Papa aos bispos: devemos curar as feridas do nosso tempo


Filadélfia (RV) - Fizemos da nossa sociedade uma imensa vitrine, atenta apenas aos gostos de alguns “consumidores”, enquanto muito, muitíssimo outros “comem as migalhas que caem da mesa de seus donos”.

Foi o que disse o Papa dirigindo-se aos bispos que participam do Encontro Mundial das Famílias. O encontro teve lugar no Seminário São Carlos Borromeu de Filadélfia, constituindo o primeiro compromisso do Papa este domingo, último dia de sua 10ª Viagem Apostólica Internacional.

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Francisco iniciou afirmando que “a família não é primariamente um motivo de preocupação, mas a feliz confirmação da bênção de Deus à obra-prima da criação.”

Cada dia, em todos os cantos do planeta, a Igreja tem motivos para se alegrar com o Senhor pelo dom daquele povo numeroso de famílias que, mesmo nas mais duras provas, honram as promessas e guardam a fé, destacou o Pontífice.

Ressaltando que a transição de época em que vivemos constitui para a Igreja um desafio pastoral, frisou que a estima e a gratidão devem prevalecer sobre o lamento, apesar de todos os obstáculos que enfrentamos.

Francisco chamou a atenção para a profunda transformação do contexto atual, “que incide sobre a cultura social – e agora também legal – dos laços familiares e que nos afeta a todos, crentes e não-crentes”.

“O cristão não está ‘imune’ das mudanças do seu tempo; e este mundo concreto, com as suas múltiplas problemáticas e possibilidades, é o lugar onde temos de viver, acreditar e anunciar.”

Ainda sobre esse contexto de profunda transformação, o Santo Padre enfatizou que “em tempos passados, vivíamos num contexto social em que as afinidades entre a instituição civil e o sacramento cristão eram substanciais e compartilhadas: os dois estavam interligados e apoiavam-se mutuamente. Agora já não é assim”, observou.

Francisco tomou duas imagens típicas da nossa sociedade para descrever a situação atual: até algum tempo atrás, as conhecidas lojas, pequenos negócios das nossas terras; nas últimas décadas, os grandes supermercados ou centros comerciais.

A cultura atual parece incentivar as pessoas para entrarem na dinâmica de não se prender a nada nem a ninguém. Em seguida explicou:

“É que hoje a coisa mais importante parece ser esta: correr atrás da última tendência ou atividade. E isto também a nível religioso. O consumo é que determina o que é importante hoje. Consumir relações, consumir amizades, consumir religiões, consumir, consumir... Não importa o custo nem as consequências. Um consumo que não gera ligações, um consumo que pouco tem a ver com as relações humanas.”

Feita tal constatação, Francisco disse que uma das principais pobrezas ou raízes de muitas situações contemporâneas é a solidão radical a que se veem forçadas muitas pessoas.

“E assim, indo atrás do que ‘me agrada’, olhando ao aumento do número de ‘seguidores’ numa rede social qualquer, as pessoas seguem a proposta oferecida por esta sociedade contemporânea. Uma solidão temerosa de qualquer compromisso, numa busca frenética de se sentir conhecido.”

Diante de tais realidades o Papa chamou a atenção dos bispos para a necessidade de uma conversão pastoral. Seguindo os passos do Supremo Pastor, Jesus Cristo, “somos convidados a procurar, acompanhar, erguer, curar as feridas do nosso tempo”, exortou.

Em seguida, Francisco propôs, mais uma vez, uma Igreja em saída: “É vital que hoje a Igreja saia para anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repugnâncias e sem medo”.

Como pastores, continuou, “devemos investir as nossas energias não tanto para explicar uma vez e outra os defeitos da atual condição hodierna e os valores do cristianismo, como sobretudo convidar com audácia os jovens a serem ousados na opção do matrimônio e da família”.

Em seguida, Francisco insistiu com veemência sobre qual deve ser a postura do pastor: o pastor vela pelo sonho, a vida, o crescimento das suas ovelhas. “Este ‘velar’ não nasce dos discursos feitos, mas do cuidado pastoral.” 

“Só é capaz de velar quem sabe estar ‘no meio’, quem não tem medo das perguntas, do contato, do acompanhamento. O pastor vela, antes de tudo, com a oração, sustentando a fé do seu povo, transmitindo confiança no Senhor, na sua presença.” Viver o espírito desta jubilosa familiaridade com Deus constitui o traço fundamental do estilo de vida do bispo.

Em suas últimas recomendações aos bispos, após ressaltar que o ideal do pastor não é viver sem afetos, Francisco afirmou que “o bom pastor renuncia a afetos familiares próprios, para destinar todas as suas forças – e a graça da sua vocação especial – à bênção evangélica dos afetos do homem e da mulher que dão vida ao desígnio da criação de Deus, a começar pelos afetos perdidos, abandonados, feridos, arrasados, humilhados e privados da sua dignidade”. (RL)

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