Papa encontrou crianças doentes, na Casa Santa Marta, e meditou sobre o sofrimento


Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco recebeu, na tarde desta sexta-feira (29/5), na Capela da Casa Santa Marta, onde reside, no Vaticano, um grupo de crianças gravemente doentes, acompanhadas pelos pais e alguns voluntários e responsáveis da UNITALSI, um organismo que leva doentes em peregrinação ao Santuário de Lourdes, na França.

O Santo Padre se aproximou, com carinho das crianças, de idade entre os 7 e os 14 anos, mas também de 2 ou 3 anos. Algumas dirigiram sua saudação ao Papa, em nome das demais.

Por sua vez, Francisco aproveitou a ocasião para fazer uma profunda meditação sobre o mistério do sofrimento dos menores, no seio da sociedade, dizendo: “Não há explicação... é um mistério! Imagino a reação de Nossa Senhora, quando puseram em seu colo o corpo morto de seu filho, ensanguentado, maltratado... Sua Mãe o acariciou, apesar de não entender”.

Então, o Pontífice convidou os pais das crianças presentes a não terem medo de interrogar ao Senhor, para receber uma resposta aos seus tantos “por quês”? Por que as crianças sofrem? E o Papa insistiu com os pais:

“Não tenham medo de perguntar ‘por que?’, até mesmo de desafiar o Senhor... a única explicação que ele poderá dar aos seus tantos por quês será ‘também meu Filho sofreu’! O Senhor não responderá com palavras, mas, a coisa mais importante é que sentiremos o seu olhar de ternura sobre nós, que nos dará a força de seguir adiante.

O Papa expressou sua admiração pelos pais, que tiveram a coragem de rejeitar o aborto, que é uma falsa solução do problema do sofrimento, e elogiou o seu “heroísmo” em aceitar o sofrimento dos seus filhos e em se preocupar pelo destino e futuro incertos deles.

Enfim, o Santo Padre prometeu as suas orações a todas as crianças e seus pais, para que o Senhor possa dar-lhes a justa consolação, da qual precisam. E concluiu, encorajando-os, mais uma vez, a dirigir-se ao Senhor, com insistência e confiança.

O encontro com o Papa, na Capela Santa Marta, no Vaticano, terminou, após uma hora, com a oração da Ave Maria e com a sua Bênção Apostólica. Ao se despedir, Francisco se entreteve, mais um pouco, com as  crianças presentes, seus pais e acompanhantes. (MT)

Eis as palavras do Papa na íntegra:

 

Boa tarde a todos.

Se acomodem, se acomodem...!

Comecemos com uma oração ao Senhor (récita do Pai Nosso)

Quando, na catequese, nos ensinaram sobre a Santíssima Trindade, nos disseram que era um mistério, que sim, tem o Pai, o Filho, o Espírito Santo, mas que não se podia entender tudo. É verdade, temos as provas de que é verdade, mas entende-lo, é outra coisa. As provas as temos. Também aqui, se olhamos Jesus, a Eucaristia, naquele pedaço de pão está Jesus, é verdade. Mas como é isto? Não entendemos como possa...mas é verdade, é Ele. É um mistério, digamos! E assim, se fizermos algumas perguntas da catequese, não se pode explicar profundamente, mas temos as provas.

Também existe uma pergunta que não se aprende a explicação na catequese. É a pergunta que tantas vezes eu me faço e tantos de vocês, e tanta gente faz: “Por que as crianças sofrem?”. E não existem explicações. Também isto é um mistério. Olhando para Deus eu pergunto: ‘Mas por que?”. E olhando para a Cruz: “Por que o teu filho está alí? Por que? É o mistério da Cruz.

Tantas vezes eu penso na Nossa Senhora, quando deram a ela o corpo morto de seu Filho, todo ferido, cuspido, ensanguentado, sujo. E o que fez Nossa Senhora? “Levem-no embora? “. Não, o abraçou e o acariciou. Também Nossa Senhora não entendia, hein! Porque ela, naquele momento, recordou aquilo que o Anjo lhe havia dito: “ Ele será Rei, será grande, será profeta” e dentro de si, seguramente, com aquele corpo assim ferido, com tanto sofrimento antes de morrer, nos braços, dentro dela, seguramente teria tido o desejo de dizer ao Anjo: “Mentiroso! Eu fui enganada”. Também ela não tinha respostas.

Quando as crianças crescem, chegam a uma certa idade que não entendem bem como é o mundo, pelos dois anos, mais ou menos. E começam a perguntar: “Papai, por que? Mamãe, por que? Por que?”. E quando o pai ou a mãe começam a explicar, as crianças não escutam e vem um outro “por que?”, “por que aquilo?”. E elas não querem ouvir a explicação. Somente com este ‘por que’ chama a atenção para si do papai e da mamãe. Nós podemos perguntar ao Senhor: “mas Senhor, por que? Por que as crianças sofrem? Por que esta criança?”. O Senhor não nos dirá palavras, mas sentiremos o seu olhar sobre nós e isto nos dará força.

Não tenham medo de perguntar, mesmo de desafiar o Senhor. “Por que?”. Talvez não virá nenhuma explicação, mas o Seu olhar de Pai te dará força para seguirem em frente. E também te dará aquela coisa estranha da qual falou este irmão na sua experiência: um sentimento diverso, um sentimento estranho (ndr – o Papa se refere ao testemunho recém dado pelo pai de uma criança doente). E talvez este sentimento de ternura pelo teu filho doente será a explicação, porque é o olhar do Pai. Não tenham medo de pedir a Deus “Por que?”, desafiando-o: “Por que?”, sempre que estiverem com o coração aberto para receber o seu olhar de Pai. A única explicação que poderá te dar será: “Também o meu Filho sofreu”. Mas esta é a explicação. A coisa mais importante é o olhar. E a vossa força está alí: no olhar amoroso do Pai.

“Mas o senhor que é Bispo – vocês poderiam perguntar – que estudou tanta teologia, não tem nada a mais para nos dizer?”. Não. A Trindade, a Eucaristia, a graça de Deus, o sofrimento das crianças são um mistério. E somente se pode entrar no mistério se o Pai nos olha com amor. Eu, realmente, não sei o que dizer para vocês, porque tenho tanta admiração pela vossa fortaleza, pela vossa coragem. Tu disseste que te aconselharam o aborto. Disseste: “Não, que venha, tem o direito de viver”. Nunca, nunca se resolve um problema tirando uma pessoa. Nunca. Esta é a regra dos mafiosos. “Existe um problema, demos um jeito nesta pessoa, hein”...nunca!

Eu vos acompanho assim como sou, como sinto. E realmente eu não sinto uma compaixão momentânea, não. Eu vos acompanho com o coração neste caminho, que é um caminho de coragem, que é um caminho de cruz, e também um caminho que a mim faz bem, o vosso exemplo. E vos agradeço por serem assim corajosos. Tantas vezes, na minha vida, fui covarde, e o vosso exemplo me fez bem, me faz bem. Porque as crianças sofrem? É um mistério, é necessário chamar Deus como o filho chama o seu papai e diz: “Por que? Por que?”, atrair o olhar de Deus que é a única coisa que nos dirá: “Mas olha meu Filho, também”.

Que em um mundo onde é tão cotidiano viver a cultura do descarte, aquilo que não está bem se descarta, vocês trazem esta – me permito dizer, mas não quero fazer uma adulação, não, é do coração  que o digo – esta heroicidade. Vocês são pequenos heróis da vida. Eu ouvi tantas vezes a grande preocupação de pais e mães como vocês e estou seguro que é a vossa: que o meu filho não permaneça sozinho na vida, que a minha filha não permaneça sozinha na vida. Talvez é a única ocasião na qual os pais pedem ao Senhor de chamar antes o filho, para que não permaneça sozinho na vida. E isto é amor.

Vos agradeço por vosso exemplo. Não sei o que dizer mais, realmente, porque estas coisas me tocam tanto. Também eu não tenho respostas. “Mas o senhor é o Papa, deve saber tudo!”. Não, para estas coisas não existem respostas, somente o olhar do Pai. E depois, o que faço? Rezo, por vocês, por estas crianças, pelo sentimento de alegria, de dor, tudo misturado, do qual falou nosso irmão. E o Senhor sabe consolar esta dor de modo especial. Que seja ele a dar a consolação justa a cada um de vocês, aquela da qual vocês tem necessidade.

Obrigado pela visita, obrigado, obrigado.

O Padre Joannis (ndr – Mons Gaid, um dos dois secretários particulares do Papa, que acompanhou o grupo), que é um pouco especial, vocês o conhecem, me sugeriu de vos contar uma história. Talvez vos ajudará a olhar o Senhor. Tinha uma criança que brincava, alí. O pai o olhava pela janela do terceiro andar e a criança queria mover uma pedra grande, mas não conseguia, era muito pesada. Depois a criança, inteligente, foi pegar um instrumento de ferro para movê-la e não conseguia, depois chamou seus companheiros e queria movê-la com os companheiros, e não conseguiam porque era uma pedra pesada. E eles queriam movê-la para brincar alí, naquele lugar e por fim, o pai que olhava tudo pela janela desceu, e com muita força e com o instrumento de ferro levou embora a pedra. E a criança repreendeu-o: ‘mas papai, você viu que eu não conseguia?”. “Sim”. ‘E por que não veio antes?”. “Por que não me chamaste”.

Não esqueçam isto: chamar o Senhor. Ele saberá como virá, quando virá e esta será a vossa consolação. Rezem por mim também. Obrigado.

Rezemos para Nossa Senhora....Ave Maria....

Bênção 








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