A Declaração Nostra Aetate e a relação com o judaísmo


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos tratar na edição de hoje da Declaração conciliar Nostra Aetate.

"Hoje, que o gênero humano se torna cada vez mais unido, e aumentam as relações entre os vários povos, a Igreja considera mais atentamente qual a sua relação com as religiões não-cristãs. E, na sua função de fomentar a união e a caridade entre os homens e até entre os povos, considera primeiramente tudo aquilo que os homens têm de comum e os leva à convivência". Assim inicia a Declaração Nostra Aetate sobre a Igreja e as Religiões Não-cristãs, promulgada pelo Papa Paulo VI, em 28 de outubro de 1965.

O resultado da votação e aprovação do documento pelos Padres Conciliares "foi uma surpresa", escreve Mons. Michael Fitzgerald (*). "Depois de João XXIII ter convocado o Concílio - falou ele em uma palestra proferida aos alunos da Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção - foi mandado um questionário preparatório às Igrejas locais, mas poucos bispos mencionaram em suas respostas o tema das outras religiões, e nenhum esquema provisório foi preparado sobre este assunto. Foi realmente por acidente que ele apareceu na agenda. O rabino Jules Isaac, francês, sugeriu ao Papa João XXIII que já era tempo para a Igreja fazer uma declaração oficial combatendo o “ensinamento do desprezo” em relação aos Judeus. A sugestão foi aceita e o Cardeal Agostino Bea, Presidente do Secretariado para a Unidade dos Cristãos, foi encarregado de preparar um texto que seria submetido ao Concílio. Esta iniciativa suscitou oposição, especialmente entre os bispos do Médio Oriente, enquanto os bispos da África e da Ásia apresentaram sugestões que levaram a ampliar o texto a fim de conter a atitude da Igreja, não só para com os judeus, mas para com os seguidores de todas as religiões”.

Dom Francisco Biasin, Bispo de Barra do Piraí-Volta Redonda (RJ) e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso da CNBB, nos faz uma breve apresentação deste documento que é um dom do Espírito para a Igreja":

"Não é fácil apresentar em poucos minutos um documento que, embora não esteja entre as Constituições Dogmáticas como os grandes documentos do Concílio Vaticano II, porém representou uma grande novidade no cenário da Igreja, sobretudo 50 anos atrás. Tinha já um caminho, antes do Concílio, relacionado ao diálogo ecumênico. Tanto é verdade, que a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos completou mais de cem anos. Portanto, já tinha um caminho feito. Em relação à outras religiões, não é que não tivesse nada, mas eram iniciativas muito tímidas. Este documento abriu um horizonte muito grande. Primeiro, em relação ao judaísmo. Por que? Porque os judeus são chamados nossos irmãos maiores e a Nostra Aetate, ela dá uma importância muito grande ao fato de que temos juntos todo o primeiro Testamento, chamado também de Antigo Testamento e o fato de termos os Profetas, as Promessas, de termos também os Patriarcas juntos, Abraão, nosso Pai na fé, na reinterpretação neotestamentária sobretudo do Apóstolo Paulo, fez com que o diálogo com o judeus realmente desse passos muito importantes. Foi ainda com João XXIII, ou talvez com Paulo VI, que foi mudada a oração da Sexta-feira Santa onde os judeus eram tratados quase que ofensivamente, dentro da Liturgia da Igreja Católica. E portanto se reza hoje em dia, a partir deste documento e da reflexão posterior, pelo judeus, nossos irmãos na fé, com os quais temos junto os Patriarcas, os Profetas, as Promessas e portanto temos uma base em comum”.

(*) Mons. Michael Fitzgerald - Revista de Cultura Teológica, V. 13 - N. 52, julho/set 2005

 

 

 








All the contents on this site are copyrighted ©.