Fé, caridade e fidelidade, as mensagens deixadas pelos mártires no Peru, diz Card. Amato


Cidade do Vaticano (RV) – No próximo sábado serão beatificados no Peru três missionários assassinados in odio fidei em 1991 pelos guerrilheiros do Sendero Luminoso. A Rádio Vaticano conversou a este respeito com o Prefeito da Congregação das Causas dos Santos, Cardeal Angelo Amato:

“Trata-se de três sacerdotes missionários. Dois eram Franciscanos Conventuais provenientes da Polônia, Padre Michał Tomaszek e Padre Zbigniew Strzałkowski. O terceiro era italiano, Padre Alessandro Dordi, sacerdote fidei donum. Durante o período de terror revolucionário – de maio de 1980 a novembro de 1992 - a ideologia marxista do Sendero Luminoso perpetrou atentados sobretudo contra a Igreja e os sacerdotes, incendiando, profanando, destruindo, caluniando, matando. Para impedir este assalto diabólico, o corajoso Bispo de Chimbote, Dom Luis Armando Bambarén, com os sacerdotes, os missionários e os leigos da diocese, começaram uma intensa campanha de oração e de difusão da mensagem evangélica em favor da paz, da vida, da dignidade da pessoa, da fraternidade e do perdão contra toda forma de ódio e de violência. 27.000 jovens construíram a ‘Cruz de la Paz’, como símbolo de paz e de defesa da vida, para demonstrar que a religião cristã não adormenta os povos, mas promove os seus autênticos valores humanos, criando justiça e harmonia social”.

RV: Quais foram as circunstâncias de seus martírios?

“O martírio dos dois Franciscanos ocorreu em 9 de agosto de 1991. Após a missa, por volta das 20 horas, um grupo de terroristas armados, com o rosto coberto, capturou os dois sacerdotes e os colocaram em um automóvel. Neste momento, Padre Zbigniew encorajou o seu confrade dizendo: “Michał, seja forte, seja corajoso!”. Colocaram-se então a rezar, meditando a palavra do Senhor sobre o grão do trigo que se não morre, permanece infecundo. Pouco depois foram mortos com projéteis de grosso calibre, que esfacelaram seus crânios. Sem processo e sem poder se defender, os dois religiosos foram mortos por ódio à fé como cordeiros levados ao matadouro. Em suas exéquias, oficiadas pelo Bispo, o povo acompanhou o cortejo fúnebre com flores e lágrimas, enquanto as crianças cantavam chorando, os cantos aprendidos com Padre Miguel. Foram recolhidas como preciosas relíquias as pedras banhadas pelo seu sangue”.

RV: O que se poderia dizer a respeito do italiano Padre Alessandro Dordi?

“Padre Alessandro era um sacerdote italiano, membro da Comunidade Missioneira de Paraíso. Em 1980 chegou a Santa (Peru), cidade com cerca de 15 mil habitantes. Da Paróquia de Santa dependiam também trinta povoados. Na sua atividade missionária era notável o esforço de evangelização e de promoção humana. Tinha particular cuidado pelas crianças, pelas mães abandonadas, pelos doentes e pelos pobres. Havia adotado um estilo de vida modesta, partilhando tudo com os necessitados. É de sua autoria o profético projeto “Centro de Promoção da mulher trabalhadora e de seu filho em idade pré-escolar”, com cursos de formação profissional reconhecidos pelo governo. Ele trabalhou também em favor das crianças deficientes. Em 25 de setembro de 1990 foi envolvido junto a Dom Bambarén, Bispo de Chimbote, em um atentado do qual ambos saíram incólumes. No final de agosto, foi até a localidade de Vinzos onde celebrou a Santa Missa e batizou uma criança. Quando se dirigia em automóvel até o povoado de Rinconada, foi interceptado na estrada por dois jovens guerrilheiros que o insultaram e o mataram com três golpes de pistola no rosto. Era cinco da tarde de domingo, 25 de agosto de 1991. Os funerais foram realizados em Lima e o corpo foi traslado até a Itália”.

RV: O que nos dizem estes mártires?

“Nos deixam três mensagens. A primeira é uma mensagem de fé. Os mártires superaram as numerosas dificuldades de sua missão em terra peruana graças a uma extraordinária confiança na Divina Providência. Uma segunda mensagem é a da caridade. Por amor partiram como missionários, impelidos pela urgência em anunciar Cristo e de levar aos povos a Boa Nova do Evangelho. Educavam as crianças e os jovens no amor de Jesus, ajudavam os necessitados, assistiam os doentes. Eram amáveis, acolhedores, trabalhadores. A terceira mensagem é a da fidelidade à vocação cristã e Missionária. Os três mártires eram assíduos na oração, levando com alegria uma vida pobre e simples, desapegados dos bens terrenos. Foram ao Peru para servir o povo de Deus com todas as suas forças. E com tal disposição de ânimo enfrentaram a morte pelo Senhor”.

RV: Como acabou depois o Sendero Luminoso?

“Os guerrilheiro foram depois capturados em 1992 e encarcerados. Dez anos depois, em 2002, em um dramático diálogo, o comandante Abimael Guzmán revelou ao Bispo de Chimbote que a execução dos sacerdotes provinha da convicção de que a religião fosse o ópio do povo e de que a Bíblia, os Sacramentos, o Catecismo, a pregação, adormentassem as consciências dos cidadãos. Além disto, também a ação caritativa e de justiça social da diocese, constituía um muro que impedia o avanço da revolução. Ao concluir, ele reconheceu que o motivo da morte foi substancialmente religioso e não político ou social. Após dez anos de prisão e de reflexão, Abimael Gusmán, arrependido, pede e obtém o perdão do Bispo, dando ordens aos guerrilheiros remanescentes para deporem as armas”. (JE)








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