Revelações no Deserto, crônica do Pe. Olmes Milani


Abu Dhabi (RV) - Amigas e amigos da Rádio Vaticano, saudações de paz e esperança das Arábias.

Com a palavra deserto podemos classificar diversas situações relacionadas com a vida, a mística e a natureza. Quando falamos em deserto natural de areias ou gelo, dependendo da visão que temos, podem surgir sentimentos de esperança ou de desespero, de oportunidades para a reflexão ou de fuga, de criatividade ou retirada, de vida ou morte. A sobrevivência no deserto depende, em grande parte de conhecimento, prudência, sabedoria e cuidado. Poderíamos estar mais seguros no deserto se entendêssemos a linguagem da natureza. Fora de qualquer dúvida sob o aspecto científico podemos ter longas conversas sobre a natureza, mas é na convivência com ela que aprendemos o inter-relacionamento proveitoso. O som do chocalho é o aviso que a serpente cascavel nos dá: “Não se aproxime porque minha única defesa é picar”. O frio dos polos ou calor dos desertos são avisos para que cuidemos do nosso corpo que não está em condições de suportar temperaturas extremas, por muito tempo.

Infelizmente a tecnologia com seus avanços esqueceu-se de levar em consideração o relacionamento real com a natureza. Vivemos fechados em ambientes climatizados. Muitas das nossas crianças sabem que é inverno, dependendo se o equipamento climatizador está no botão inverno ou verão. O trilar dos passarinhos é conhecido pelas gravações. As flores serão conhecidas por fotos ou amostras. Ninguém precisa sair de casa para ver alguma coisa. Já encontrei pessoas que descrevem perfeitamente bem, os edifícios futuristas de Dubai sem nunca terem estado aqui.

É muito diferente a sensação de quem tem contato direto com os elementos da natureza. Tanto na história do judaísmo como no cristianismo e islamismo, percebemos que seus grandes líderes, profetas e patriarcas mantiveram uma ligação de intimidade com o deserto. Foi lá onde receberam as revelações divinas.

Os israelitas, ao sair do Egito, sentiram fortemente a passagem de uma região fértil e verde, para o deserto da península do Sinai. No início de sua jornada, até preferiam voltar à escravidão. Porém, com a ajuda de Deus, obtiveram água e comida para a vida no deserto. Foi no deserto que receberam a lei e se transformaram em povo com sua legislação.

João Batista prepara o início da Missão de Cristo, no Deserto. O próprio Cristo retira-se no deserto onde permanece 40 dias em jejum, antes de dar início aos seus trabalhos.

O profeta Maomé dos muçulmanos, desde jovem, retirava-se nas cavernas das montanhas desertas, perto de Meca. Durante um passeio pelo deserto, Maomé teria ouvido chamar seu nome.  Foi então que, segundo a tradição islâmica, recebeu do Arcanjo Gabriel os escritos que compõem o livro do Alcorão.

O deserto natural, como aquele do estado de espírito, para a contemplação, longe da agitação e poluição sonora urbana, pode ser a situação ideal para abrir-nos ao amor, esperança e felicidade.

Amigos e amigas, caminhamos pelas veredas da vida sob o olhar bondoso do Pai supremo.

“Ele guiou seu povo pelo deserto, porque o seu amor é para sempre!” (Salmo 136,16).

Até a próxima.

Missionário Olmes Milani CS, das Arábias para a Rádio Vaticano.

 

 

 








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