Mapa da fome: bolsões de pobreza estão na África e na Ásia


Roma (RV) - O relatório anual das Nações Unidas sobre a fome no mundo foi apresentado nesta terça-feira (27/05) na sede da FAO, em Roma. Bolsões de fome se concentram na África e na Ásia em contraste com outras regiões que já atingiram a meta de desenvolvimento do milênio em reduzir pela metade o número de famintos nos últimos 25 anos. O Brasil está fora do mapa da fome desde o ano passado. O Diretor-Geral da FAO, José Graziano da Silva, destaca os programas que se tornaram modelos da política externa brasileira.

As estimativas indicam que hoje 795 milhões de pessoas ainda passam fome no mundo. Na última década, contudo, mais de 167 milhões saíram do mapa da fome. No total, em 25 anos, o número de famintos foi reduzido em 216 milhões. A África, todavia, tem hoje de acordo com a FAO, mais de 220 milhões de pessoas famintas, o que representa 23% da população do continente. Enquanto o mundo caminha para erradicar a fome, velhos problemas bloqueiam o progresso africano, afirmou o diretor geral da FAO, José Graziano da Silva.

“Nós temos algumas regiões que, definitivamente, ficaram para trás: o Oriente Médio, basicamente os países que estão em conflito (Síria, Iraque e Iêmen) e a África central subsaariana, são as regiões que concentram a fome no mundo”.

África flagelada 

De acordo como relatório da fome no mundo deste ano, 72 de 129 países em desenvolvimento atingiram a meta de desenvolvimento do milênio em reduzir pela metade o número de famintos a partir de 1990. Muitos destes países estão, paradoxalmente, no continente africano.

“Na costa atlântica da África, nós temos países como Angola e também Cabo Verde que fizeram progressos notáveis nos últimos anos. Alguns países que foram destruídos pela guerra civil, caso de Angola, que se recuperaram, e que utilizaram os recursos da produção mineral entre elas o petróleo, para promover o desenvolvimento, inclusive o desenvolvimento rural”.

Os países africanos se comprometeram ao assinar o Tratado de Maputo, em 2003, investir 10% do orçamento em desenvolvimento de agricultura o que teria reflexos diretos na luta contra a fome. Todavia, esse percentual não chegou, em média, a sequer a 2%.

“Toda a África tem este potencial, a África hoje precisa de paz em primeiro lugar, mas precisa também de um desenvolvimento mais inclusivo, de um compromisso maior dos governantes com o desenvolvimento interno de seus países”.

Desenvolvimento rural 

Ao recordar que a maior parte da produção na África vem dos pequenos produtores rurais, especialmente mulheres, Graziano destaca uma iniciativa que deu certo no Brasil e que, aos poucos, começa a ser implementada no continente africano por meio de programas da FAO. O programa PAA, Compras de Africanos para a África, tem garantido que parte da produção destes pequenos agricultores seja vendida.

“A aquisição direta do governo por um preço justo diretamente dos agricultores familiares veio propiciar o acesso ao mercado que eles não tinham. Isso hoje tem muito êxito na África e nós estamos preparando para implementar em outros países da Ásia como, por exemplo, o Timor-Leste.

Modelo brasileiro

O Brasil está fora do mapa da fome desde 2014. O País agora se prepara para cumprir uma agenda de desenvolvimento sustentável internacional que prevê, entre outros compromissos, a erradicação completa da fome no mundo até 2050.

“Sem dúvida uma das experiência mais exitosas que nós temos para mostrar ao mundo é o caso brasileiro: pela rapidez com a qual se logrou – praticamente – erradicar a fome e pela amplitude, atingiu todo o País. O Brasil tem hoje um número insignificante (de famintos) para nós, menos de 5% da população, localizado em algumas regiões muito específicas. Isso se deve a um conjunto de políticas ativas promovidas pelo governo antes sob a bandeira do Fome Zero e hoje Brasil sem Miséria. Isso inclui a busca ativa, por exemplo, uma política inovadora de ir atrás das pessoas que precisam, não ficar esperando que elas venham bater na porta do governo”.

Graziano considera “ícones da política externa do Brasil” programas que hoje são adaptados às mais diversas realidades nacionais em várias partes do mundo.

“O programa de merenda escolar que é adotado em praticamente toda a América Latina, baseado na experiência brasileira, outros já implementando compras locais – de preferência na agricultura familiar. E o PAA que é, sem dúvida, o programa mais exitoso de agricultura familiar”. (RB)








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