2015-10-20 11:53:00

Card. Piacenza: misericórdia, pastores desafiados a dar respostas construtivas


Rosto de Deus, bom e justo; a carícia nas feridas do homem. O que é a misericórdia? Tema central no debate sinodal e no coração do Ano Santo já iminente, e que sempre foi um dos pilares do magistério da Igreja sobre a reconciliação, nunca contraposto à verdade e à justiça. Quem o confirma é o Penitenciário Maior, o Card. Mauro Piacenza, aos microfones da Rádio Vaticano (P. Ondarza):

Vejo que sobre o tema da misericórdia existe um grande interesse: é sentido de uma maneira pastoral, visceral; ela tornou-se protagonista. Porque existem no mundo de hoje - não se pode fechar os olhos - tantas situações delicadas, difíceis e dramáticas para muitos. E então tenta-se dar uma palavra que possa socorrer, possa curar as feridas: penso que é esta a razão deste particular interesse pela misericórdia. E depois, naturalmente, também os meios de comunicação são particularmente estimulados nestes tempos, porque a chave de leitura que muitos deles têm em relação ao tema da misericórdia é uma chave de desafio à Igreja. E portanto também isto "desafia" os pastores a dar respostas adequadas e construtivas.

Misericórdia como grande protagonista deste período, visto que nos preparamos para viver um Jubileu dedicado a ela ... Uma pergunta seria: como se relaciona o tema da misericórdia em relação à verdade e a liberdade da pessoa ...

Estes termos, por vezes, na retórica fácil se confundem. Portanto, é claro que a realidade que está por baixo da palavra "misericórdia" é uma realidade imensa, porque entra na própria realidade de Deus, que "Caritas est": é caridade. Mas nunca devemos colocar uma qualidade contra a outra; portanto, é claro que quando eu digo "Deus infinitamente misericordioso", digo ao mesmo tempo: "Deus infinitamente justo", digo "Deus que é a Verdade". Digamos que deve haver a sinfonia: não existe uma qualidade de Deus que está em oposição à outra. O Magistério é claro que deve enfrentar o problema da verdade - e, portanto, deve dar relevância à verdade -, mas deve dá-la de maneira misericordiosa, deve-se dar a entender que se está a evangelizar porque se ama, porque se quer bem, porque se quer o bem da pessoa. Por exemplo, um grande educador como São João Bosco dizia aos seus primeiros colaboradores, educadores salesianos: "Não basta que vós queirais bem aos rapazes que educais, mas os rapazes que educais devem ver que vós os quereis bem". E isto é muito importante, porque senão se vai danificar a própria verdade educacional.

A Igreja de portas abertas, atenta às situações feridas, como pode propor aquela que desde sempre é uma pedagogia da misericórdia e que, portanto, prevê um reconhecimento do pecado, um propósito de não mais voltar a pecar e, portanto, um retorno à verdade indicada pela Igreja?

Deus é infinitamente misericordioso: é claro que a sua misericórdia Ele a difunde sobre todos, sem medida. Isto é, Deus me persegue - poderíamos dizer - mas santamente, com a sua misericórdia e com a sua graça. Mas me deixa livre, porque senão eu seria um fantoche; Deus me quer à sua imagem e semelhança: me quer livre. Assim, por exemplo, quando eu vou confessar, eu respondo ao convite de Deus para receber a Sua misericórdia.

Porque perante estas situações feridas é importante - e se é importante – repropor o depósito da fé: portanto a Escritura, a tradição apostólica, o Magistério?

Por que - veja - o Santo Padre diz muitas vezes: "Nós não somos uma organização sem fins lucrativos". Eu não devo partir dos dados sociológica; posso partir deles em certo sentido para poder reflectir sobre aquilo de que o homem mais precisa com um pura pesquisa de dados, estatística, etc. Mas, depois eu devo dar a solução com a fé. Há um erro no qual se cai com muita frequência, e muitas vezes isso sucede mesmos aos pastores. Como dizer que há norma moral na família, na vida de castidade que é "demasiado difícil": mas é claro que é difícil! Neste mundo existem coisas que não são difíceis? Não existe o Mistério da Cruz? Nosso Senhor não teve de esforçar  humanamente para nos poder redimir? Ele sofreu até suar sangue! E agora porque nós não devemos reflectir sobre estas coisas? E depois está o facto da graça: o Senhor vem ao meu encontro. Os santos são feitos da nossa própria massa: eles lutaram. Houve uma ascese: esta subida, esta fadiga, esta ascese fazem parte do caminho cristão. Também isto é belo, porque faz parte da imitação de Cristo. (BS)








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