2015-09-30 14:47:00

"Africae munus": deslocados e refugiados em África


O capitulo III da Exortção apostólica pós-sinodal Africae munus dedica os números 84 e 85 à questão dos emigrantes, deslocados e refugiados. “Milhões de emigrantes, deslocados e refugiados (lê-se no n° 84 do Africae Munus) procuram uma pátria e uma terra de paz na África e outros continentes.

         A citação que acabamos de fazer é bastante clara: o documento começa por indicar a África como lugar onde os africanos buscam a paz. Essa afirmação quer dizer que é antes de mais a África que deve ser o berço do acolhimento e da busca da paz para os próprios africanos.

As dimensões deste êxodo, que envolve todos os países (le-se mais adiante no mesmo documento) revelam a amplitude dissimulada das diversas pobrezas, frequentemente geradas por falhas na gestão pública. Milhares de pessoas procuraram atravessar desertos e mares à procura de oásis de paz e prosperidade, duma formação melhor e de maior liberdade. Infelizmente, numerosos refugiados ou deslocados encontram toda a espécie de violência e exploração, senão mesmo a prisão e frequentemente a morte.

 A morte de que fala aqui o n° 84 da Exortação Apostólica pós sinodal Africae munus ocorre sobretudo em África nos próprios países africanos antes mesmo que os deslocados internos e refugiados do continente procurem entrar num pais estrangeiro que os acolha.

 Infelizmente, e como nos habituamos a ver, muitas vezes a África cala-se em presença dos dramas de deslocados internos e dos refugiados africanos que ao tentar encontrar uma terra de paz num pais estrangeiro encontram a morte como acontece todos os dias, ou quase todos os dias, no mar mediterrâneo que se transformou em cemitério a céu aberto de refugiados na maior parte provenientes da África. Trata-se de refugiados, que para além da guerra e situações de repressão interna, fogem da falta de emprego, da fome, da falta de casa, das dificuldades de saúde e educação. Em referência a essa situação e à injustiça que sofrem os deslocados e refugiados o Africae Munus diz ainda no n° 84,  e citamos:

Alguns Estados responderam a este drama com uma legislação repressiva. A situação de precariedade de tais pobres deveria suscitar a compaixão e a solidariedade generosa de todos. Muitas vezes, porém, (le-se no documento) sucede o contrário, fazendo nascer o medo e a ansiedade, porque muitos consideram os emigrantes como um fardo e olham-nos com desconfiança, não vendo neles senão perigo, insegurança e ameaça. Esta visão provoca reacções de intolerância, xenofobia e racismo, enquanto estes mesmos emigrantes se vêem constrangidos, por causa da precariedade da sua situação, a realizar trabalhos mal remunerados e muitas vezes ilegais, humilhantes ou degradantes.

A consciência humana não pode deixar de se indignar à vista destas situações. Assim, a emigração dentro e para fora do continente torna-se um drama multidimensional, que afecta seriamente o capital humano da África, provocando a instabilidade ou mesmo a destruição das famílias (fim de citação).

O que deduzimos desta citação é que a Exortação Apostólica Africae munus é bastante dura quando fala da responsabilidade relativa à situação dos deslocados internos e refugiados, que em África vagueiam de um lado a outro em busca da paz sem ser compreendidos e ajudados devidamente pela própria África, antes mesmo de procurar ajuda num pais estrangeiro.

Graças a Deus no meio de situações deste tipo encontramos também casos que suscitam esperança. Um desses casos é o de Angola, país que saiu recentemente da guerra e que no meio de dificuldades tem procurado encontrar paz e serenidade a vários níveis, como nos evoca D. Zeca Martins bispo auxiliar de Luanda numa recente entrevista sobre a pastoral da Igreja angolana relativamente aos deslocados dentro de Angola e aos que vêm de fora. D. Zeca Martins.








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