Vigário do Papa publica carta aberta à cidade de Roma


Roma (RV) – A “Carta à cidade” foi apresentada pelo Cardeal Vigário Agostino Vallini no início da noite desta quinta-feira (5/11), na Basílica de São João de Latrão – a Catedral de Roma.

Ao nominar uma “profunda e grave crise antropológica e ética” vivida em Roma, o Vigário do Papa afirma que, “em tantos, parecem perdidos o horizonte comum da experiência humana, o consenso sobre a inviolabilidade da pessoa, o tecido das relações interpessoais genuínas que se expressam na responsabilidade para com os outros e que dão sentido ao agir humano”.

Novo compromisso

Diante deste atual panorama de desconfiança, “de luzes e de sombras”, o Cardeal Vallini afirma que a Igreja é chamada a “comprometer-se em uma nova estação de renovação espiritual, de evangelização, de responsabilidade cultural e de empenho social, baseados na força da fé, para chegar às periferias geográficas e existenciais da nossa cidade”.

A “Carta à cidade” elenca, portanto, cinco pontos principais sobre os quais a Igreja pretende atuar com mais ênfase, inspirada no Evangelho, especialmente durante o Jubileu da Misericórdia.  

“O Jubileu é um dom que a Igreja de Roma pretende compartilhar com as mulheres e homens que vivem na cidade. Queremos que seja, sobretudo, um tempo consagrado a Deus para restituir ‘paz aos homens que Deus ama’. Um tempo para reordenar as relações humanas (este é o sentido originário do jubileu bíblico) e dar um novo impulso e paixão às regenerações da vida social. Nos parece uma urgência não mais adiável”.

Os desafios de Roma

O primeiro item fala sobre “antigas e novas pobrezas” no contexto do aumento da pobreza das famílias e da falta de trabalho. O texto cita o trabalho da Caritas diocesana que não pode ser substituto, todavia, das políticas públicas para a promoção da igualdade social e solidariedade.

O segundo aspecto leva em consideração a acolhida e integração dos imigrantes que, neste ano, chegaram em número recorde à Europa – cuja porta de entrada principal foi a Itália. O documento recorda o pedido do Papa Francisco para que todas as organizações religiosas abram as portas aos refugiados.

"Sociedade líquida”

O terceiro ponto desafiador é a educação. O Cardeal Vallini cita o termo “sociedade líquida”, cunhado pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman, para recordar que “as potencialidades das novas tecnologias são somente um instrumento que não pode expropriar a pessoa da liberdade à autodeterminação”.

E reitera: “a primeira tarefa de uma  comunidade que se preocupa com o futuro é o compromisso à educação cultural e moral”.

Comunicação

O quarto aspecto trata da comunicação que, “nos últimos trintas anos, principalmente por meio da televisão, apresenta um mundo que com frequência é um lugar horrível aonde não se teria vontade de viver”.  Como alternativa, o documento reconhece que “a complexidade atual dos meios de comunicação exige um compromisso compartilhado e orgânico”.

Para isso, o texto “propõe que todos os cristãos ligados, em diversos níveis, ao mundo da informação e da comunicação, comprometam-se em promover conteúdos que deem ênfase à relação mídia-família-cultura-solidariedade-juventude, por meio de escolhas corajosas de liberdade, também neste ambiente, com frequência fortemente condicionado dos interesses econômicos e de partes”.

Nova classe dirigente

O quinto e último ponto indica que é necessária a formação paciente de uma classe dirigente futura. “Muitas vezes, pessoas de valor não têm a força de expressar a própria vocação ao serviço do bem comum ou de incidir beneficamente sobre a sociedade, enquanto outros, por fome de poder e desejo desenfreado de enriquecer, ocupam lugares na direção e gestão das instituições sem o dom, a motivação e a competência necessária para promover programas e políticas de igualdade social em favor de todos os cidadãos”.

Por fim, ao declarar que o Jubileu da Misericórdia em um tempo de mudança de época é “uma graça para a Igreja e para cada cristão”, “todos somos chamados – afirmou o Papa Francisco – “a oferecer com mais força os sinais da presença e da proximidade de Deus. Este não é o tempo para a distração, ao contrário, é tempo para permanecer vigilantes e despertar a capacidade de olhar ao essencial”. (RB)








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