Dom Tomasi: "Tempo para encontrar soluções globais sobre o clima está esgotando"


Genebra (RV) – As Nações Unidas trabalham em vista da 20ª Conferência da Convenção sobre Mudanças Climáticas (COP 21), a ser realizada em dezembro próximo, em Paris. Após o Peru, portanto, será a França a sediar este encontro que deverá marcar uma etapa decisiva nas negociações do futuro acordo internacional para o período posterior a 2020. O objetivo a ser alcançado é o de que todos os países - entre os quais os maiores responsáveis pelas emissões de gases que provocam o efeito estufa – comprometam-se com um acordo universal sobre o clima. A Santa Sé também contribui com os trabalhos preparatórios, na pessoa de seu Observador Permanente junto ao Escritório da ONU de Genebra, Dom Silvano Tomasi:

“Especialistas e opinião pública estão cada vez mais convencidos da urgência de agir agora, para estabilizar a concentração na atmosfera de gases que provocam o efeito estufa. Entre poluição e mudanças climáticas existe uma ligação real que tem consequências negativas sobre o ecossistema, sobre a produção de alimentos, sobre o desenvolvimento econômico sustentável.  O ano de 2014 foi o mais quente, com temperaturas bem acima da média e contribuiu com as inundações ocorridas em vários países. A comunidade internacional se empenha em responder a esta situação. Trata-se de dar um passo em frente em relação à Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas de 1992, ratificada por 192 Estados. Se está preparando, portanto, para o próximo encontro do grupo de trabalhos de Paris, um instrumento legal vinculante sobre mudanças climáticas, que terá efeito a partir de 2020  e vinculará todos os países. Nestes dias, os países têm apresentado propostas e prioridades para serem incluídas no texto de um eventual novo instrumento. A delegação da Santa Sé apoia a ideia de um apoio vinculante que se torne uma pré-condição necessária para testemunhar um compromisso real em enfrentar o problema das mudanças climáticas. Sem tal compromisso, alguns países insulares, especialmente no Pacífico, diretamente envolvidos porque correm o risco de desaparecer, poderiam não participar da próxima negociação, justamente porque apagados da carta geográfica. As discussões de Genebra são uma etapa do caminho para se chegar a um novo instrumento. Em junho serão retomadas as análises do texto de negociações e os debates em Bonn, na Alemanha”.

RV: Qual é o otimismo quanto a possibilidade de se chegar ao objetivo fixado?

“Existe um certo otimismo cauteloso de que haverá um êxito positivo na Conferência de Paris. A maior evidência científica, que mostra uma estreita correlação entre poluição e mudanças climáticas, favoreceu a aceitação de eventuais sacrifícios para enfrentar os custos por novas tecnologias e pela solidariedade para com os países menos desenvolvidos. De fato, persistem agendas diversas, levadas em frente pelos países industrializados, por aqueles em via de desenvolvimento, pelas economias emergentes e é normal que existam posições diversas. O trabalho destes dias e dos próximos meses é o de se chegar a uma convergência sobre agendas políticas, na convicção de que sem concessões de interesses nacionais se poderia prejudicar os interesses de toda a família humana. E a perspectiva com a qual contribui a Santa Sé é a do bem comum. As consequências das mudanças climáticas não respeitam fronteiras nacionais: a mensagem enviada pelo Papa Francisco à Conferência dos Estados membros na Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas, realizada em dezembro passado em Lima, no Peru, ressalta como as discussões sobre o clima incidem sobre toda a humanidade, em particular sobre os mais pobres e as gerações futuras. Torna-se, portanto, de uma grave responsabilidade ética e moral dar uma resposta coletiva que proteja o planeta e a família humana”.

RV: Também o documento sobre Ecologia no qual o Papa Francisco está trabalhando mostra a sensibilidade da Igreja em relação a este tema...

“O tempo para se encontrar soluções globais está se esgotando. Os próximos meses são cruciais. Para encorajar e estimular um acordo eficaz, como fruto dos encontros preparatórios à Conferência de Paris, a anunciada Encíclica sobre Ecologia será sem sombra de dúvida uma contribuição fundamental. Serão indicados os parâmetros éticos dentro dos quais se desenvolverão ações coletivas. Ciência e fé convergem de modo que a proteção, o respeito e a gestão da Criação, sejam o compromisso de toda a família humana e isto segundo a capacidade e os recursos disponíveis de cada país e tornando a Criação sempre mais a serviço da pessoas humana”. (JE)








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