Papa: combater escravidão do consumismo para derrotar a fome


Cidade do Vaticano (RV) – O problema da fome e como derrotá-lo estiveram no centro do discurso que o Papa fez na manhã desta quinta-feira (11/06), ao receber cerca de 450 participantes da 39ª Conferência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em andamento em Roma até o dia 13 de junho.

Em seu discurso, Francisco saudou de modo especial o Diretor-Geral da FAO, José Graziano da Silva, reeleito para um novo mandato à frente da instituição no decorrer da Conferência.

“O acesso ao alimento necessário é um direito de todos e os direitos não permitem exclusões”, afirmou o Papa, recordando que o combate à fome não se faz somente através de estratégias e planejamentos, mas é ação e um imperativo que não se pode delegar a terceiros.

“Ás vezes a sensação é de que a fome seja um argumento impopular, um problema irresolvível, que não encontra soluções no arco de um mandato legislativo ou presidencial e, portanto, não garante consensos. Falta vontade de assumir compromissos vinculantes”, advertiu o Papa, que criticou também a disparidade de situação entre o Sul e o Norte do mundo. No Sul, debate-se ainda sobre a quantidade de alimentos, enquanto o Norte preocupa-se com a qualidade.

Desperdício

O Pontífice declara-se preocupado com as estatísticas sobre o desperdício, pois um 1/3 dos alimentos produzidos acaba no lixo. Os produtos da terra têm um valor que poderíamos dizer “sagrado”, afirmou o Papa, porque é fruto do trabalho cotidiano de pessoas, famílias e comunidades de camponeses. “É preciso então tentar assumir com mais decisão o esforço para modificar os estilos de vida. A sobriedade não se opõe ao desenvolvimento, pelo contrário, é evidente que se tornou a sua condição.”

Outro motivo de preocupação para Francisco são as mudanças climáticas, que levam ao deslocamento forçado de populações e a tantos dramas humanitários por falta de recursos. Um desses recursos é a água, que já se tornou causa de conflitos. “Não basta afirmar que existe um direito à água sem agir para tornar sustentável o consumo deste bem e eliminar todo desperdício.”

Empresas transnacionais

Além da água, o Pontífice apontou para a posse das terras cultiváveis, que estão sempre mais destinadas a empresas transnacionais. Para ele, esta política não só priva os agricultores de um bem essencial, mas ameaça diretamente a soberania dos países.

“São muitas as regiões em que os alimentos produzidos vão para o exterior e a população local se empobrece duplamente porque não tem nem alimentos nem terra. E que dizer das mulheres que em muitas regiões não podem possuir os terrenos que cultivam, com uma disparidade de direitos?” E sabemos que no mundo a produção mundial de alimentos é em grande parte obra de empresas familiares”, disse o Papa, pedindo para que a FAO reforce os projetos em favor das famílias.

Como derrotar a fome

Nestes esforços da FAO, Francisco garantiu o suporte da Igreja e de suas instituições e concluiu:

“Devemos começar pela nossa cotidianidade se quisermos mudar os estilos de vida, conscientes de que os nossos pequenos gestos podem garantir a sustentabilidade e o futuro da família humana. E depois continuemos a luta à fome sem segundos fins! As projeções da FAO dizem que até 2050, com nove bilhões de habitantes no planeta, a produção deve aumentar e até mesmo duplicar. Ao invés de nos impressionarmos diante dos dados, modifiquemos a nossa relação com os recursos naturais, com o uso dos terrenos, os consumos, sem cair na escravidão do consumismo, eliminando o desperdício: assim derrotaremos a fome."

(BF)








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