aspecto positivo foi o reconhecimento da nova legislação que o Vaticano, como Estado, introduziu: a punição de crimes de discriminação racial e o levar em séria consideração as exigências da Convenção. Após, o Comitê passou a fazer recomendações, em tom construtivo e positivo".

RV: Em qual âmbito se inserem estas recomendações?

"Algumas das recomendações pedem que sejam reforçadas as medidas legais do Estado, tornando-as mais inclusivas, de modo que os atos de discriminação racial sejam devidamente punidos. É proposto, por exemplo, que as pessoas que sofrem discriminação por causa da sua raça ou de seu credo religioso - mas sobretudo por questões de raça - sejam compensadas. E depois, um aspecto bastante curioso, mas também interessante, é o pedido por parte da Comissão em ter dados mais específicos em como as estruturas organizativas de liderança na Igreja representam também minorias raciais e grupos".

RV: No sentido de representação de todo o mundo?

"Exatamente: sublinhar a universalidade da presença da família humana em todas as suas formas e cores nas estruturas da Igreja. Não foi, além disto, subestimado o fato de que, por meio de suas instituições, a Santa Sé - mas sobretudo a Igreja Católica, da qual a Santa Sé é o governo central - educa e forma as pessoas de modo que não existam discriminações. Basta pensar que mais de 64 milhões de jovens são educados nas escolas católicas no mundo e a maioria destes estudantes não é católica. E o mesmo se pode dizer para a saúde: nos mais de 5.000 hospitais da Igreja Católica, existem milhares de pessoas que são assistidas e não se pede nunca o passaporte e nunca se faz considerações quanto à pertença étnica ou racial".

RV: Foram levantados supostos casos de discriminação racial por parte de expoentes da Igreja Católica?

"Foi feita referência ao genocídio de Ruanda, com um convite para se fazer o possível para individuar também pessoas do clero que porventura tenham participado de tal genocídio, para que sejam entregues à justiça, de modo que não possam existir escapatórias para as pessoas que venham a ser juridicamente reconhecidas como responsáveis por estes crimes".

RV: Nos encontros, e após no Documento do Comitê ONU, o conceito de "gênero", no centro dos debates em muitos países, chegou a ser citado?

"A questão da não-discriminação de pessoas de orientação sexual diferente não constituiu um tema principal, porque a Convenção é direcionada a eliminar violações estritamente ligadas à raça e baseadas na pertença étnica. Porém, o Comitê observou que também faz parte de sua responsabilidade fazer de modo que a discriminação não se aplique a novas situações que pouco a pouco envolvem a sociedade. E sobre isto estamos de acordo: que não se deve discriminar as pessoas, mas que se deve respeitar qualquer pessoa, mesmo tendo presente que temos tradições e princípios que às vezes não são compatíveis com aqueles promovidos pela comunidade internacional". (JE)








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