Editorial: Solidariedade: novo início


Cidade do Vaticano (RV) - O mundo ficou e está estarrecido com as imagens dramáticas do que ocorreu e está ocorrendo no Nepal. Morte, destruição, desespero, tristeza, desânimo, mas também esperança.

Numa terra tão distante, quase parte do nosso imaginário, com suas montanhas que tocam o céu e que raramente se deixam conquistar pelos homens que tentam escalá-las, o drama da impotência do mesmo homem diante da força da natureza nos traz o grande limite que temos. Podemos fazer quase tudo com a nossa tecnologia, como o nosso desenvolvimento tecnológico, mas muito pouco, ou quase nada, contra a força da natureza, que tentamos dominar a todo custo. Ela pode parecer perder certas vezes, mas depois cobra sem piedade.

O terremoto de 7,9 graus na escala Richter que sacudiu o Nepal e terras adjacentes ceifou um número ainda impreciso de vidas, até este momento contam-se mais de 6 mil mortos. O tremor ocorreu de dia e durante uma festividade, quando muitas pessoas estavam em espaços abertos, o que evitou um número muito maior de vítimas. Segundo o UNICEF, são mais de 900 mil as crianças nepalesas que têm necessidade de assistência humanitária.

Enquanto se continua a escavar entre os escombros em busca de verdadeiros milagres – os últimos foram um recém-nascido que sobreviveu por três dias sozinho e um jovem de 27 anos que foi resgatado depois de 82 horas soterrado, o país está de joelhos. Milhares de pessoas ficaram sem casa e vivem em tendas. Falta energia elétrica, as linhas telefônicas são precárias e os alimentos começaram a faltar.

Na Oração do Regina Coeli do último domingo, o Papa Francisco rezou, junto com os fieis reunidos na Praça São Pedro, pelas vítimas desse violento terremoto: “Desejo assegurar a minha proximidade às populações atingidas por um forte terremoto no Nepal e nos países vizinhos. Rezo pelas vítimas, pelos feridos e por todos aqueles que sofrem por causa desta calamidade. Que tenham o apoio da solidariedade fraterna”.  

O mundo nos últimos dias parece que atendeu ao pedido do Papa que enviou uma primeira contribuição de 100 mil dólares para o socorro das populações. Muitas as equipes de socorro provenientes de países vizinhos e distantes chegaram ao Nepal, trazendo esperança e conforto. Esperança de encontrar sobreviventes e conforto na proximidade e nas ajudas humanitárias. Para identificarmos uma tragédia como esta na história do país devemos voltar no tempo, 81 anos atrás, quando outro terremoto matou mais de dez mil pessoas. O Governo de Kathmandu declarou estado de calamidade natural e o Presidente Koirala convidou os cidadãos a permanecerem unidos em meio a este grande desastre.

Segundo os especialistas nesta primeira fase após o desastre existe o problema de fazer as pessoas dormirem fora das próprias casas porque existe um medo terrível, frequentemente existem ataques de pânico e o assim chamado distúrbio pós-traumático, que atinge também nestes casos, sobretudo os menores. Quem perdeu tudo deve, certamente, ser apoiado sob todos os pontos de vista, porém também aqueles que necessitam apoio psicológico, espiritual, numa visão na sua integridade. É o drama vivido também interiormente pelas pessoas, que perderam entes queridos, e uma vida de sacrifícios.

O drama vivido pelas populações do Nepal – principalmente são os pobres a pagarem o maior preço -, deixa evidente a fragilidade do ser humano diante da força da natureza, que como disse certa vez o Papa Francisco – Deus perdoa, a natureza não – que cobra um alto preço toda vez que se faz sentir. O drama vivido nestes dias também é a oportunidade do homem se tornar mais humano, sensível ao desespero do próximo; de se tornar um irmão distante e solidário. Sim, a palavra neste momento é “solidariedade”. Não a solidariedade da boca para fora, mas também, da mão no bolso, e dos joelhos dobrados, da oração. O Nepal inteiro está de joelhos neste momento, e seria realmente um gesto de grande humanidade e partilha, o mundo inteiro se inclinar para o país do topo do mundo e ajudá-lo a se levantar, e olhar com orgulho para as suas belas montanhas que tocam o céu.

Esperamos que a dor da morte, a tristeza de ter perdido tudo, aos poucos se transformem em esperança, através da força, da mão estendida e da proximidade de todos. Citando o pedido do Papa: “que todos tenham o apoio da solidariedade fraterna”. Um gesto de solidariedade pode ser o início de um novo caminho para quem dá e para quem recebe. (Silvonei José)








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