Editorial: Um jardim chamado Terra


Cidade do Vaticano (RV) - Grande expectativa pela publicação da Encíclica do Papa Francisco dedicada à ecologia humana prevista para as próximas semanas. Uma expectativa que cresce junto com a necessidade de uma maior atenção à criação e ao ser humano. Dois pontos que certamente estarão presentes na Encíclica são a preocupação pela salvaguarda da Criação e a salvaguarda por uma ecologia e uma antropologia sãs. As duas caminham juntas, não se pode deixar de lado a salvaguarda da Criação e depois pretender cuidar da vida humana, do seu bem-estar, da sua saúde.

A temática da salvaguarda da Criação não é recente na Igreja, recordamos que já Paulo VI e João Paulo II chamaram a atenção para a questão ecológica, para uma conversão ecológica. O que está neste momento fazendo o Papa Francisco, é amplificar esta questão e este tema, pois é evidente que o homem moderno não cuida da criação; são muitas as provas do efeito deste tratamento abusivo do ambiente. O Cardeal Peter Turkson falando tempos atrás à Rádio Vaticano afirmou: “se a Bíblia utiliza o paradigma do “jardim” quando fala da Terra, isso nos convida a conservar a sua beleza mas também a sua delicadeza e a possibilidade de destruir esse jardim, transformando-o em um deserto”.

Os temas do crescimento econômico junto com a sustentabilidade ecológica devem caminhar juntos. Nós como herdeiros de Deus nesta terra, que nos foi dada como dom a ser preservada, temos a obrigação de conservá-la do melhor modo possível; por isso os seus recursos devem ser protegidos e acessíveis a todos, inclusive aos pobres e às novas gerações.

Os mais críticos ao paralelismo do tema, “economia-meio ambiente”, salientam o temor que a sustentabilidade ecológica possa reduzir o crescimento econômico. Uma relação inevitável, mas que pode ser administrada muito bem, através do respeito da dignidade da pessoa, do seu trabalho e da “boa riqueza” que deve ser redistribuída de modo equânime. Neste diálogo, muitas vezes “de surdos”, é preciso encorajar o mundo econômico, os empresários a reconhecerem o fato de que é preciso preservar a Criação; a ecologia não significa acabar com a economia, com as empresas. Os produtos que ela realiza, se forem bons, responderão às necessidades das pessoas, ás suas exigências e não somente ao lucro.

Certa vez em uma mensagem a um encontro sobre o tema da globalização, o Secretário de Estado Vaticano, Cardeal Pietro Parolin afirmou que “quando o futuro do planeta está em jogo, não existem fronteiras políticas, barreiras ou muros atrás dos quais podemos nos esconder dos efeitos da degradação ambiental e social”. Portanto, não há espaço - como recorda sempre o Papa Francisco – para a “globalização da indiferença”, da economia de exclusão, da “cultura do descarte”.

Francisco nos diz que devemos olhar para a Criação, mas também devemos olhar para ela com algo que inclui o desenvolvimento humano. Não se trata somente da proteção da Terra, da água, do céu e do ar, mas também do homem. Por isso é necessário um trabalho conjunto para criar uma ecologia humana sustentável.

Dois temas que na sua complexidade centralizam a atenção pois em qualquer modo ameaçam o bem-estar da humanidade de hoje e do futuro: temas que tocam o abismo entre ricos e pobres e o abismo entre o homem e natureza. Com a sua Encíclica, Francisco certamente irá contribuir de maneira eficaz para diminuir este abismo. Estamos consumindo o nosso planeta e não só isso, a nossa passagem neste momento está sendo erosiva, destrutiva para o ambiente, nossa responsabilidade no âmbito climático está atingido e ameaçando o nosso futuro.

Por isso, retomamos o discurso de uma necessária “conversão ecológica” que a Igreja há tempos prega, uma conversão do homem, da sua maneira de se comportar em relação ao universo que nos circunda. Portanto, a conversão, a mudança do nosso relacionamento com a Criação é, podemos dizer, a conversão de nós mesmos, do nosso coração, dos nossos sentimentos em relação ao meio-ambiente, em relação ao “jardim” chamado Terra. E a vida do homem depende desse jardim. Aguardamos com ansiedade a Encíclica de Francisco que certamente irá nos iluminar. (Silvonei José)








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