Editorial: Grandes fronteiras da Igreja


Cidade do Vaticano (RV) - Depois da Coreia do Sul, no último mês de agosto, na próxima semana o Papa Francisco pega novamente o seu cajado de peregrino da paz e viajará a mais dois países asiáticos: Sri Lanka e Filipinas. Uma viagem anunciada pelo próprio Francisco durante o encontro com os jornalistas no voo de volta de Israel para Roma, no último mês de maio.  Naquela ocasião o Santo Padre explicou que com respeito à Ásia, tinha duas viagens programadas. A primeira, à Coréia do Sul para o encontro dos jovens cristãos (no último mês de agosto), e a segunda em janeiro de 2015, “uma viagem ao Sri Lanka, e depois as Filipinas às regiões afetadas pelo tufão Haiyan”. De fato, Francisco estará no Sri Lanka de 12 a 15 de janeiro, e nas Filipinas de 15 a 19. Durante a entrevista no avião, Francisco mostrou-se preocupado com a falta de liberdade religiosa no continente asiático, lembrou que o número de “mártires” cristãos supera os dos primeiros tempos da Igreja. Esta será a sétima viagem internacional do Pontífice, que – recordamos -, já visitou o Brasil (julho de 2013), a Terra Santa (maio de 2014), a Coreia do Sul (agosto de 2014) e a Albânia (setembro de 2014); no ano passado foi ainda a Estrasburgo, (França) em uma visita de um dia ao Parlamento Europeu, no dia 25 de novembro, e depois a Turquia, entre os dias 28 a 30 do mesmo mês.

No Sri Lanka, e depois nas Filipinas, Francisco encontrará duas realidades muito diferentes. O Sri Lanka é de maioria budista, com uma pequena minoria de pouco mais de 7% de cristãos. Muitos dos católicos do Sri Lanka fazem parte de uma comunidade com centenas de anos e são de ascendência portuguesa. Já as Filipinas são um país de maioria esmagadora cristã, tendo apenas algumas ilhas do arquipélago de maioria muçulmana, mais ao sul. Foi neste país, em 1995, segundo as estatísticas, que se realizou a missa campal com maior número de participantes na história das viagens pontifícias. Estima-se que entre 4 e meio e cinco milhões de pessoas participaram na celebração presidida pelo Papa João Paulo II, no encerramento da Jornada Mundial da Juventude daquele ano.

Agora o Papa Francisco volta ao Extremo Oriente. Será uma viagem de grande intensidade e agenda cheia como se pode ver no programa da viagem apostólica. Serão oito dias de viagem, dois países visitados e a passagem de oito fusos horários.

O principal compromisso no Sri Lanka será no dia 14 de janeiro, a canonização do Beato José Vaz, sacerdote indiano fundador da Congregação do Oratório de Goa e missionário em Ceilão, hoje Sri Lanka, que foi proclamado Bem-aventurado por São João Paulo II em 1995.

No final da tarde de 15 de janeiro, o Papa Francisco deixa Colombo para ir a Manila, onde, no dia 16 pela manhã, se encontrará com as autoridades filipinas e o corpo diplomático. Celebrará missa na Catedral da Imaculada Conceição para, durante a tarde, receber o abraço das famílias do país.

No sábado, 17 de janeiro, está programado um encontro em Tacloban com os sobreviventes do tufão Haiyan que, em novembro do ano passado, fez 8 mil vítimas entre mortos e desaparecidos. No mesmo dia, o Papa Francisco vai celebrar uma missa, encontrar o clero local e depois volta a Manila onde, no domingo 18 de janeiro, conclui a visita nas Filipinas, encontrando os jovens e presidindo a uma missa no ‘Rizal Park’ de Manila. O regresso a Roma está previsto para as 10h de segunda-feira, 19 de janeiro, horário da partida de Manila.

Faltando poucas horas para a viagem de Francisco ao Sri Lanka, recordamos que o país enfrentou na última semana do ano de 2014 mais uma calamidade natural. Fortes chuvas mataram pelo menos 30 pessoas, deixando mais de 100 mil desabrigados. Também  tivemos no último dia 8 de janeiro a realização das eleições presidenciais. O atual Presidente do Sri Lanka, Mahinda Rajapaksa, perdeu as eleições para um terceiro mandado para o seu opositor Maithripala Sirisena que obteve 51,3% dos votos. A Constituição do país prevê que o período de governo seja de 6 anos com a possibilidade de convocar novas eleições depois de quatro anos de governo. Nestas eleições o atual presidente Rajapaksa, no seu quarto ano de governo convocou as eleições: mesmo perdendo a reeleição ele governará o país ainda por mais dois anos antes da posse de Sirisena. A comunidade internacional faz votos de que a vontade de mudança do povo seja respeitada e que se dê início a um novo período de paz e prosperidade para o país. Sirisena foi ministro da Saúde durante o governo atual. Trata-se de uma reviravolta histórica no país que perde um dos últimos líderes do sul da Ásia que pôs fim à guerra civil com os Tigres Tâmeis. Sirisena se propôs ao povo como alternativa ao “autoritarismo e ao nepotismo”. Com 63 anos de idade, budista da maioria cingalesa, prometeu “uma nova cultura política” baseada na luta contra a corrupção.

Durante a campanha eleitoral a Igreja Católica no país preparou a viagem do Papa convidando todos os cidadãos e os líderes políticos a permanecerem unidos, independentemente de quem vencesse as eleições, para acolher o Santo Padre. Naturalmente o atual presidente Rajapaksa irá receber o Papa, mas certamente também encontrará o neo-presidente para um colóquio.

É num país fresco de eleições que o Sucessor de Pedro chegará nesta sua primeira etapa de viagem para confirmar os fiéis na fé. Vai confirmar uma Igreja engajada em atividades caritativas no campo da saúde e da educação e confirmar a vontade permanente de um diálogo com as demais religiões presentes nesta parte do mundo com o olhar fixo na paz que tanto o mundo de hoje precisa.

Francisco leva o anúncio do Evangelho, vai proclamar a boa nova levando em consideração, certamente, o contexto no qual atua a Igreja católica. Um contexto – como disse o Secretário de Estado vaticano, Pietro Parolin - caracterizado por uma multiplicidade, quase um mosaico de sociedades, de culturas e de religiões. O continente asiático é o berço das grandes religiões do mundo.

A Igreja Católica é uma pequena minoria mas mesmo assim está inserida nas atividades caritativas e humanitárias no campo da saúde e da educação do país. Por isso, pode ser ponte, já que entre seus membros estão fiéis de ambas as etnias principais, tâmil e cingalesa, e, portanto, a Igreja conhece um pouco aquilo que existe no coração de cada um e conhece também as expectativas.

O Sri Lanka é um país que infelizmente também viveu o drama do surgimento de grupos extremistas que procuram manipular a opinião pública criando tensões e utilizando a religião para fins próprios. É também para um país que tem tradição de diálogo inter-religioso e de colaboração que o Papa Francisco irá falar pedindo, como tem sempre feito, o uso do instrumento do diálogo, da pedagogia do encontro.

Já as Filipinas, o país na Ásia com o maior número de católicos, se preparou com semanas de orações para receber o Papa. Será certamente um “mar de pessoas”, que acolherá Francisco. “Será um momento extraordinário de graça” afirmou o presidente da Conferência Episcopal Filipina, Dom Socrates B. Villegas.

Essa viagem de Francisco, dividida em duas partes, fala de uma atenção renovada da Igreja, do Papa, por esta parte importante da humanidade, seja do ponto de vista demográfico, seja de uma presença humana impressionante do ponto de vista das suas dimensões e da sua dinâmica. Para a Igreja, terras de evangelização, de anúncio do Evangelho em situações culturais, sociais e políticas diferentes e tantas vezes difíceis. É uma das grandes fronteiras da Igreja do nosso tempo e o Papa Francisco indica isto com estas viagens entusiasmantes. (Silvonei José)

 








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