Teóloga muçulmana: "Generalizar leva a mais violência"


Roma (RV) – Os constantes ataques reivindicados por terroristas islâmicos, acabam por criar uma situação delicada para os muçulmanos moderados que não compactuam com a violência em nome da religião, além de alimentar sentimentos de islamofobia. Sobre isto, a Rádio Vaticano conversou com a teólogo muçulmana Shahrzad Houshmand, docente na Pontifícia Universidade Gregoriana e na Universidade Sapienza, em Roma:

“É claro que não se pode, em nenhum campo, justificar um ato violento e a morte de pessoas inocentes, isto é condenado por todos os chefes religiosos, não somente islâmicos, pois aqui não se trata de violência islâmica, mas é a violência que feriu o coração do homem, a si mesmo. Como dizia Gandhi: quem não está em paz consigo mesmo está em guerra com o mundo inteiro. Retomo as palavras também deste grande mensageiro de paz que é o Papa Francisco, que repreende, ilumina, nos desperta, nos sacode – como repete sempre – sobre esta ‘globalização da indiferença’ que no final é, também ela, a causa do mal-estar que vivemos hoje. Ele, de fato, repete frequentemente para não generalizar. Isto seria um ato de grande ignorância e outra violência para com uma boa parte da humanidade que engloba 1 bilhão e meio de pessoas. O que se está um pouco fazendo agora é esta generalização, que não será a favor de ninguém, não somente aos muçulmanos, mas nem mesmo a favor do próprio ocidente, porque se não se usa com sabedoria uma atitude acolhedora, capaz de uma análise verdadeira e profunda, isto não fará outra coisa que provocar outras formas de violência. Eu peço ao homo sapiens de hoje - que não obstante a sua sabedoria, colocou em primeiro plano as fábricas bélicas e a economia -, de rever a mensagem profunda da revolução francesa: liberdade, igualdade, fraternidade. Se não aprofundarmos este slogan – fraternidade -, enquanto o homo sapiens que pensamos sermos nós não focar neste terceiro ponto, iremos cair em outras formas de violência”.

RV: Há quem diga que eventos trágicos como o de Paris vão se repetir até que se purifique as fontes desta violência que são algumas formas de cultura islamista...

“Cada ser humano tem necessidade de reciclar-se, sempre. O indivíduo tem necessidade de reciclar-se, como as comunidades, as sociedades, também as religiões. Todos estes eventos nos levam a refletir e rever algumas de nossas posições. Isto vale também para uma parte dos muçulmanos no mundo, que têm uma visão estreita do Islã, sobretudo nas escolas alcorânicas: o Estado do Paquistão diz não ter recursos suficientes para aumentar as escolas públicas, então os privados – que não se sabe exatamente de onde vêm – constroem aquelas escolas alcorânicas que dão uma visão muito particular do Alcorão. Assim, a reforma deveria ocorrer seguramente no Islã, mas também a Europa tem necessidade de uma reforma, de sair deste eurocentrismo profundo que não vê nas outras culturas nada de positivo, nenhuma forma de democracia, de bem-estar. Então, esta atitude deveria ser recíproca. Temos necessidade de nos reformar a nível humano, de repensar a fraternidade e de medicar as feridas, não com as bombas, mas com a instrução, o diálogo, o encontro. De fato, eu leio o parágrafo 253 da belíssima Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium” do Papa Francisco: “Para sustentar o diálogo com o Islã é indispensável a formação adequada dos interlocutores, não só para que sejam sólida e jubilosamente radicados na sua identidade, mas também para que sejam capazes de reconhecer os valores dos outros, compreender as preocupações que subjazem às suas reivindicações e fazer aparecer as convicções comuns”. Devemos reciclar-nos todos, realmente”. (JE)

 

 

 








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