Pe. Lombardi: grande vivacidade da Igreja no Quênia


Nairóbi (RV) - Encerrada a visita ao Quênia, inicia-se agora, esta sexta-feira, em Uganda, a segunda etapa desta 11ª viagem apostólica internacional do Papa Francisco, que se concluirá na República Centro-Africana, onde abrirá o Jubileu extraordinário da Misericórdia. Ao término da quinta-feira em Nairóbi, o porta-voz vaticano, Pe. Federico Lombardi, falou à Rádio Vaticano atendo-se aos principais eventos que marcaram o dia do Santo Padre na capital queniana. Inicialmente, disse como viveu o encontro de Francisco com o clero, as religiosas, religiosos e os seminaristas.

Pe. Federico Lombardi:- “Fiquei impressionado com este encontro, porque indicava claramente a vitalidade da Igreja missionária aqui, no Quênia. Um número impressionante de religiosas e religiosos, sacerdotes e seminaristas que dão suas vidas pelo anúncio do Evangelho e se prodigalizam numa grande quantidade de atividades extraordinárias no campo da educação: fala-se de mais de 8 mil escolas, de atividades no campo da saúde. Há hospitais, dispensários, tratamento de todas as pessoas em dificuldades, há quem se ocupa dos doentes de Aids – e existem também as atividades de caridade e de presença com os marginalizados. Realmente, é uma coisa muito bonita! E se vê a Igreja em sua vitalidade, nas pessoas que dedicaram sua vida. O Papa, nestes momentos, é acolhido com grandíssimo entusiasmo, naturalmente, por pessoas que amam profundamente o Senhor e a Igreja. E o Santo Padre entra em sintonia com elas, portanto, é normal que não faça um discurso formal, não leia um discurso formal preparado, embora a preparação seja sempre útil para fazer circular ideias, colhê-las e assim por diante... Quando se encontra na situação de relação direta com pessoas tão calorosas, entusiastas, o Papa sente sempre a necessidade de dirigir-se ao coração delas, com temas que tem a peito: temas que talvez já tenhamos ouvido outras vezes em situações análogas, mas são sempre abordados com a vivacidade da primeira vez, coisas que são ditas do coração para as pessoas que estão ali, presentes. O amor por Jesus Cristo, a ideia do serviço e do não fazer-se servir, a oração, o recordar-se do Senhor, o rejeitar toda forma de mundanismo, de busca do sucesso, porque, ao invés, a dedicação deve ser completamente a Deus e ao serviço aos outros. Em suma, são temas muito bonitos que o Papa sabe expressar com concretude, como quando diz, por exemplo: “É preciso entrar por Jesus, que é aporta, e não entrar pela janela. É preciso entrar sempre pela porta central, que é Jesus Cristo. Os outros caminhos, que não são genuínos, devem ser deixados de lado”. São temas que encontram um grande acolhimento porque as pessoas sentem a sua proximidade e a sua sinceridade. Foi um encontro realmente belíssimo e é quase sempre assim: recordo também os encontros na Albânia, com as pessoas que tinham sofrido sob o comunismo. Todo país tem sua especificidade. Mas aqui, esses missionários e os africanos e africanas que são, de certo modo, o fruto da evangelização, dão um sentido de alegria, de canto, de vivacidade particularmente entusiasmante.”

RV: Pareceu-me encontrar muita concretude também no discurso feito no escritório da Onu em Nairóbi: um discurso muito amplo, completo. Falou sobre o clima, a salvaguarda da criação, da Terra, sobre o comércio equitativo, tráficos ilícitos, sobre a urbanização e a questão habitacional. Pareceu-me que a preocupação – ou melhor –, o apelo fosse à comunidade internacional, aos Estados: “Mudem a rota, porque assim não é possível seguir adiante!”...

Pe. Federico Lombardi:- “Sim, nesse sentido, este discurso se colocava em direta continuidade com a encíclica “Laudato si”, com o discurso na sede da Onu, em Nova Iorque, com outros pronunciamentos que o Papa fez sobre temáticas da relação entre a boa administração dos bens da Terra, da Criação e a justiça. Portanto, essa impostação muito característica, essa síntese esplêndida que o Papa soube fazer das duas dimensões: a responsabilidade com a Criação, a natureza está estreitamente ligada com a responsabilidade para com as pessoas que habitam a casa comum, para com os povos, as pessoas que devem usar os recursos da Criação para viver dignamente, para viver justamente, para viver em paz e harmonia com a Criação e com os outros. Então, essa é a linha que conhecemos e que sempre mais demonstra sua eficácia e o seu valor. Consideremos que aqui, na sala de Nairóbi, tínhamos exatamente os representantes de todos os povos que se encontram neste escritório específico das Nações Unidas para discutir os problemas do ambiente e do habitat. Portanto, eram os interlocutores diretos desse tipo de discurso e podiam entender de modo particular sua vivacidade e atenção. Houve também algum aspecto a mais: por exemplo, os temas do comércio, da atenção aos acordos comerciais que dizem respeito aos fármacos, a considerar as necessidades do cuidado para com os pobres. São temas  que, talvez, não tenham sido desenvolvidos em outros discursos do Papa. E depois esses aspectos, de certo modo, africanos: a referência, por exemplo, à biodiversidade na bacia fluvial do Congo, aos caçadores ilegais, ao contrabando e comércio ilícito de pedras preciosas, de produtos animais, do marfim com o massacre dos elefantes, questões que muito dizem respeito a essas áreas da África e, portanto, deu propriamente uma atenção específica ao lugar e a esses lugares em que o Papa se encontra. Porém, como disse justamente um dos três diretores que acolheram o Pontífice: “Aqui, do coração da África, o Papa fala ao mundo inteiro!” De fato, essa temática ambiental e de bom equilíbrio entre as riquezas da Criação, da justiça e do bom desenvolvimento dos povos foi feita a partir do coração de um continente que tem uma grande necessidade dessas mensagens, ao mundo inteiro.”

RV: No encontro do Papa com os representantes das outras Igrejas cristãs e das outras religiões, novamente o Papa disse: “O diálogo é essencial”...

Pe. Federico Lombardi:- “Vemos que os líderes das várias confissões cristãs e das diferentes religiões se encontram em torno do Papa, e o fazem com satisfação; sentem no Papa uma referência que não os subjuga, mas os entusiasma a cultivar, juntos, a responsabilidade pelo serviço comum, como líderes religiosos, para o bem comum dos povos aos quais servem. Portanto, o diálogo inter-religioso e entre as várias confissões cristãs leva à paz, leva à boa educação dos jovens aos valores da convivência, da paz e do espírito, da dignidade das pessoas e ajuda a resistir, ao invés, às tentações de um materialismo que os leva às tentações da violência, do extremismo, do perder a vida vítimas das drogas ou das falsas promessas de felicidade. Os líderes religiosos sentem isso como uma responsabilidade comum e o Papa é capaz de canalizar essa energia comum das pessoas que creem em Deus e amam a Deus rumo a esses objetivos fundamentais da humanidade e dos povos, e aqui, aliás, também dos povos africanos.” (RL)








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