Papa: Diálogo e cultura do encontro para uma nação inclusiva


Assunção (RV) -  "Um povo que não mantém vivas as suas preocupações, um povo que vive na inércia de uma aceitação passiva é um povo morto". Dirigindo-se aos diversos segmentos da sociedade civil paraguaia reunidos no Ginásio Léon Condou na tarde deste sábado (11/07), o Papa encorajou-os a lutar por uma sociedade mais fraterna, baseada no diálogo e na inclusão. "Deus está sempre a favor de tudo o que ajuda a levantar e melhorar a vida de seus filhos", afirmou Francisco, num encontro marcado pela descontração, muita arte e efusivos aplausos.

Em seu discurso - em parte lido e parte espontâneo - repleto de citações à Evangelii Gaudium, e na forma de respostas às perguntas que lhe haviam sido dirigidas precedentemente, o Santo Padre reconheceu a existência de "situações injustas", conclamando os diferentes setores sociais a atuarem juntos na busca do bem comum.

Felicidade exige entrega e empenho

Ao responder ao jovem que pediu para que a sociedade fosse um espaço "de fraternidade, justiça, paz e dignidade para todos", Francisco  destacou a importância de os jovens intuírem que "a verdadeira felicidade passa através da luta por um mundo mais fraterno", ressaltando que "felicidade e prazer não são sinônimos, mas felicidade exige entrega e empenho":

"Vós sois demasiado valiosos, para atravessar a vida como que anestesiados! O Paraguai possui uma população jovem abundante, o que constitui uma grande riqueza. Por isso, penso que a primeira coisa a fazer é evitar que essa força, essa luz se apague nos vossos corações, contrastando a mentalidade crescente que considera inútil e absurdo aspirar a coisas que valham a pena. Mas jogá-la por algo, jogá-la por alguém. Não tenhais medo de deixar tudo para trás. Não tenhais medo de dar o vosso melhor".

Ouvir os mais velhos

O Papa apresentou como uma condição para isto, a busca do diálogo, especialmente na escuta dos mais velhos:

"Procurai dialogar, aproveitai para escutar a vida, as vicissitudes, as histórias dos vossos mais velhos, dos vossos avós. Perdei muito tempo a ouvir todo o bem que têm para vos ensinar. Eles são os guardiões desse patrimônio espiritual de fé e de valores que definem um povo e iluminam o seu caminho. Encontrai conforto também na força da oração, em Jesus".

Diálogo e cultura do encontro

Ao responder a segunda pergunta, referente ao diálogo como meio para forjar um projeto de Nação inclusivo, o Papa advertiu que "o diálogo não é fácil" e exige de nós "a cultura do encontro; um encontro que sabe reconhecer que a diversidade não somente é boa, mas necessária", e deste modo, o ponto de partida nunca pode ser "o outro está equivocado". Não devemos temer ou ignorar os conflitos resultantes da cultura do encontro, "mas aceitar, suportar o conflito, resolvê-lo e transformá-lo no elo de ligação de um novo processo", "numa unidade que não cancela as diferenças, mas vive-as em comunhão por meio da solidariedade e da compreensão". A base do encontro, é que todos somos irmãos, filhos de um mesmo Pai celestial" e cada um, com sua cultura, língua, tradições, "tem muito para dar à comunidade". As verdadeiras culturas "são chamadas a encontrarem-se com outras e criar novas realidades".

Pobres tem muito a nos ensinar

"Um aspecto fundamental na promoção dos pobres é o modo como os vemos" - ressaltou o Pontífice, ao responder a pergunta sobre como acolher os seus clamores "para construir uma sociedade mais inclusiva" - explicando que "para se procurar efetivamente o seu bem, a primeira coisa é ter uma preocupação genuína pela sua pessoa,  valorizá-la na sua própria bondade". "Os pobres têm muito para nos ensinar em humanidade, bondade, sacrifício", observou o Papa, acrescentando que nós cristão, temos um motivo ainda  maior, pois "vemos neles o rosto e carne de Cristo, que se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza".

Desenvolvimento econômico com rosto humano

O crescimento econômico de um país e a geração de riqueza, que chegue a todos os cidadãos é necessário, observou Francisco, "mas isto deve estar sempre em função do bem comum e não de poucos". As pessoas que têm a vocação para contribuir ao desenvolvimento econômico, têm a obrigação de velar para que este tenha sempre um rosto humano:

"Nas suas mãos, está a possibilidade de oferecer emprego a muitas pessoas e, deste modo, dar esperança a muitas famílias. O trabalho é um direito, e dignifica as pessoas. Trazer o pão para casa, oferecer aos filhos um teto, saúde e educação são aspectos essenciais da dignidade humana, e os empresários, os políticos, os economistas devem deixar-se interpelar por isso. Peço-vos que não cedais a um modelo econômico idólatra que exige sacrificar vidas humanas no altar do dinheiro e do lucro. Na economia, na empresa, na política, vem em primeiro lugar a pessoa e o habitat onde vive".

Reduções jesuíticas

O Papa fez referência então às Reduções jesuíticas no Paraguai, "uma das experiências de evangelização e organização social mais interessantes da história". "Nelas - disse Francisco - o Evangelho foi a alma e vida das comunidades onde não havia fome, desemprego, analfabetismo, nem opressão. Esta experiência histórica – recorda - ensina-nos que uma sociedade mais humana também é possível hoje para que todos tenham acesso aos bens necessários, sem que ninguém seja descartado".

"Amai a vossa Pátria, os vossos concidadãos e sobretudo amai os pobres. Deste modo sereis um testemunho perante o mundo de que é possível outro modelo de desenvolvimento", concluiu Francisco. (JE)








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