Editorial: O coração do Evangelho


Cidade do Vaticano (RV) – Nesta última semana tivemos uma visão mais ampla do que será o próximo Jubileu, o Ano da Misericórdia, convocado pelo Papa Francisco. De fato, na última terça-feira foram apresentadas, no Vaticano em linha de máxima, as atividades e eventos que irão acompanhar este “ano de graça”. Os detalhes foram expostos pelo Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, Dom Rino Fisichella – responsável pela organização do evento.

A primeira constatação que temos deste Jubileu da Misericórdia é que não será um evento como o do Grande Jubileu do Ano 2000, que certamente todos recordam. Um Ano que trouxe a Roma milhões de pessoas de todas as partes do mundo. A Cidade Eterna, na virada do milênio, se transformou realmente na meta de milhões de católicos, que ao longo dos 365 dias de graça, realizaram a sua peregrinação para atravessar as “Portas Santas” abertas nas quatro Basílicas papais de Roma e Vaticano. Todavia, o Jubileu da Misericórdia, convocado pelo Papa Francisco, fora das datas tradicionais, ou seja, de 25, 50 anos, virada de século, é a expressão do desejo do Santo Padre de antecipar os tempos, os sinais dos tempos, devido à grande necessidade que a humanidade tem hoje de misericórdia. “Pensei muitas vezes no modo como a Igreja pode tornar mais evidente a sua missão de ser testemunha da misericórdia. É um caminho que começa com uma conversão espiritual; e devemos fazer este caminho”, disse o Papa na convocação.

Vivemos na atualidade momentos difíceis, que interpelam a Igreja e com ela todo o Povo de Deus, a dar respostas concretas, através de proposições e ações, através da busca do perdão e da misericórdia de Deus. Francisco sente profundamente isso, essa necessidade de fazer com que o homem pare nesta corrida sem medida para chegar, não se sabe a onde, e perceba a realidade que está construindo, frequentemente sem Deus. É uma proposição e uma ação ao mesmo tempo, de voltar a refletir e agir contra a corrente, em um mundo cada vez mais frenético e sem o Divino. Será um Ano focado na fé, na fé que nos sustenta procurando recordar ao mesmo tempo, a todos nós, e à Igreja, a sua missão principal que é ser “sinal e testemunho da misericórdia”, em todos os aspectos da vida quotidiana.

O Papa Francisco anunciou no dia 13 de março na Basílica de São Pedro que decidiu proclamar um “jubileu extraordinário” centrado na “misericórdia de Deus” e terá início com a abertura da Porta Santa na Basílica de São Pedro em 8 de dezembro próximo, na Solenidade da Imaculada Conceição e será encerrado no dia 20 de novembro de 2016, na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.  A abertura do próximo Jubileu coincidirá com o cinquentenário do encerramento do Concílio Ecumênico Vaticano II, que aconteceu em 1965 e reveste este ano santo de um significado especial, encorajando a Igreja a prosseguir a obra iniciada no Concílio. 

O Concílio Ecumênico Vaticano II foi um divisor de águas para a Igreja, e o Jubileu que Francisco convoca agora se insere neste contexto, pois o Papa quer que o mesmo seja vivido em todas as Igrejas particulares e não somente em Roma. Pela primeira vez na história dos Jubileus, é oferecida a possibilidade de abrir a Porta Santa – Porta da Misericórdia – nas próprias dioceses, particularmente na Catedral ou numa igreja especialmente significativa ou num Santuário importante para os peregrinos. Portanto, não precisa vir a Roma para viver plenamente o Jubileu da Misericórdia.

O Papa Francisco, e isso notamos todos os dias nas suas homilias na Casa Santa Marta, nos seus encontros com os peregrinos, possui uma maneira diferente de se comunicar, possuiu expressões muito originais que gosta de repetir e que já fazem parte do nosso dia a dia como “cheiro das ovelhas”, “cristãos de museus”, “sair da sacristia”, “periferias existenciais”, “Igreja, hospital de campo”, Igreja pobre para os pobres”, etc. Mas uma palavra que, podemos dizer é a chave de leitura de todas as demais, que encerra o pensamento do Papa Francisco é “misericórdia”. Proclamada desde os primeiros momentos de seu ministério é constantemente repetida.

Não precisamos de muita reflexão para entender então o por que de um Ano da Misericórdia: o Sucessor de Pedro quer falar ao mundo, de modo ainda mais concreto que misericórdia é “o coração de Deus, o coração de Jesus, o coração do Evangelho”. Não uma parte do Evangelho, mas o Evangelho. Deus não usa a misericórdia, mas “é misericórdia”.

Em um momento de grandes tribulações para os cristãos, para os católicos, com as perseguições e violências que padecem por causa da fé, o Ano da Misericórdia será um ano cheio de compromissos. O mundo dirigirá o seu olhar para os seguidores de Cristo e procurará entender o que significa realmente a misericórdia de um Deus que se fez carne, em um mundo cada vez mais com a lei do talião, “olho por olho, dente por dente”. Será a oportunidade também de sermos testemunhas de uma grande família que tem o seu olhar fixo no Deus Amor.

Será um ano que nos convida a uma profunda conversão que vá além das aparências e que transforme realmente o coração. E como diz Francisco, “não nos esqueçamos de que Deus perdoa tudo, e Deus perdoa sempre. Não nos cansemos de pedir perdão”. (Silvonei José)








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