Sínodo: discernir diferentes situações e culturas


Cidade do Vaticano (RV) – Nesta segunda semana de trabalhos do Sínodo dos Bispos em andamento no Vaticano, os círculos menores estão debatendo os desafios sobre os quais se concentraram as discussões da primeira semana. O tema da Assembleia é “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”.

No total, os participantes brasileiros são doze (3 cardeais, 4 bispos, 1 teólogo e 4 leigos), entre eles Frei Antônio Moser, frade da Província da Imaculada Conceição do Brasil e professor de Teologia Moral e Ética no Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis, nomeado pelo Papa Francisco para fazer parte da Secretaria Especial.

Em entrevista ao Programa Brasileiro da RV, ele detalha o andamento dos trabalhos:

“Nós tivemos, sobretudo no dia de ontem, colocações muito boas e ricas. Por exemplo, reconhecendo explicitamente a união natural, criacional, dizendo que ela tem seus valores. Não é a plenitude, evidentemente, pois a plenitude é o sacramento, mas tem seus valores. Eu até fiquei surpreso como unanimemente aquilo foi aceito com tranquilidade. Provavelmente muitas pessoas do clero vão estranhar e muito cristãos também. Alguém observou inclusive que certas tribos indígenas levam uma vida matrimonial com seriedade, o que foi ressaltado como algo de muito positivo. Ou seja, são as sementes do verbo que estão espalhadas em toda parte. Isto me pareceu muito positivo. No dia de hoje (13/10) nós nos concentramos na problemática do jovem. Por que os jovens têm medo de se casar? E houve muitos argumentos na linha negativa, eles têm medo, têm medo. Até que alguém resolveu levantar o outro prisma, que é o positivo. ‘Não... é que os jovens têm uma mentalidade muito mais realista neste sentido. Nós não temos condições de assumir uma vida institucional: condições financeiras, condições psicológicas, condições de trabalho... muito desemprego, muita movimentação no mundo do trabalho... traduzindo: vendo também o lado negativo, não só no sentido deles terem medo, mas no sentido de terem um certo realismo porque não têm condições de contrair o matrimônio. São colocações que vão abrindo um pouco as portas e que vão confirmando aquela expectativa de uma Igreja que não vai sacramentar tudo, vai acolher muita coisa boa que antes parecia algo de só negativo”.

Na próxima semana será a vez das propostas. Que novidades o Sr. espera?

“Espero que pouco a pouco vá se esclarecendo, em primeiro lugar, no tocante aos sacramentos, nós teremos sempre que dizer ‘não', é preciso que o casal caminhe e faça uma espécie de percurso para chegar até lá. É preciso discernir as muitas situações diferentes e fica muito claro que existem culturas diferentes. Portanto, por exemplo, no mundo muçulmano, o que se pode fazer se existe a poligamia? Você não vai querer que de uma hora para outra esta poligamia acabe, ou que seja algo de tão negativo que nós não possamos ver valores, né? Não é o nosso ideal, mas, só para explicar, se trata de nós irmos trabalhando, lançando a semente, e uma semente de esperança e nunca em atitude de condenação”.

“O clima nos círculos menores é muito bom, muito fraterno. Há muita liberdade, todos falam aquilo que pensam, um questiona o outro, sempre com a nobreza de quem quer colaborar e nunca no sentido de tensão. Não percebi nenhuma tensão até agora, pelo contrário: muita atenção e muita deferência, pouco importando o grau hierárquico destas pessoas, que estão aí querendo, junto com as demais, encontrar luzes para tantos problemas”. 

(SP/CM)

 








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