A perspectiva ecumênica na mensagem dos bispos brasileiros


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço Memória Histórica, 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos tratar na edição de hoje da primeira parte da mensagem dos bispos brasileiros após a III Sessão conciliar: o Diálogo interno na Igreja e o Diálogo com os irmãos separados.

Esta segunda mensagem dos bispos dirigida ao povo brasileiro – visto que ao final da I Sessão não foi divulgada nenhuma mensagem coletiva – concretiza-se num momento muito particular. Ela foi divulgada após o golpe militar de 1964, que trouxe profundas mudanças no cenário político do país, e após as eleições da CNBB, durante a VI Assembleia realizada em Roma durante a III Sessão do Concílio, de 26 de setembro a 16 de novembro de 1964.

A eleição realizada em 28 e 29 de setembro no Colégio Pio Brasileiro, encerrou o período de doze anos de Dom Helder Câmara à frente da Secretaria Geral - ocupada por ele desde a criação da entidade - e também uma certa hegemonia dos bispos do nordeste. Assim, a decisão de enviar uma mensagem ao final da III Sessão foi tomada em reunião da nova Comissão Central da CNBB, em 6 de novembro de 1964. O Secretário Geral sugeriu que o grupo encarregado de elaborar o texto fosse escolhido de forma a refletir as várias tendência dos plenários. Foram assim designados Dom João Resende Costa, Dom Clemente Isnard, Dom Cândido Padin e Dom Aloísio Lorscheider.

A mensagem mantém o eixo central em torno do tema do diálogo, apresentado agora como diálogo interno da Igreja, diálogo com os irmãos separados, diálogo com o mundo de hoje.

No diálogo interno na Igreja, a mensagem insiste sobre a dimensão pastoral e ecumênica da constituição sobre a Igreja, apontando como sinais desta nova atitude de diálogo e abertura, o próprio Concílio, a viagem de Paulo VI à Terra Santa para o encontro com o Oriente cristão, muçulmano e israelita e a viagem à Índia, num gesto sem medida de compreensão e amor para com o mundo das grandes religiões asiáticas.

O documento dos prelados brasileiros apresenta o diálogo com os irmãos separados – a partir do Decreto sobre o Ecumenismo – como "um novo estilo de relações que deve orientar a atitude dos católicos para com os irmãos não-católicos. A presença no Concílio de observadores não-católicos, bispos orientais e bispos de países de maioria protestante, levou os bispos brasileiros a declararem que "é realmente justo considerarmos mais o que nos une do que o que nos separa".

Neste ínterim, era necessária uma grande sensibilidade e prudência dos bispos brasileiros, visto a secular orientação anti-protestante do catolicismo brasileiro e do forte anti-catolicismo da maior parte das igrejas oriundas do protestantismo de missão ou do movimento pentecostal. Assim, sentem-se na obrigação de defender e explicar o decreto:

"Não se trata de um perigoso irenismo em que se fazem concessões doutrinais em troca de uma falsa paz; nem de indiferentismo que afirme que todas as religiões são boas, que todas as confissões cristãs são legítimas. A Igreja tem certeza de estar em posse da verdadeira doutrina de Cristo, não vacila diante de sua posição e deseja que todos venham integrar-se com Ela na unidade verdadeira da fé. Convida, no entanto, a uma atitude de compreensão, de diálogo, de caridade, reconhecendo o que há de bom nas comunidades cristãs dissidentes. Vamos caminhar juntos pelo amor e respeito. A lealdade, a firmeza e a humildade no diálogo farão cair muitas barreiras. E aparecerão facetas novas da verdade a iluminar o caminho da verdade".

O diálogo ecumênico, no entanto, ainda gerava temor e algumas restrições, como se lê na mensagem: "Os diálogos ecumênicos evidentemente são reservados à pessoas devidamente credenciadas pela cultura e pela aprovação da Igreja; os simples fiéis podem também concorrer para facilitar este diálogo por meio de uma renovação interior da própria vida cristã, rezando pelos irmãos separados, evitando um eventual clima de acusações e ofensas e colaborando quando for possível, em obras de assistência social".

FONTE: Padres Conciliares Brasileiros no Vaticano II: Participação e Prosopografia. 1959-1965.  José Oscar Beozzo








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