Editorial: O rosto da paz


Cidade do Vaticano (RV) - “A paz não é um produto industrial, a paz é um produto artesanal”: a afirmação é do Papa Francisco feita no início desta semana, quando ele recebeu na Sala Paulo VI, no Vaticano, mais de 7 mil crianças provenientes de escolas de toda a Itália, e que aderiram ao projeto educativo da Fundação “Fábrica da paz”. Chama a atenção essas palavras destinadas aos pequeninos que o rodearam em festa na grande Sala Nervi, pois quando pensamos em “fábrica” pensamos imediatamente em algo mecânico, em indústria de transformação. Mas o próprio Papa nos dá a diferença: as fábricas da paz e da guerra são construídas todos os dias, mas a diferença está no fato de que a casa da paz é um laboratório artesanal e a da guerra é uma indústria. A casa da paz busca a pessoa com gestos de fraternidade e acolhida, a da guerra a destrói por avidez e dinheiro.

A Sala Paulo VI, teatro de inúmeros encontros do Papa com os peregrinos, parecia mais uma sala de aula em um dia de festa, e Francisco, mestre na comunicação, deixou-se contagiar pelos pequenos operários da “Fábrica da paz”, que o envolveram com músicas e entusiasmos irrefreáveis, chegando a presenteá-lo com um capacete branco. Dispararam perguntas, no total 13, como metralhadoras, às quais o catequista vestido de branco respondeu, uma a uma, iniciando pela mãe de todas: “como se faz a paz”.

A paz se constrói todos os dias, “querendo-se bem”, mas a paz não existe onde “não há justiça” e onde prosperam os traficantes de armas.

A paz se constrói todos os dias com o nosso trabalho, com a nossa vida, com o nosso amor, disse Francisco, com a nossa proximidade, como o nosso querer-se bem. O que acaba com a paz é o não querer-se bem, é o ciúme, a inveja, a avidez. Discorrendo o elenco de perguntas o Santo Padre, com ternura, responde aos pequenos que propõem grandes questões que tocam diretamente o homem de hoje, o homem moderno.

As perguntas falam da atualidade de milhões de pessoas, e as crianças têm a oportunidade de conversar com Sucessor de Pedro e tocar a tecla que traz aos ouvidos sons de guerra e sofrimento: por que acolher o imigrante é tão difícil? Por que os poderosos não ajudam a escola? Francisco alarga seu horizonte e se pergunta por que tantas pessoas poderosas não desejam a paz? A resposta brota com uma cascata límpida: “porque vivem das guerras! A indústria das armas é a indústria da morte. Tem-se mais lucro com a guerra. Ganha-se mais dinheiro com a morte; perdem-se vidas, perde-se tudo. O Pontífice recordou um sacerdote idoso: “o diabo entra pela carteira de dinheiro”.

Para construir um mundo de paz é preciso começar do nosso mundo, do nosso ambiente, da nossa família. É necessária a ajuda de todos para construir um futuro melhor. O Papa exortou então as crianças da ‘Fábrica da paz’ a não se renderem diante das dificuldades e incompreensões, um conselho que vale também para os adultos. “Se vocês brigarem com seus coleguinhas, façam logo a paz, e peçam desculpas aos pais e amigos quando fizerem algo de errado”. “O verdadeiro construtor da paz é aquele que dá o primeiro passo em direção do outro. Isso não significa fragilidade, mas força, força da paz”.

A pergunta nasce espontânea: como acabar com as guerras no mundo, se não somos capazes de superar as nossas pequenas incompreensões e brigas? As nossas ações de diálogo, perdão e reconciliação são tijolos que servem para construir o edifício da paz.

O Pontífice destacou ainda outra realidade, a das pessoas que buscam novos horizontes de vida e se aventuram em longas viagens, muitas vezes terminadas em tragédias. Diante de pessoas provenientes de etnias diferentes, que possuem outras tradições e religiões, - uma realidade muito atual neste momento na Europa -, o comportamento deve ser de conhecimento e diálogo para a inclusão de todos, no respeito das leis do Estado. E a receita de Francisco: “para construir um mundo de paz é indispensável se interessar pelos pobres, sofredores e abandonados”. Amar os outros, especialmente os desfavorecidos, significa testemunhar que cada pessoa é um dom de Deus. 

Todos temos os mesmos direitos. Quando não se vê isso, o mundo é injusto, e onde não há justiça, não pode existir paz. Uma frase que o Papa pediu às crianças que repetissem várias vezes com ele, para que o mundo, fora da Sala Paulo VI, pudesse ouvir e entender, que todos somos iguais, com os mesmos direitos.

A paz tem um rosto e um coração, disse Francisco, o rosto e o coração de Jesus, o Filho de Deus que morreu na cruz e ressuscitou para doar a paz a todo ser humano e a toda a humanidade. Jesus é a paz porque abateu o muro do ódio que separa os homens. (Silvonei José)








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