Enzo Bianchi: o perdão deve ser recíproco, de todos os filhos de Deus


Bose (RV) -  Desde dezembro do ano passado, a Comunidade monástica de Bose havia decidido que o tema do XXIII Encontro Ecumênico Internacional de Espiritualidade Ortodoxa, aberto na quarta-feira (9) e em andamento até o dia 12 de setembro, seria “Misericórdia e perdão”. O Papa Francisco, em sua mensagem lida na abertura dos trabalhos, recorda que “a misericórdia é a grande luz de amor e ternura de Deus que traz em si o perdão”. Entre os relatores, representantes de todas as Igrejas Ortodoxas, da Igreja Católica, da Igreja da Inglaterra e das Igrejas da reforma, biblistas, patrologistas e teólogos. O Prior de Bose, Irmão Enzo Bianchi, falou aos microfones da Rádio Vaticano sobre o encontro:

“Acreditamos que a misericórdia seja realmente o dom maior e indispensável: a única coisa que é realmente necessária aos homens, aos cristãos e à Igreja. E assim quisemos que esta misericórdia não permanecesse simplesmente como algo que meditam os católicos, mas que fosse aberta às outras confissões, de modo que exista realmente uma meditação sobre este tema – uma busca – também entre os ortodoxos e os protestantes. E é por isto que já houve um encontro com as Igrejas da reforma, enquanto este será essencialmente com as Igrejas Ortodoxas. Cerca de quarenta bispos ortodoxos estão presentes. E o empenho que pedimos é que depois este tema se alargue para dentro das Igrejas e não fique restrito somente a um tema de um encontro ecumênico”.

RV: Que dimensão do perdão cristão pode ser descoberta através de um estudo da Escritura, dos escritos dos Padres da Igreja, da tradição monástica?

“Sobretudo a dimensão que a misericórdia não tem confins, que o “setenta vezes sete” que pediu Jesus é algo para ser aplicado sempre: a própria Igreja nem sempre conseguiu estar à altura desta infinita misericórdia de Deus anunciada em Jesus. E isto acredito que seja importante: não existe passado sobre o qual não vença a misericórdia de Deus, e isto devemos absolutamente aprender. E depois, neste momento é importante ler também a expressão evangélica: fazer misericórdia como uma ajuda concreta – cotidiana – para quem sofre, quem é o último, quem é vítima e quem é pobre. Estas duas dimensões tiram o individualismo a esta virtude, e a tornam uma virtude na história concreta. Isto é realmente necessário para nós e para toda a Igreja”.

RV: Será tratado durante o encontro também o tema do perdão entre as Igrejas: as Igrejas Ortodoxas e a Igreja de Roma....

“A Igreja Católica já desde o ano 2000 colocou-se neste caminho com a Liturgia do Perdão feita por São João Paulo II; perdão que a Igreja continua a pedir também recentemente, como fez o Papa Francisco aos valdenses. Se esperaria , também, mas sem pretensões – em total humildade – que também as outras Igrejas pedissem perdão reciprocamente, porque o perdão deve ser dado por uma só parte, pois o Evangelho nos pede a gratuidade e não quer que exista a retribuição. Porém, cada Igreja deve aplicar a si esta responsabilidade do perdão, e nós teríamos necessidade que algumas destas, certamente feridas, tivessem também a força de pedir perdão, porque também eles cometeram o mal e defenderam a verdade com métodos não evangélicos. Portanto não existem Igrejas culpadas e as outras são vítimas: frequentemente também aquelas que foram vítimas depois praticaram a vingança – a represaria -  ou praticaram violência contra outros. O perdão deve ser verdadeiramente recíproco, de todos os filhos de Deus: um perdão ao Senhor, um perdão recíproco entre nós que ainda vivemos como Igreja militante sobre a terra”. (JE)

 








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