Card. Filoni: peregrino entre cristãos iraquianos


Cidade do Vaticano (RV) - O prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, Cardeal Fernando Filoni, já se encontra no Vaticano de retorno do Iraque, onde transcorreu a Semana Santa e a Páscoa com os refugiados iraquianos do Kurdistão, expressando-lhes a proximidade e a solidariedade do Papa Francisco.

O purpurado esteve com o Santo Padre na tarde desta terça-feira, ao qual ilustrou os momentos candentes de sua missão e as dificuldades dos muitos cristãos obrigados a deixar suas casas nas zonas ocupadas pelos jihadistas.

A Rádio Vaticano procurou saber do prefeito de Propaganda Fide o que mais impressionou o Papa no relato que fez de sua missão no Iraque:

Cardeal Fernando Filoni:- “Diria, em primeiro lugar, o fato de ter qualificado esta visita ao Iraque como ‘uma peregrinação’. E, naturalmente, essa peregrinação se realizou, de certo modo, fazendo as estações durante a Semana Santa, porque a visita a esses irmãos e irmãs iraquianos não poderia ser uma simples visita, nem um passeio. A Semana Santa nos levou a ver os sofrimentos de todos esses irmãos próximos do Mistério do sofrimento de Cristo. O Papa estava muito atento a esse aspecto e procurou saber também sobre as várias etapas: o que vi, qual tinha sido meu testemunho e qual era a situação que encontrei. Foi um momento de escuta com brevíssimas interrupções e um momento de tomada de conhecimento do estado atual em que vivem estes milhares de refugiados, cristãos e não cristãos. Consideramos todas as dificuldades e restrições em que vivem; a falta de espaços vitais; a convivência forçada em tantos lugares; a partilha de tudo aquilo que é estritamente necessário para a vida do dia a dia; a questão dos serviços higiênicos, dos espaços em que crianças, doentes e pessoas anciãs vivem. Posso dizer que o aspecto humanitário, além do espiritual, foi objeto de uma atenta consideração, reflexão e escuta do Papa.”

RV: O senhor disse ao Papa que os cristãos iraquianos o aguardam no Iraque?

Cardeal Fernando Filoni:- “Sem dúvida, os cristãos iraquianos aguardam-no. Estavam muito contentes com essa visita, mas, naturalmente, esperam também, um dia, a visita do Papa. Diria que não são somente os cristãos iraquianos que esperam o Papa, porque todas as autoridades me disseram, repetidas vezes, que a visita do Papa seria não somente útil, mas também oportuna neste momento. Portanto, renovaram o convite a fim de que o Papa visite o Iraque, vá a essas áreas onde os refugiados vivem. Creio que por parte de muitos – e não somente cristãos – há o desejo e uma espera da visita do Papa.”

RV: Qual é a repercussão, no Iraque, dos apelos do Papa em favor dos cristãos perseguidos?

Cardeal Fernando Filoni:- “Em primeiro lugar, esses apelos são ouvidos, e fazem parte de uma visão que a nível político, mas também eclesial e inclusive por parte do povo, são ouvidos porque significam que não esquecemos a situação, a condição vivida em geral no Oriente Médio e, obviamente, no Iraque, em particular. Hoje, é impressionante a repercussão dos apelos do Papa em relação aos cristãos, ao martírio, aos cristãos que confessam a fé, que deixam tudo! Desse ponto de vista, as autoridades têm bastante consciência e as autoridades religiosas naturalmente – por sua vez – apreciam muito essa sensibilidade, essa atenção, a fim de que não se esqueça, porque o fato de se falar menos sobre o assunto não significa que os problemas foram resolvidos.”

RV: Há esperanças para o futuro dos cristãos no Iraque?

Cardeal Fernando Filoni:- “A esperança foi a virtude que preguei por onde andei. Em todos os encontros que tive, nos numerosos encontros com as comunidades cristãs, disse que a nossa fé é fundada justamente nestas três virtudes teologais, que são propriamente a fé, a caridade e – mesmo se por vezes possa parecer a menor, como dizia Peguy ‘a virtude menor’ – a esperança, mas que no fundo é aquela que mantém juntas a fé e a caridade: se falta a esperança, a caridade perde consistência e a própria fé arrefece. Portanto, a esperança é aquela que todos alimentam, e todos dizem: ‘Queremos, esperamos, voltar a nossos vilarejos’... Todas as pessoas que encontrei – exceto uma pessoa que me disse preferir emigrar – me disseram – e foram muitas – que esperam voltar e que não veem a hora de retornar a seus vilarejos. É claro, também isso não será fácil. Mas a ideia de poder voltar ao próprio ambiente lhes dá o impulso inclusive para enfrentar todos os problemas de um retorno. Basta pensar que são casas que foram saqueadas, por vezes destruídas, com todos os problemas de um retorno que não será fácil. Porém, é muito forte nelas essa esperança de poder recomeçar e – repito – a esperança foi a virtude que mais preguei nestes dias.” (RL)








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