Laudato Si, uma Encíclica global, diz Pe. Spadaro


Cidade do Vaticano (RV) – “Não podemos considerar a natureza como algo separado de nós ou como um mero ambiente de nossa vida”. Esta é uma das passagens da Encíclica ‘Laudato Si’, documento que coloca em primeiro plano a urgência da promoção de uma ecologia integral que compreenda as dimensões humanas e sociais. A Rádio Vaticano conversou com Padre Antonio Spadaro, Diretor da “Civiltà Cattolica”, revista que dedicou sua última edição inteiramente à Encíclica:

“Me tocou muito a visão de mundo que o Papa propõe: uma visão global, ampla, que sublinha as diferenças que existem entre os seres vivos, e também as ligações, as relações... O mundo para o Papa Francisco é um ambiente, não é um objeto a ser tratado. Portanto, eu diria, uma visão muito positiva da realidade, examinada também no seu detalhe: fala dos insetos como fala dos átomos, mas tudo como uma grande rede de relações; uma visão pragmática mas que sabe também ser muito poética. Me toca muito desta Encíclica também uma visão do mundo que certamente é antropológica, mas não antropocêntrica: ou seja, o papel do homem não é o de um dominador, mas é o de um protetor. O Papa mais vezes apela à uma conversão ecológica, isto é, quer que o homem descubra ser custódio de um dom precioso. E esta não é uma coisa excepcional, e não é nem mesmo um aspecto secundário da experiência cristã; diz claramente que o cuidado pelo ambiente é parte integrante da vida cristã: não fazê-lo é pecado”.

RV: O que existe de novo neste documento que, seguramente, se insere no âmbito da tradição da Doutrina Social da Igreja, porém, evidentemente existem também originalidades...?

“Talvez a coisa mais interessante, mais notável, é que a questão ambiental com esta Encíclica, torna-se parte integrante da Doutrina Social da Igreja, torna-se um capítulo da doutrina social. A questão, portanto, não é mais, a partir de agora, se os católicos devem enfrentar questões de ecologia em uma perspectiva de fé, mas o problema é como fazê-lo e não se fazê-lo. Neste sentido, o Papa Francisco propõe aquilo que ele define como uma “revolução cultural”. Eu a compararia à Rerum Novarum de Leão XIII. No centro dela estava a questão operária, aqui, o ambiente”.

RV: Como na Evangelii gaudium, são tantos os documentos das Conferências episcopais citados. Poder-se-ia falar de uma Encíclica com uma alma sinodal?

“Absolutamente sim! Eu diria uma alma colegial, plural, mas também ecumênica e inter-religiosa. São citadas as Conferências Episcopais locais, portanto, toda a Igreja participa neste documento tão importante do Pontificado: um documento “aberto” – poderíamos dizer quase open source. Mas sabemos que é também ecumênico, porque o Papa cita o Patriarca Bartolomeu, como também cita um místico islâmico, portanto, existe uma ponte muito clara com as outras religiões: o Papa apela a todas as religiões para que se mobilizem”.

RV: A ‘Laudato Si’ é um documento que olha para uma ecologia integral, ambiental, econômica, social...

“Sim, a característica desta Encíclica é que é realmente ampla e profunda. A ‘Laudato Si’ é uma Encíclica social, não somente ecológica; enquadra, de fato, a vida do homem sobre a terra ligando pobreza e fragilidade do planeta. Neste sentido cumpre uma opção preferencial pela “terra pobre”, reitera que é necessário vencer uma cultura do desperdício em favor de uma cultura do cuidado, proteção. Portanto, na realidade, é uma Encíclica global, que trata da vida do homem sobre a Terra”.

RV: Em setembro, o Papa Francisco falará às Nações Unidas, em Nova York, na Assembleia Geral. Esta Encíclica, de alguma forma antecipa e amplifica também a importância deste aguardado evento?

“O Papa vê um mundo interdependente e esta ligação nos obriga a pensar a um só mundo, um só projeto comum, propondo soluções a partir não de uma perspectiva pequena e local, mas de uma perspectiva global. Para o Papa, os encontros de cúpula mundiais sobre o ambiente dos últimos anos não foram suficientes, não responderam – o diz com clareza na Encíclica – às expectativas por uma falta de decisão política. Portanto, são necessárias formas, instrumentos eficazes de governança global para tratar os problemas comuns. Certamente o Papa terá muito material a ser tratado na sede da ONU”. (JE)

 








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