Vigário Apostólico em Trípoli: "Como poderia deixar os cristãos sem ninguém?"


Trípoli (RV) – O Vigário Apostólico de Trípoli, Dom Giovanni Innocenzo Martinelli, disse que permanecerá na Líbia, mesmo com o caos vivido no país e o avanço dos jihadistas do Estado Islâmico. Em entrevista à Rádio Vaticano, o franciscano afirmou que “estamos prontos a testemunhar aquilo que somos e aquilo que fazemos”, questionando: “como poderia deixar os cristãos sem ninguém?”.

Dom Martinelli revelou que existe um pequeno grupo de filipinos, que apesar do clima de medo, dizem estar prontos para o sacrifício: “Estamos aqui, como testemunhas daquilo que Jesus nos disse para fazer. E basta!”. Não obstante a chegada dos jihadistas à Trípoli - onde desde a queda de Kadaffi diversos grupos lutam pelo controle da capital - o prelado reiterou, que devido à fé,  acredita não sentir medo: “Se não fosse a fé, não estaríamos aqui”. O franciscano recordou as palavras do pobre de Assis quando disse: “Quem quer ir entre os sarracenos deve deixar tudo e deve ir”. “Nós – disse Dom Martinelli – estamos aqui em nome de Deus e em nome de São Francisco, com o desejo de ser testemunhas de Cristo no estilo de Francisco”.

Ainda existe liberdade de movimento na cidade, mas a qualquer momento alguém pode pará-lo na rua e dizer: “Você é contra o Islã!”, e matá-lo ou prendê-lo. Para o Vigário Apostólico, esta situação de ambiguidade vivida no país é decorrência de um longo tempo sem diálogo: “Agora, é necessário recuperar o tempo”, “refazer tudo”, observou. “A comunidade internacional deveria ser capaz de começar um diálogo com este país que está dividido e é difícil encontrar, antes de tudo, a unidade interna. Buscar ser instrumentos de unidade, antes de tudo pelo país em si mesmo e depois pelo resto. Pensamos em pegar o petróleo, pensamos em nossos interesses e nos esquecemos um pouco do diálogo humano, sincero, entre as partes”.

No mesmo dia da decapitação dos cristãos coptas egípcios, os jihadistas do Estado Islâmico anunciaram “estar ao sul de Roma”, acusando o governo italiano de “cruzado”. Sua chegada à Trípoli fez com que as autoridades italianas evacuassem seus concidadãos do país em um navio. “Não existe mais nenhum italiano aqui”, disse Dom Martinelli, reiterando ainda uma vez, que “talvez tenha faltado diálogo com o país, em particular com o Islã”.

O Vigário Apostólico considera muito complexa a situação criada no país, mas defende que é necessário “procurar ajudá-los a refletir, mas não com a força, mas com o diálogo”.  Poderia ser algo muito importante!.

Dom Martinelli não tem uma explicação para a presença de jihadistas europeus nas fileiras do EI, mas observa que “existe um vazio na cultura ocidental. Um vazio de diálogo, um vazio de compromisso em encontrar o outro, preocupando-se somente com os prórpios interesses e menos pelas pessoas e pelos valores”. E os fatores que contribuíram para este racha entre as diversas civilizações são complexos. Quem sabe se alguém tivesse “a coragem de se fazer pequeno, se fazer simples e ter a coragem de encontrar estas pessoas com o desejo de encontrá-los, antes de tudo, vontade de ajudá-los a entender aquilo que querem”, poderia ser um início de esperança. Uma esperança de que alguém “tenha o desejo de dedicar-se a este povo, para que possam retornar a uma vida normal, a um diálogo fraterno entre as civilizações. Isto não é fácil agora – reconhece o franciscano - porém, penso  ser o único caminho para tornar possível este encontro”.

Para Dom Martinelli, os países árabes, muçulmanos, poderiam fazer algo para que volte a serenidade, explicando no entanto, que por trás dos jihadistas, “está o petróleo! Os poços de petróleo da Líbia, do Golfo Pérsico, etc...”. (JE)

 








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