ONG inglesa equipa índios para denunciar abusos em tempo real


Cidade do Vaticano (RV) – Na encíclica Laudato si, o Papa Francisco dedica uma reflexão especial à questão das populações autóctones que se encaixa perfeitamente à realidade dos índios no Brasil. O Pontífice defende que estes “não são apenas uma minoria entre outras, mas devem tornar-se os principais interlocutores, especialmente quando se avança com grandes projetos que afetam os seus espaços”.

Assim, diante da falta de atitude dos governantes, o Papa convoca a sociedade, através de organismos não-governamentais e associações, a “forçar os governos a desenvolver normativas, procedimentos e controles mais rigorosos”.

Voz Indígena” é o nome do mais recente projeto da ONG inglesa Survival International. A ideia consiste em equipar os índios com as mais recentes tecnologias de comunicação para que eles possam retratar a realidade diária nas tribos.

A RV conversou com Sarah Shenker, referência em língua portuguesa da Survival International, direto de Londres.

“Demos um smartphone para gravar vídeos breves sobre os assuntos que eles desejam falar. E, também, outras máquinas para enviar o material. Além de um painel solar, já que as regiões estão isoladas e sem eletricidade, para que eles possam usar o aparelho quando desejarem”, disse Shenker ao afirmar ainda que para a Survival International também foi um processo de aprendizagem:

“Nós tampouco tínhamos usado esse aparelho, desenvolvemos a ideia e aprendemos a usar o equipamento de maneira eficaz. Passamos muito tempo nas aldeias, com as pessoas a quem ensinamos a usar, falando sobre o projeto e as possibilidades que isso pode trazer para eles”, acrescentou.

O site do projeto, em inglês – mas que em breve deverá ganhar uma versão brasileira –, reúne sete vídeos desde que as primeiras mensagens dos índios começaram a chegar no mês passado.

O vídeo de estreia traz o depoimento de uma índia Ianomâmi que fala sobre suas impressões acerca do “Voz Indígena”. As terras dos ianomâmis, na fronteira do Brasil com a Venezuela foram demarcadas após 20 anos de campanha liderada pela Survival International.

Hoje, o projeto “Voz Indígena” tem foco na questão dos Guarani-Kaiowá para ajuda-los a alcançar a tão almejada meta de terem suas terras reconhecidas e demarcadas – como prevê a Constituição brasileira.

As primeiras denúncias dos índios retratam os abusos sofridos pela comunidades, desde casas queimadas até a presença intimidadora de seguranças contratados por fazendeiros.

Diversidade

De acordo com Sara Shenker, o projeto não se limitará a publicar as denúncias dos índios.

“É também para que os índios possam mostrar ao mundo que sim, eles vivem de forma diferente, mas que esta é uma forma de viver e é muito rica. É diferente da nossa, mas nenhum é melhor que o outro”, explicou.

“Voz Indígena” quer, por fim, promover uma mudança de paradigma na luta dos índios pela causa da demarcação das terras.

“É a primeira vez que um projeto assim é feito. É um experimento, mas achamos que pode mudar muito a dinâmica da luta indígena, dos povos indígenas ao redor do mundo, para proteger os territórios deles, sem os quais eles não podem sobreviver”, concluiu Shenker. (RB)








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