As Conferências da Domus Mariae, o Brasil no Concílio


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço, Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos concluir na edição de hoje a temática sobre as Conferências da Domus Mariae.

As 80 conferências proferidas na Domus Mariae, verdadeiro "quartel-general" do episcopado brasileiro no Concílio Vaticano II, constituíram ao longo das três últimas sessões conciliares uma inegável oportunidade para se penetrar na temática conciliar, com maior clareza, colocando ordem e perspectiva no debate nas Congregações Gerais. Segundo o Padre Oscar Beozzo - cuja tese "Padres Conciliares Brasileiros no Concílio Vaticano II" tem guiado nossas reflexões -, "as conferências constituíram, para a maioria dos bispos brasileiros, um reencontro com a teologia mais atualizada da melhor escola européia, mas também com a experiência do oriente cristão, com tradições protestante e ortodoxa e com a incipiente reflexão pastoral e teológica latino-americana".

“As Conferências na Domus Mariae, no entanto, não eram oficiais e nem gozavam de aprovação dos órgãos conciliares”, como respondeu o Secretário Geral do Concílio, Pericle Felici, quando interpelado sobre a questão. Comentando as conferências e o episódio da intervenção de Pericle Felici, Dom Clemente Isnard escreveu mais de trinta anos após:

"Foi uma verdadeira reciclagem para todos nós que devemos agradecer o zelo do Padre Guglielmi. As conferências da Domus Mariae começaram a ser frequentadas por pessoas de fora, Bispos ou não, e se tornaram tão conhecidas em Roma que, um dia, o Secretário Geral do Concílio, Felici, se julgou no dever de esclarecer, em plena aula conciliar, que esssas conferências "não eram oficiais ou autorizadas". Sim, não eram oficiais, mas eram muito interessantes e proveitosas, embora fossem sempre na linha de abertura que não agradava ao Secretário geral. E assim, o Episcopado brasileiro, sem ser expressamente mencionado, mereceu uma farpa do Secretário Geral".

A presença feminina e leiga nas Conferências da Domus Maria foi limitada e circunscrita à terceira e quarta sessões: Pilar Bellosillo da Espanha, Presidente Geral das Organizações Femininas Católicas; Mme Lena Boelens da Bélgica, que com seu esposo Herman, falou sobre matrimônio cristão e regulação de nascimentos; Mlle. Marie Louise Monnet de França, Presidente internacional do Apostolado dos Meios Independentes e Luz Icaza do México, auditora do Concílio que, junto com seu esposo José Alvarez Icaza, formava o casal presidente para a América Latina, do Movimento Familiar Cristão. A estas quatro leigas e dois leigos, pode-se acrescentar a presença de um italiano e um francês, auditores do Concílio, totalizando assim oito leigas (os) que falaram aos bispos brasileiros. Dos observadores evangélicos compareceram irmão Roger Schutz e Max Thurian, da Comunidade de Taizé, Oscar Culmann (um dos maiores teólogos protestantes presente no Concílio) e da parte dos ortodoxos, somente o representante pessoal do Patricarca Ecumênico Athenagoras I, de Constantinopla, Andréj Scrima.

A experiência conciliar, as conferências da Domus Mariae, os círculos de estudo da CNBB, provocaram esta observação de Dom Austregésilo de Mesquita: "O concílio valeu-me como uma universidade. Deu-me grande segurança. Foi a maior reciclagem que pude fazer na vida".

Fonte: “Padres Conciliares Brasileiros no Concílio Vaticano II. Participação e Prosopografia. 1959-1965”. Pe. Oscar José Beozzo

 








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