Rio de Janeiro (RV) - O mês de julho é pleno de memórias importantes: Congresso Eucarístico Internacional no Rio de Janeiro; visita do Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude; fundação no Brasil do Movimento Familiar Cristão no Rio de Janeiro, e a grande primeira visita do Papa São João Paulo II, permanecendo na cidade maravilhosa os primeiros dias do mês. Ele voltaria outras duas vezes: para o Encontro Mundial das Famílias e outra fazendo escala em sua viagem à Argentina. Vamos partilhar um pouco dessa sua primeira visita, que tanto marcou as nossas terras.
O pontificado de João Paulo II começou em 16 de outubro de 1978 e desde o início o Santo Papa quis ser peregrino, itinerante e missionário. Em seus 27 abençoados e fecundos anos de pontificado, realizou 104 viagens apostólicas aos cinco continentes. Povos de tantas raças, culturas, idiomas e religiões puderam abraçar e ser abraçados por esse incansável mensageiro da paz.
São João Paulo II sabia que o Brasil era o maior país católico do mundo. Uma graça especial, mas também uma vocação e compromisso. O desejo do Papa era conscientizar sobre a necessidade de promover uma cultura da solidariedade internacional, que constitui uma dimensão essencial do bem comum da comunidade mundial. O Brasil, tão católico, não poderia ficar de braços cruzados.
Antes mesmo de chegar ao Brasil, João Paulo II enviara uma mensagem saudando a Igreja local e seus Pastores, os governantes e responsáveis pelo bem comum, as famílias, os jovens, as crianças e os que sofrem. Dizia iniciar essas jornadas pobres de qualquer aparato humano e trazendo uma única riqueza: um grande afeto pelo povo brasileiro e o desejo profundo de proclamar o Evangelho e a vontade de contribuir na consolidação da fé cristã da nossa gente.
Ele foi o primeiro Papa que visitou nosso País, com apenas dois anos de pontificado.
Levou uma multidão de 4,5 milhões de católicos e não católicos às ruas e mexeu com
o Brasil. João Paulo II chegou em 30 de junho a Brasília, onde realizou o gesto célebre
de ajoelhar-se e beijar o chão, saudando a Terra que acabava de pisar. Até 11 de julho,
quando embarcou de volta ao Vaticano, passou por Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro
(RJ), São Paulo (SP), Aparecida (SP), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Manaus (AM),
Recife (PE), Salvador (BA), Belém do Pará (PA), Teresina (PI) e Fortaleza (CE).
A vinda ao Brasil em 1980 foi a sétima chamada “peregrinação internacional” de seu
papado. Pela tradição da Igreja, antes de João Paulo II somente um papa, seu antecessor
Paulo VI, havia viajado bastante e, mesmo assim, não tanto quanto ele.
João Paulo II chegou ao Brasil como profeta de Cristo para anunciar o Evangelho da
Vida e denunciar tudo aquilo que ferisse a dignidade humana em nosso País. Com o coração
em Deus e os pés na Terra de Santa Cruz convidou os brasileiros a trilhar as sendas
da justiça e misericórdia para superar os maiores flagelos da nossa Pátria.
Queremos recordar algumas frases de São João Paulo II naquela ocasião e que continuam
válidas ainda hoje: “Queira Deus que esta perspectiva ajude o Brasil a construir um
convívio social exemplar, superando desequilíbrios e desigualdades, na justiça e na
concórdia, com lucidez e coragem, sem choques nem rupturas. Este será certamente um
eminente serviço à paz internacional e, portanto, à humanidade”.
“Esta visita ao Brasil que agora começa a realizar-se, foi um sonho longamente acalentado.
Eu desejava por muitos diferentes motivos conhecer esta Terra”. “Venho porque este
País de imensa maioria católica traz evidentemente em si uma vocação peculiar no mundo
contemporâneo e no concerto das Nações. Em meio às ansiedades e incertezas e, por
que não dizê-lo?, aos sofrimentos e agruras do presente poderá gestar-se um País que
amanhã ofereça muito à grande solidariedade internacional”.
“O Papa pensa em cada um. Ele ama a todos e a todos envia um cumprimento bem brasileiro:
‘um abraço’! Com este gesto de amizade, recebei os meus votos de felicidades: Deus
abençoe o vosso Brasil. Deus abençoe a todos vós, brasileiros, com a paz e a prosperidade,
a serena concórdia na compreensão e na fraternidade. Sob o olhar materno e a proteção
de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil”.
No dia 04 de julho de 1980, João Paulo II fez em Aparecida várias orações voltadas
à Mãe de Deus e nossa. “Nossa Senhora Aparecida! Neste momento tão solene, tão excepcional,
quero abrir diante de Vós, ó Mãe, o coração deste povo, no meio do qual quisestes
morar de um modo tão especial”.
“Maria! Eu Vos saúdo e Vos digo “Ave” neste santuário, onde a Igreja do Brasil Vos
ama, Vos venera e Vos invoca como Aparecida, como revelada e dada particularmente
a ele! Como sua Mãe e Padroeira”!
Neste momento em que a imagem peregrina de Nossa Senhora Aparecida está percorrendo
as “periferias existenciais” de nossa Arquidiocese, convido a todos para, com São
João Paulo II, que possamos rezar confiantes, pedindo paz e concórdia para a nossa
amada cidade do Rio de Janeiro e em favor do êxito das Santas Missões que se iniciaram
no último domingo, e que marcou mais uma vez minha vida, com a necessidade de pedir
e rezar por essa cidade: “O Mãe! Acolhei em vosso coração todas as famílias brasileiras!
Acolhei os adultos e os anciãos, os jovens e as crianças! Acolhei também os doentes
e todos aqueles que vivem na solidão! Não cesseis, ó Virgem Aparecida, pela vossa
mesma presença, de manifestar nesta Terra que o Amor é mais forte que a morte, mais
poderoso que o pecado! Não cesseis de nos mostrar Deus, que amou tanto o mundo, a
ponto de entregar o seu Filho Unigênito para que nenhum de nós pereça, mas tenha a
vida eterna! Amém”.
Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
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