"Guerra e Paz" de Cândido Portinari volta a iluminar sede da ONU


Nova York (RV) – O famoso painel “Guerra e Paz”, de Cândido Portinari, será reinaugurado nesta terça-feira (8) no hall da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas em Nova York. A cerimônia será marcada por um filme-espetáculo dirigido pela Diretora Bia Lessa, que reúne poemas lidos por pessoas de diversas partes do mundo. Em determinados momentos, haverá intervenções como a leitura de pronunciamentos do Papa Francisco e da Presidente Dilma Rousseff, além da interação com o público. A abertura estará a cargo do Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon.

O autor, Cândido Portinari (1903-1962), não pode estar presente na inauguração do mural na sede da ONU, em 6 de setembro de 1956, por ter o visto negado pelos Estados Unidos, visto sua ligação com o Partido Comunista. Depois de quase 60 anos, o painel, formado por duas gigantes pinturas a óleo sobre madeira, será reinaugurada na presença de seu filho, João Cândido.

Menino sírio

"Em palestras, quando me perguntam se o quadro continua atual, mostro fotos do 11 de setembro, da guerra no Iraque e de outros conflitos atuais. Agora, tenho que incluir a foto no menino sírio morto em uma praia turca", declarou João Cândido à BBC Brasil.

Ele ressalta que o painel sobre a guerra feito por seu pai não traz imagens de armas, tanques ou soldados, porque Portinari preferiu se concentrar no sofrimento do povo em meio ao conflito, o mesmo sofrimento que João Cândido vê nas imagens recentes que correram o mundo de refugiados em busca de abrigo na Europa.

Uma nova humanidade

"Vou discursar na ONU sobre a urgência de construirmos uma nova humanidade. Quero que esta oportunidade de falar no palco mais nobre do mundo sirva para conclamar e conscientizar, porque é a nossa própria sobrevivência que está em jogo."

Guerra e Paz voltará a ser exibido na ONU após cinco anos. Neste período foi exposto no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Belo Horizonte e em Paris, tendo sido visto por mais de 360 mil pessoas. João Cândido contou que um dos momentos que mais o emocionou foi em Paris. Ele estava no Museu Grand Palais, onde a obra era exibida, quando foi abordado por uma senhora. "Ela falou: “Olha, vou te dizer uma coisa” - e falou com tanta veemência que achei que fosse me censurar, mas emendou – “Tenho 72 anos, há 52 visito museus e exposições e nunca fiquei tão tocada quanto agora'", recordou ele. "Senti muito orgulho de ser brasileiro – afirmou João Cândido. É muito bom poder mostrar esta obra e receber de volta esta emoção de pessoas de outras nações. Isso nos engrandece e nos dá força para seguir em frente".

Restauração restituiu "Vibração cromática"

No Rio, os dois painéis de 140 metros quadrados e 1 tonelada cada um ainda passaram, durante quatro meses, por sua primeira restauração, que recuperou sua "vibração cromática", segundo João Cândido. O projeto teve um custo de R$ 30 milhões e veio à tona em 2007, quando o filho do pintor soube que a ONU passaria por uma reforma e as obras de arte deveriam ser retiradas. Este fato acabou permitindo que um público maior pudesse contemplar a obra, o que era um sonho há muito acalentado, segundo João Cândido.

Os murais estão na ONU desde dezembro, mas cobertos e à espera da cerimônia de reinauguração, que teve sua data adiada duas vezes pela dificuldade em conseguir recursos de patrocinadores. Os percalços não impediram, no entanto, a confirmação do evento para o dia 8 deste mês, quando Guerra e Paz será descortinado mais uma vez, às vésperas da abertura da 70ª Assembleia Geral do ONU, marcada para o dia 15.

"Assim como no quadro de Portinari, não vamos falar de uma violência de bombas e espingardas, mas do sofrimento trazido pela violência do cotidiano por meio de poemas de autores de diversas partes do mundo, por exemplo", explica Bia Lessa, curadora da cerimônia de reinauguração.

Atualidade da obra

"Poder falar sobre guerra e paz neste momento é muito interessante. A reinauguração do quadro agora tem uma carga simbólica muito grande." Com isso, estará finalmente concluído um projeto que levou oito anos desde sua idealização. Mas os planos do filho de Portinari não terminam por aí. Ele gostaria que Guerra e Paz fosse aberto à visitação. "A missão brasileira está ajudando a viabilizar. Não posso prometer, mas estamos trabalhando muito para isso". (JE/BBC Brasil)








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