Beatificação de Dom Melki, presente do Papa à Igreja do Oriente Médio


Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco deseja que a beatificação de Dom Flaviano Michel Melki, martirizado em 1915 durante a perseguição do Império Otomano, seja uma mensagem de esperança e encorajamento para todos os cristãos que hoje são humilhados e perseguidos. Foi o que afirmou o Prefeito da Congregação das Causas dos Santos, Cardeal Angelo Amato, que participará do rito de beatificação no sábado (29) em Harissa, Líbano. Para o purpurado, "muitos cristãos, hoje, no Oriente Médio, mas também em outros lugares, sofrem o ocaso de uma civilização humana de convivência pacífica. Mas estes nossos irmãos não querem render-se ao terror" e respondem às violências "com coragem e grande fé". O Cardeal Amato falou aos microfones da Rádio Vaticano sobre a relevância de Dom Melki:

"Flaviano Michel Melki nasceu em 1858 em um pequeno vilarejo nas proximidade de Mardin (Turquia). A família pertencia à Igreja monofisistas Sírio-ortodoxa (chamada também de jacobita). Aos dez anos, foi convidado para realizar seus estudos no Mosteiro de Zaafarane, residência do Patriarcado Ortodoxo, onde permaneceu por dez anos. Aos 20 anos foi ordenado diácono, assumindo o papel de bibliotecário do mosteiro. Durante este período amadureceu a decisão de aderir ao catolicismo".

RV: E como foi esta mudança para a Igreja Católica?

"Aos 21 anos, não obstante a contrariedade dos familiares - o irmão chegou até mesmo a atá-lo e arrastá-lo com força para levá-lo novamente ao mosteiro jaconita - e as pressões dos monges para fazê-lo desistir, o Servo de Deus, convencido de sua escolha vocacional, aderiu oficialmente ao catolicismo dirigindo-se a seguir ao Líbano, no Patriarcado Católico, para continuar sua formação e se tornar sacerdote. Neste período libanês, Flaviano Michel Melki, como seminarista diocesano de Mardin, passou a fazer parte da Fraternidade de São Efrém, empenhando-se em proferir os três votos de pobreza, castidade e obediência e a destinar, por testamento, um terço de seus bens em favor da Fraternidade".

RV: Qual foi a sua ação pastoral?

"Após a ordenação sacerdotal, realizada em 13 de maio de 1883, Flaviano Michel foi nomeado professor do seminário de Mardin e missionário nos viilarejos sírio-católicos e russos para acompanhar e ajudar as famílias católicas residentes naqueles lugares. Após este apostolado, foi nomeado Vigário Patriarcal e sucessivamente Bispo de Djezireh, região síria na fronteira com o Iraque e a Turquia. A atividade sacerdotal, antes, e episcopal, após, foi focada na formação dos sacerdotes saídos do jacobinismo, na restauração de muitas igrejas destruídas e na construção de novas. Em toda a sua vida, Dom Melki lutou contra a opressão dos mais fracos, manifestando sólidas virtudes evangélicas e levando uma vida completamente voltada a Deus, na pobreza e na obediência".

RV: Em que contexto ocorreu seu martírio, em 29 de agosto de 1915 em Djezireh-ibn-Omar, Turquia?

"O contexto desta morte foi in odium fidei dos muçulmanos contra os cristãos durante a mortal perseguição turca, que provocou o extermínio dos armênios e o massacre de outras minorias cristãs. Neste período trágico, o Servo de Deus se torna um incansável defensor dos direitos de seu povo, procurando ajudar, sem fazer distinções, todos os cristãos de Djezireh que eram submetidos aos piores tratamentos. Um amigo muçulmano de nome Osman ofereceu a ele a possibilidade de fugir e de salvar-se, refugiando-se na vizinha cidade de Yézidis. Ele, porém, recusou: "É impossível abandonar os meus fieis para salvar a mim mesmo. Isto é contrário a minha fé e ao meu dever de pastor". Capturado e encarcerado na prisão de Djezireh-ibn-Omar até metade de agosto de 1915, junto a outros sacerdotes e leigos, foi atuante também entre os prisioneiros que estavam presos com ele, exortando-os a permanecerem firmes na fé. É submetido ao interrogatório de rito. Em tal ocasião, lhe foi proposto que, para salvar a vida, deveria converter-se ao Islã. Mas ele recusou. Também os padres e os fieis o imitaram, recusando converterem-se. Por isto, foram todos fuzilados em grupos de cinco. Dom Flaviano Michel Melki foi estirado por terra e surrado a sangue frio até a exaustão. Arrastado para fora foi morto com golpes de fuzis. O seu corpo martirizado e ensanguetantado foi jogado, como o dos outros fieis, nas água do Rio Tigre".

RV – E hoje as perseguições anticristãs continuam ...

"Hoje, como há cem anos, as trevas preponderam em muitas terras da antiga civilização cristã. Os fieis são discriminados, perseguidos, expulsos, mortos. As suas casas são marcadas não com o sangue do cordeiro pascal para serem salvos, mas com o 'N' vermelho (que significa "nazarenos", cristãos), indicando a eles condenação. Como há cem anos, nos tempos do martírio de Dom Melki, é negada aos cristãos toda a liberdade, são obrigados a abandonar a própria pátria ou a converterem-se forçosamente ou a  morrer. Na realidade, é a morte que domina soberana na mente e nos corações de pedra dos perseguidores, que não suportam a civilização cristã da liberdade, da fraternidade, do respeito ao próximo, da justiça, da caridade".

RV – Do que têm necessidado os cristãos hoje no Oriente Médio?

"Os cristãos no Oriente Médio têm necessidade da solidariedade, da oração e da nossa presença concreta. E sob esta ótica é importante a beatificação de Dom Melki, que é justamente um presente do Papa Francisco à Igreja do Oriente Médio, em particular, à Igreja Sírio-católica. É um dom para fazer conhecer a todo o mundo o valor humano e cristão deste herói de Cristo, que é o Beato Melki, e infundir coragem e esperança nos irmãos humilhados e agredidos pelos modernos opressores. A Igreja chora pelos seus filhos mortos ou obrigados a renegar a sua fé e se alegra por todos aqueles que conservaram intacta a fé e que, degredados no mundo, tornam-se portadores do Evangelho em uma civilização, como a ocidental, necessitada de testemunhos críveis de Deus. Esta beatificação é portanto uma mensagem do Papa Francisco para todos os cristãos, sobretudo aqueles perseguidos no Médio Oriente, para que continuem a esperar no Senhor, a ter uma fé firme e a canta um hino de esperança com o Salmo 23: "O Senhor é o meu pastor e nada me faltará. Deita-me em verdes pastos e guia-me mansamente em águas tranquilas. Refrigera a minha alma, guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome. Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque Tu estás comigo, a Tua vara e o Teu cajado me consolam”. É um canto de esperança no triunfo do Reino de Deus sonbre a terra. É um canto de vitória que anuncia a aurora de um novo dia, após as trevas da noite". (JE)








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