Editorial: Bens temporais


Cidade do Vaticano (RV) – Nesta semana meios de comunicação de todas as partes do mundo dirigiram a sua atenção ao Vaticano após a divulgação da notícia de que duas pessoas foram detidas no âmbito das investigações da polícia judiciária realizadas pela Gendarmaria vaticana e iniciadas alguns meses atrás a propósito da subtração e divulgação de notícias e documentos reservados. Trata-se de um eclesiástico e de uma leiga: Mons. Lucio Angel Vallejo Balda, e Dra. Francesca Chaouqui, respectivamente, ex-secretário e ex-membro da COSEA (Comissão referente de Estudo e endereçamento sobre a organização das Estruturas Econômico-Administrativas da Santa Sé, instituída pelo Papa em julho de 2013 e sucessivamente desfeita após o cumprimento do mandato). Após interrogatório, as duas pessoas em questão foram mantidas em estado de detenção em vista do prosseguimento das investigações. Na última segunda-feira (2) a liberação da Dra. Chaouqui, não apresentando exigência cautelar, inclusive por motivo de sua colaboração nas investigações.

A notícia fez o giro do mundo e chocou muita gente, pois, tratou-se também desta vez, como no passado, de uma grave traição à confiança do Papa e, no que tange aos autores, de uma operação voltada a obter vantagem de um ato gravemente ilícito de entrega de documentação reservada. Operação cujos desdobramentos jurídicos e eventualmente penais – afirmou um comunicado da Sala de Imprensa da Santa Sé - são objeto de reflexão por parte do Escritório do Promotor de justiça vaticano em vista de eventuais ulteriores providências, recorrendo, se for o caso, à cooperação internacional.

Publicações dessa natureza não contribuem de modo algum para estabelecer clareza e verdade, mas a criar confusão e interpretações parciais e tendenciosas. É preciso absolutamente evitar o equívoco de pensar que este seja um modo para ajudar a missão do Papa.

Há quem justifique certas atitudes como essa de tentativas para ajudar o Papa e sacudir consciências que estariam adormecidas. Como é possível ajudar o Papa traindo a sua confiança?

Durante a semana o Diretor da Sala de Imprensa, Pe. Federico Lombardi publicou, através do site da Rádio Vaticano, uma longa reflexão sobre o caso, afirmando que o Vaticano está procedendo sem incertezas no caminho da transparência e da boa administração: uma resposta à publicação de dois livros que usando documentos reservados desejam demonstrar o contrário.

Sem entrar na longa reflexão do Padre Lombardi, gostaria de chamar a atenção para um dos trechos do seu texto que diz respeito ao conteúdo das divulgações. Em boa parte trata-se de informações já conhecidas, mas, sobretudo, é necessário notar que a documentação publicada é na sua maioria relativa a um notável compromisso de coleta de dados e de informações solicitada pelo próprio Papa para desenvolver um estudo e uma reflexão de reforma e melhoramento da situação administrativa do Vaticano e da Santa Sé.

A COSEA, do arquivo de onde provém boa parte da informação publicada, fora instituída pelo Papa em 18 de julho de 2013 com a tal finalidade e depois dissolvida após a realização da sua missão. Portanto, não se trata de informações obtidas em origem contra a vontade do Papa ou dos responsáveis das diversas instituições, mas de informações obtidas ou fornecidas  com a colaboração dessas mesmas instituições. Certamente, uma grande quantidade de informações de tal gênero – destacou Pe. Lombardi – deve ser estudada, compreendida e interpretada com cuidado, equilíbrio e atenção. Frequentemente são possíveis leituras diferentes dos mesmos dados.

Muitas as mensagens de afeto ao Santo Padre como a da presidência nacional italiana da Ação Católica, que externou gratidão a Francisco por sua incessante obra de reforma e purificação da própria Igreja.

“Este é um momento em que nos parece justo que todo o Povo de Deus, leigos, consagrados, ministros e pastores expressem em alta voz, o quanto antes, a sua fidelidade e confiança no magistério de Pedro”, diz uma nota da Ação Católica.

O Santo Padre vive em primeira pessoa e indica a cada um de nós um estilo e um modo de agir que acaba desagradando a quem pensa e atua segundo lógicas de poder e com sórdidos métodos de luta, voltados à afirmação pessoal e à busca de privilégios. “Francisco está guiando a Igreja inteira com sincero espírito de serviço”.

Tudo isso que está ocorrendo leva-nos a um passado não distante com o Papa Bento XVI com as fugas de notícias e documentos que tanta dor causaram ao Pontífice alemão. Parecia algo do passado mas os desafios são de casa, e Francisco e seus colaboradores enfrentaram e continuam enfrentando os desafios para o melhoramento do uso dos “bens temporais ao serviço dos bens espirituais”.

Essa é a vontade do Santo Padre e certamente não falta no Vaticano quem colabora com ele, se esforça ininterruptamente, com plena lealdade e com todas as suas forças.

 “Rezem por mim”, sempre pede Francisco, um pedido mais do que nunca atual. (Silvonei José)








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