Card. Parolin: Santa Sé espera fim do embargo dos EUA a Cuba


Cidade do Vaticano (RV) - Na iminência de mais uma viagem apostólica do Papa Francisco, desta vez à Cuba e aos EUA, cresce a expectativa nos dois países para a chegada do Pontífice. Sobretudo em Filadélfia, onde o Santo Padre encontrará os participantes do VIII Encontro Mundial das Famílias.

Sobre a viagem aos dois países que começaram um importante processo de reaproximação depois de 50 anos de ruptura diplomática e de forte embargo sobre Havana, o Centro Televisivo Vaticano entrevistou o secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin.

Card. Pietro Parolin – “Sim, é bem conhecida a posição da Santa Sé sobre esse embargo que é uma posição contrária. Independente daquelas que podem ser as motivações, existe um dado de fato, isto é, que o embargo, esse tipo de sanção, provoca transtornos e sofrimentos na população. É desse ponto que a Santa Sé enfrenta a questão e que, em nível de Nações Unidas, nas assembleias gerais, tem apoiado sempre as propostas que pedem uma anulação do embargo a Cuba. Então, esperamos, como dizem os bispos, desejamos que uma medida desse gênero, isto é, uma liberação em nível de vínculos e de relações, sobretudo em nível econômico, possa levar inclusive a uma maior abertura do ponto de vista da liberdade e dos direitos humanos, um florescer desses aspectos fundamentais para a vida das pessoas e dos povos.”

Centro Televisivo Vaticano – Uma etapa importante da viagem a Cuba será a visita ao Santuário da Virgem da Caridade do Cobre.

Card. Parolin – “Parece normal que o Papa  visite um santuário mariano e um santuário mariano como aquele da Caridade do Cobre de Cuba. Porque a devoção mariana é uma das características fundamentais da religiosidade e da fé católica do povo latino-americano e, também, porque a Virgem da Caridade do Cobre tem sempre acompanhado a história dos cubanos, em todos os seus momentos, de alegrias e de dores, de lutas, de sofrimentos e de progressos. Então, é um pouco o símbolo da sua história, o símbolo da mesma população. O Papa, indo ao santuário, encontrará um pouco o coração dessa ilha e desse povo.”

CTV – O Papa decidiu entrar nos EUA de Cuba como um migrante, dizem os bispos americanos, “para nos lembrar que somos um país de imigrantes”. Será esse um dos temas principais da visita, visto também aquilo que está acontecendo na Europa?

Car. Parolin – “Sim, certamente. Imagino que o Papa deve tratar como um dos temas mais importantes da sua visita justamente aquele da migração. E é, como o senhor lembrava, uma preocupação constante do Papa perante a emergência que vivemos nestes dias. Sabemos quantos são os seus interventos, diria quase diários, sobre esse tema. E, ao mesmo tempo, está prestes a se direcionar a um país que tem uma longa história de imigração e, ao mesmo tempo, também uma longa história de abertura, de acolhimento e de integração dos vários fluxos de imigrantes que chegaram. Me parece que tudo isso pode constituir realmente uma base, um patrimônio social e cultural a partir do qual enfrentar também os desafios diários da migração e resolver os casos que estão dolorosamente abertos. Espero realmente que esse encontro, da parte do Papa que leva esse problema no seu coração e de um país que conheceu esse fenômento na sua história, possa oferecer também indicações para a solução dos problemas que atualmente se apresentam nesse ponto de vista.”

CTV – Em Washington, Papa Francisco proclamará santo o Frei Junipero Serra, missionário franciscano definido como “pai fundador dos Estados Unidos”. É um convite para recuperar a memória hispânica e católica às origens do grande país?

Card. Parolin – “Sim. Eu acredito que sobre a canonização de Junipero Serra precisamos fazer referência ao discurso que o Papa fez em 2 de maio deste ano no colégio americano do Norte, durante um convênio que queria ser uma espécie de preparação para essa canonização. Quando o definiu como um dos pais fundadores da América, em particular Junipero Serra é lembrado como o pai da Califórnia. Mas depois disse ‘é também um santo do catolicismo’, e é um padroeiro da população hispânica nos EUA por tudo que fez pela evangelização. Eu gosto de lembrar aquilo que o Papa disse a uma certa altura: ‘Dessas grandes figuras, temos o costume de fazer atenta observação dos méritos e também dos limites e fraquezas’. Mas se questionava: ‘nós também temos a mesma generosidade que tiveram essas pessoas, nós temos o mesmo ímpeto, nós temos a mesma coragem?’. Acredito que essa seja a lição fundamental que nos dá o Pe. Junipero Serra, esse entusiasmo, essa coragem, esse ímpeto por levar o Evangelho naquelas terras e que se transforma também hoje num convite para saber integrar no interno da Igreja dos EUA, também essa componente hispânica que se torna sempre mais importante e sempre mais relevante e que tem uma notável contribuição para oferecer à Igreja dos Estados Unidos."

CTV – O Papa visitará primeiro o Congresso dos EUA, depois as Nações Unidas. Relançará a mensagem da Encíclica Laudato si’?

Card. Parolin – “Sim, certamente. Mas eu diria neste sentido: no sentido certamente das mudanças climáticas e das preocupações que essas estão gerando para o futuro da humanidade. Mas diria também no sentido daquela ecologia integral da qual ele fala, que considera o homem no interior da criação. E, nesse sentido, não faltará insistir naquela que é a natureza transcedental da pessoa da qual nascem os seus direitos fundamentais, sobretudo o direito à vida e à liberdade religiosa. E nos convidará a mudar os nossos estilos de vida para podermos ser guardiões da criação, como ele diz, e não dominadores ou agressores da criação.”

CTV – Nos EUA, no entanto, vieram algumas críticas de quem considera a Encíclica um ataque muito forte ao sistema do capitalismo.

Car. Parolin – “Bom, acredito que o Papa toque os pontos fundamentais. Eu sei que tiveram essas críticas, mas acredito que o Papa convide todos à reflexão. E acredito que é realístico perceber que as coisas não estão indo na direção justa, então, encontrar também as saídas com soluções. Me parece que o Papa convida a isso. Cada um pode dar a sua contribuição, mas é preciso uma mudança, é preciso uma mudança.”

CTV – Em Filadélfia, Papa Francisco encontrará as famílias do mundo inteiro. Será a última etapa do caminho em direção ao Sínodo de outubro?

Card. Parolin – “Sim, acredito que sim. O Papa viu e vê e vive esse momento justamente como o último momento em preparação também ao Sínodo que se realizará em outubro. Para enaltecer, e acredito que assim também será no encontro de Filadélfia, sobretudo sobre a família e a mensagem que o Evangelho oferece às famílias, o apoio que o Evangelho oferece às famílias. Então, esse é um aspecto positivo, sem esquecer também os grandes desafios que a família nos coloca no mundo de hoje. Será realmente uma preparação imediata à assembleia do Sínodo dos Bispos, mas acredito que nos dará, dará a todos os participantes, dará à Igreja inteira, esse novo entusiasmo e essa nova vontade de proclamar o Evangelho da família e, ao mesmo tempo, de ajudar as famílias que se encontram em qualquer gênero de dificuldade em viver esse Evangelho na sua plenitude que é fonte de alegria, de paz e de felicidade para todos.” (AC)








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