Núncio em Jerusalém apela à superação do ódio e desconfiança recíproca


Jerusalém (RV) – Um dia após “o dia da fúria” proclamado pelos palestinos, que deixou um saldo de 4 mortos e mais de vinte feridos, o governo de Netanyahu intervém com dureza. Fechados os bairros árabes de Jerusalém, revogados - aos considerados terroristas - o direito de residência permanente, além de terem confiscadas suas propriedades. Ademais, foi decidido não restituir às famílias os corpos dos responsáveis por ataques e de não reconstruir as suas casas destruídas. “Sanções coletivas”, como são definidas pela ANP, que fazem crescer a preocupação da ONU e dos Estados Unidos que se preparam para uma missão de mediação. Preocupação, mas também um convite para não exagerar no tom, movidos pela emoção, conforme declara aos microfones da Rádio Vaticano o Núncio em Israel e delegado Apostólico para a Palestina, Dom Giuseppe Lazzarotto:

“O que está acontecendo corre o risco de comprometer seriamente os esforços de tantas pessoas, que estão sinceramente – e sem nem mesmo fazer muito clamor, digamos – empenhadas em construir um caminho de diálogo, da paz, da fraternidade, da convivência pacífica”.

- Por que existem estas pessoas e ninguém fala delas?

“Existem e são muitas. Porém, infelizmente, a voz delas não é ouvida e nem sempre é audível. Infelizmente, quando ocorrem estes fatos, se rompe um equilíbrio que depois é difícil de reconstruir”.

- O que deve ser trabalhado?

“A reconstrução onde existe algo rompido ou aonde existe, por outro lado, a necessidade de se reforçar o modo com que uns olham os outros e abater o muro de hostilidade e de ódio”.

- Como está Jerusalém no dia de hoje? Como está o rosto da cidade? Se fala de uma cidade blindada, de uma cidade em que cresce o número de barreiras...

“Evidentemente, existem muitas forças de ordem por tudo, existem dificuldades de movimento... Porém, não é que estejamos sob assédio. Ser tomados pela emoção é fácil, mas depois se corre o risco de perder uma visão objetiva daquilo que acontece e sobretudo daquilo que se pode fazer. Mas, repito: se não nos empenhamos todos juntos para combater a causa de fundo, que é justamente esta persistente desconfiança e hostilidade de uns contra os outros, se não se chega a curar esta causa inicial, não se obterão os efeitos que possam durar no tempo”.

- Isto se faz também por meio do diálogo?

“Sobretudo através do diálogo e através dos gestos. O Papa pede isso continuamente,  pede aos políticos, a paz tem necessidade de gestos corajosos. E estes são os gestos corajosos: ter a coragem de superar aquela que pode ser a hostilidade inicial ou também a desconfiança ou a dificuldade de diálogo. Mas é necessário chegar a isto! Porque – repito – todas as outras medidas, mesmo úteis e necessárias, não resolvem o problema de fundo”.

- É possível fazer alguma coisa em um momento como este? Não é a primeira vez que acontece...

“As nossas igrejas e os responsáveis pelas comunidades cristãs estão em meio às pessoas, dia e noite estão ali. Esta é a ação que desenvolvem, promover este estilo de vida. É a missão da Igreja, ser instrumento de diálogo”.

Já para o Diretor da Caritas Jerusalém, Padre Raed Abusahliah, “a imposição de barreiras de controle nas zonas palestinas de Jerusalém representa uma ‘medida de segurança’ que não traz nenhuma segurança, antes pelo contrário, faz aumentar a raiva e a frustração e deste modo alimenta sentimentos de vingança”.

Ao avaliar as medidas tomadas pelo Governo israelense de fechar zonas de Jerusalém onde os ataques de palestinos provocaram a morte de diversos israelenses, o sacerdote comentou à Ag. Fides que “podem impor todos os bloqueios que quiserem, mas não será isto que vai garantir a segurança. O único modo para obter uma segurança estável e para todos é o de restituir a liberdade ao povo palestino”.

As novas medidas do governo foram aprovadas pelo gabinete de segurança e comunicadas durante a noite, visto que a reunião  estendeu-se até por volta das duas da manhã desta quarta-feira. A polícia, com o auxílio de unidades do exército, foi autorizada a fechar os bairros palestinos de Jerusalém, palco de confrontos com as forças de ordem. Aos palestinos envolvidos nos ataques serão demolidas as bases e confiscadas as propriedades.

A escalada de violência e confrontos explosivos desde 1º de outubro, em Jerusalém  e nos Territórios palestinos provocaram até agora 20 mortos palestinos e oito israelenses. (JE)

 








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