Papa Francisco: O cristão é aquele que aprendeu a hospedar


Assunção (RV) - Depois de visitar a comunidade paraguaia de Bañado Norte, no último dia de sua 9ª viagem apostólica internacional à América Latina, o Papa Francisco presidiu a celebração eucarística no Parque Ñu Guazú, em Assunção.

Milhares de fiéis participaram da missa, incluindo a Presidente da Argentina, Cristina Kirchner.

O Papa iniciou a sua homilia partindo do versículo 13 do Salmo 84: “O Senhor dar-nos-á chuva e dará fruto a nossa terra”. Somos convidados a celebrar a misteriosa comunhão entre Deus e o seu Povo, entre Deus e nós. A chuva é sinal da sua presença, na terra trabalhada pelas nossas mãos. Uma comunhão que sempre dá fruto, que sempre dá vida. Esta confiança brota da fé, de saber que contamos com a sua graça que sempre transformará e regará a nossa terra.”

Segundo o pontífice, esta confiança se aprende, se educa. “Uma confiança que se vai gerando no seio duma comunidade, na vida duma família. Uma confiança que se transforma em testemunho no rosto de tantos que nos encorajam a seguir Jesus, a ser discípulos d’Aquele que nunca desilude”. 

“O discípulo sente-se convidado a confiar, sente-se convidado por Jesus a ser amigo, a compartilhar a sua sorte, a partilhar a sua vida. «A vós, não vos chamo servos, chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que sabia do meu Pai». Os discípulos são aqueles que aprendem a viver na confiança da amizade. O Evangelho fala-nos deste discipulado. Apresenta-nos a cédula de identidade do cristão; a sua carta de apresentação, a sua credencial.”

“Poderíamos concentrar-nos em palavras como «pão», «dinheiro», «alforje», «cajado», sandálias», «túnica». E seria lícito. Mas parece-me que há aqui uma palavra-chave, que poderia passar despercebida. Uma palavra central na espiritualidade cristã, na experiência do discipulado: hospitalidade. Como bom mestre, Jesus envia-os a viver a hospitalidade. Diz-lhes: «Permanecei na casa onde vos derem alojamento”, disse ainda o pontífice. 

Poderíamos dizer que é cristão aquele que aprendeu a hospedar, a alojar.

“Jesus não os envia como poderosos, como proprietários, chefes, carregados de leis, normas. Ao contrário, mostra-lhes que o caminho do cristão é transformar o coração. Aprender a viver de forma diferente, com outra lei, sob outra norma. É passar da lógica do egoísmo, do fechamento, da luta, da divisão, da superioridade para a lógica da vida, da gratuidade, do amor. Passar da lógica do dominar, esmagar, manipular para a lógica do acolher, receber, cuidar. São duas as lógicas que estão em jogo, duas maneiras de enfrentar a vida, a missão.”


Francisco destacou que “a Igreja é uma mãe de coração aberto que sabe acolher, receber, especialmente a quem precisa de maior cuidado, que está em maior dificuldade. A Igreja é a casa da hospitalidade. Quanto bem se pode fazer, se nos animarmos a aprender a linguagem da hospitalidade, do acolher! Quantas feridas, quanto desespero se pode curar numa casa onde alguém se sente bem-vindo!”

“Muitas vezes esquecemo-nos de que há um mal que precede os nossos pecados. Há uma raiz que causa muito, muito dano, que destrói silenciosamente tantas vidas. Há um mal que, pouco a pouco, vai fazendo ninho no nosso coração e «corroendo» a nossa vitalidade: a solidão”, disse o Papa acrescentando:

“Solidão que pode ter muitas causas, muitos motivos. Como destrói a vida e nos faz tão mal! Vai-nos afastando dos outros, de Deus, da comunidade. Vai-nos encerrando em nós mesmos. Por isso, o que é próprio da Igreja, desta mãe, não é principalmente gerir coisas, projetos, mas aprender a viver a fraternidade com os outros. A fraternidade acolhedora é o melhor testemunho de que Deus é Pai, porque é por isto que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.”

Confira a íntegra da homilia. (MJ)








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