Dom Adelar Baruffi destaca o espírito paternal do Papa Francisco


Cidade do Vaticano (RV) – Na manhã desta quinta-feira (10) o Papa Francisco recebeu na Sala Clementina, no Vaticano, cerca de 130 novos bispos, nomeados a partir de setembro de 2014. Entre eles, dezessete bispos brasileiros. Eles estão em Roma participando de um curso de formação que teve início no dia 7 de setembro e que se estenderá até o dia 16. No Domingo, professarão a sua fé em uma missa na Basílica de São Pedro.

Um dos Bispos presentes no encontro é Dom Adelar Baruffi, nomeado para a Diocese de Cruz Alta (RS), em 17 de dezembro de 2014, e que nos fala do encontro com o Papa e da experiência destes dias de aprendizado em Roma:

“O encontro com o Papa Francisco faz parte do nosso encontro dos bispos novos, que anualmente acontece, promovido pela Congregação dos Bispos aqui em Roma. O encontro é, digamos, um dos primeiros importantes objetivos do fato de nós estarmos aqui. Porque, o próprio motivo do nosso estar aqui é uma peregrinação, antes de ser um curso. Uma peregrinação ao túmulo do Apóstolo São Pedro, fundamento da Igreja. Por isto é antes de tudo uma questão de fé que nos traz aqui. Uma peregrinação e professar a fé, a mesma fé de Pedro, a mesma fé da Igreja. Em segundo lugar, o sinal de comunhão com o Santo Padre, o sucessor de Pedro e por isto, um dos modos desta comunhão visível foi o encontro com ele nesta manhã. E como sempre, o encontro com o Papa é muito marcante, mais ainda para nós bispos recém-ordenados, seja pela sua pessoa, pela sua simpatia, pela acolhida que ele demonstrou a cada um, e o grupo era grande, éramos mais de cem. Mas também por aquilo que ele nos deixou como mensagem, uma mensagem muito significativa pela nossa vida, identidade e missão do bispo na Igreja e no mundo de hoje”.

RV: O que o senhor poderia destacar do pronunciamento do Papa

“Eu vou destacar alguns pontos. O primeiro deles, em que ele coloca que o Bispo é sobretudo testemunha da ressurreição de Jesus Cristo. E por isto, nós no Colégio Apostólico, os sucessores do apóstolos, os apóstolos foram enviados por Jesus Cristo na força do Espírito Santo ao mundo,  para serem anunciadores da palavra e sobretudo a palavra que anuncia o Cristo Ressuscitado vivo no mundo, e no mundo de hoje, nas suas dificuldades também. Em primeiro lugar, para o bispo, esta certeza do Cristo vivo em sua vida, que a cada momento faz com que ele possa olhar a sua vida, reunida, reunificada no Cristo que ele é servidor. Depois ele também trouxe presente alguns pontos bem concretos. O bispo hoje. O bispo hoje deve ser o Bispo pedagogo, o Bispo mistagogo e o Bispo missionário, ele usou estas três palavras. O Bispo pedagogo, sobretudo o catequista, aquele que ajuda aqueles que são de dentro da Igreja, que fazem parte de nossas comunidades, para poderem progredir constantemente na fé, para poderem fazer o caminho na comunhão eclesial na vida em Cristo e na caridade, na vivência da fé. Depois o Bispo mistagogo, ele usou assim para ajudar aqueles que talvez tenham se afastado da Igreja, pelas razões que tiveram, que às vezes nós não compreendemos bem, mas que não importa, que o Bispo deve ser aquele que se aproxima do  caminho como o Cristo Ressuscitado dos discípulos de Emaús, e que, sem pretensões maiores, pergunta: “O que vocês estão conversando no caminho? O que aconteceu em Jerusalém?”. E este interesse do Bispo que quer caminhar junto, que quer ouvir antes de julgar, mostrando sobretudo a misericórdia e a compaixão. E terceiro, então, o Bispo missionário. E aí ele recordou a Exortação Apostólica  Evangelii Gaudium, o anúncio alegre do Evangelho, ele insistiu nesta palavra da alegria da missão, de sempre viver, anunciar e testemunhar esta alegria de ser servidor e anunciador de um palavra do Cristo vivo no mundo. Então, eu destaco estes pontos. Certamente muitos outros pontos muito significativos também, ele nos deixou na sua mensagem”.

RV: Dom Adelar, no início do pronunciamento, o Papa Francisco falou de diversos problemas e desafios, como a globalização, as migrações, a ameaça ao ambiente natural, a dignidade e o futuro do trabalho humano, entre outros.  E após ele disse: “Eu não quero assustar vocês, pois vocês ainda estão em Lua de mel”. O senhor como Bispo que foi nomeado em dezembro de 2014, que desafios que o senhor encontra nesta nova missão “ser bispo” e também na Diocese de Cruz Alta?

“Como todas as dioceses estamos todos num mundo...as primeiras palavras que ele falou é que o mundo é globalizado, e por isto nos aproxima, seja nas preocupações, seja também naquilo de muito bom que tem o mundo na atualidade, da globalização das coisas boas, mas naquilo que são as preocupações globais, sejam específicas do Brasil, neste momento difícil que estamos passando, econômico, político, de valores, de ética e isto influencia na vida do dia-a-dia, uma certa falta de confiança, um certo olhar com pouca credibilidade, com pouca esperança no futuro, então creio que isto está presente e nós temos que ter esta presença de sal, de luz, que ajuda a encontrar caminhos, que ajuda a caminhar. Então neste sentido aí. E depois, aquilo também que ele falou do cuidado pelo meio-ambiente e isto é para todos, é casa comum que ele fala na Encíclica Laudato Si, que ela não é somente uma carta ecológica, mas ela é social, e por isto inclui também toda a dimensão ecológica do meio-ambiente. Estas questões todas estão presentes na Diocese de Cruz Alta, estão presentes no Brasil todo, e no mundo, de diferentes modos, mas elas dizem respeito sim. E quando ele diz assim: “não quero vos assustar, eu quero vos animar para o trabalho, vocês ainda estão em lua de mel”, é um modo muito paterno, muito próximo, de dizer assim: “gente coragem, estou com vocês, vamos caminhar juntos!”, eu senti estas palavras nesta proximidade de quem diz: “Vamos lá, temos um desafio grande, Deus está conosco, sem medo, vamos realizar a nossa missão!”.

RV: O Papa fala muitas vezes desta presença pastoral, que significa caminhar com o Povo de Deus, caminhar à frente, indicando o rumo; caminhar no meio, para o fortalecer na unidade; caminhar atrás, tanto para que ninguém permaneça atrás como, sobretudo, para seguir a intuição que o Povo de Deus tem para encontrar novos caminhos. Gostaria que o senhor falasse um pouco sobre este novo desafio do “ser bispo”, que naturalmente, é uma missão diferente do ser padre...

“Sim, é diferente de ser padre. E nestes dias do encontro que estamos tendo, temos  também a oportunidade de aprofundar muito, com palestras muito boas, reflexões profundas, seja da identidade da missão do bispo numa Igreja, no mundo, e isto nos dá consciência da passagem de um olhar local para a responsabilidade o olhar para toda a Igreja. O bispo é ordenado para fazer parte do Colégio Apostólico e por isto a responsabilidade por toda a missão da Igreja e enviado para uma porção particular, para um determinado lugar, aonde a Igreja toda está presente ali também. Porém, com o olhar global, então isto, sem dúvida, é a grande primeira mudança digamos, de atitude, de olhar, que faz parte da missão do bispo, de padre para bispo. Depois, esta presença insistida bastante aqui nos encontros que nós estamos tendo, desta presença paterna. Se existe algo específico do bispo é este provar presente o olhar paterno de Deus Pai para a humanidade, seguindo os passos do Filho na unção e na força do Espírito Santo, mas o pai que está junto com os seus filhos, que caminha com eles, que demonstra misericórdia do Pai, agora temos o Ano da Misericórdia pela frente, mas que também sabe orientar, por isto a imagem do Pastor que está na frente, no meio e atrás. E o Pai deixa liberdade também para os filhos, isto é, a própria comunidade cristã, o bispo não é o dono da comunidade cristã, ele é enviado como um dom para a comunidade cristã, para ser aquele que vai em nome de toda a Igreja, como servo de Deus, de Jesus cristo, orientar este povo que está aí. Então, sim, temos estas grandes mudanças, desafios, que vão devagarinho acontecendo também a nível de aprendizagem, porque...por que fazemos um encontro destes também? Como dizia, uma peregrinação, estar em comunhão com o Santo Padre, com toda a Igreja aqui em Roma, mas também para prender esta nova missão que a Igreja nos confia e que é tão necessário tantas coisas que necessitamos aprender para exercer bem esta missão”.

RV: Dom Adelar, estes dias, acredito, tem sido bem intensos de diversas maneiras. Algo que o senhor poderia destacar?

“Eu queria destacar dois pontos. Creio que algo bonito de quem vive desde dentro, é a comunhão que se forma entre nós. Entre nós, o grupo dos bispos brasileiros, porque tivemos em agosto o encontro em Brasília  também, dos bispos novos, e ali já nos encontramos, cada um contou a história da sua vida, de como foi o momento da nomeação, quando recebeu a notícia, a preparação para a ordenação e isto nos aproximou muito, e com muitos  aspectos bem nossos, brasileiro, a Igreja do modo de atuar como bispos nas dioceses. Isto foi o primeiro, o grupo brasileiro. Depois, aqui também, a experiência da presença de bispos do mundo inteiro, de todas as nacionalidades. Isto é sempre a experiência da universalidade da Igreja e nos faz nos sentir caminhando juntos do povo de Deus, esta comunhão que nós formamos. Este é o primeiro ponto. O segundo: na nossa programação ainda temos, como dizia, a peregrinação ao túmulo de Pedro é também um momento de profissão de fé. No próximo domingo teremos a celebração da Eucaristia na Basílica de São Pedro e ali nós faremos então a profissão solene de fé, a fé na Igreja, a fé que nós comungamos todos, na comunhão com Pedro, com o nosso Papa. Destaco estes dois pontos. Mas, estão dias muito ricos, muito bem aproveitados e de muito aprendizado, uma graça de Deus”. (JE)

 








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