Uma luz em meu caminho


Rio de Janeiro (RV) - Após termos comemorado o início do novo ano civil com a celebração solene de Santa Maria Mãe de Deus e a reflexão pelo Dia Mundial da Paz, temos agora a oportunidade de celebrar o anúncio da universalidade da salvação. Festejamos logo no início do ano civil, ainda dentro do espírito natalino, a solene Manifestação, a sagrada Epifania do Senhor. Como dizia Santo Agostinho, “celebramos, recentemente, o dia em que o Senhor nasceu entre os judeus; celebramos hoje o dia em que foi adorado pelos pagãos. Naquele dia, os pastores O adoraram; hoje, é a vez dos magos”. A festa deste dia é nossa, daqueles que não são da raça de Israel segundo a carne, daqueles que, antes, estavam sem Deus e sem esperança no mundo! Hoje, Cristo nosso Deus apareceu não somente como glória de Israel, mas também como “luz para iluminar as nações” (Lc 2,32). Hoje, começou a cumprir-se a promessa feita a nosso pai Abraão: “Por ti serão benditos todos os clãs da terra” (Gn 12,3).

Hoje, cumpre-se o que o profeta Isaías falara na primeira leitura: “Levanta-te, Jerusalém, acende as luzes, porque chegou tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor! Eis que está a Terra envolvida em trevas, e nuvens cobrem os povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti! Levanta os olhos ao redor e vê: será uma inundação de camelos de Madiã e Efa; virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso e proclamando a glória do Senhor!” Mas, estejamos atentos, porque a festa de hoje esconde um drama: a Jerusalém segundo a carne não reconheceu o Salvador: “O rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a cidade de Jerusalém”. Ela conhecia a profecia, mas de nada lhe adiantou, pela dureza de coração. É na nova Jerusalém, na Igreja, que somos nós, na nossa Mãe católica, que esta profecia de Isaías se cumpre. É a Igreja que acolherá todos os povos, unidos não pelos laços da carne, mas pela mesma fé em Cristo e o mesmo batismo no seu Espírito.

No Evangelho da Solenidade da Epifania, Jerusalém, que conhecia a Palavra, não crê e, descrendo, não vê a Estrela, não vê a luz do Menino. Os magos, pagãos, veem a Estrela do Rei, deixam tudo, partem sem saber para onde iam, deixando-se guiar pela luz do Menino... e, assim, atingem o Inatingível e, vendo o Menino, reconhecem nele o Deus perfeito: “ajoelharam-se diante dele e o adoraram”. Com humildade, oferecem-lhe o que têm: “Abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra”: ouro para o Rei, incenso para o Deus, mirra para o que, feito homem, morrerá e será sepultado! Os magos creem e encontram o Menino e “sentiram uma alegria muito grande”. Herodes, porém, pensa somente em si, no seu título, no seu reino, no seu poder... e tem medo do Menino! Escravo de si e prisioneiro de suas paixões, quer matar o Recém-nascido! A Igreja, na sua liturgia, questiona Herodes e os Herodes do mundo, cantando assim: “Por que, Herodes, temes/ chegar o Rei que é Deus? / Não rouba aos reis da terra/ quem reinos dá nos céus”! Quem se deixa guiar pela luz do Menino, o encontra inundado de grande alegria, volta por outro caminho. Mas, quem se fecha para esta luz, fica no escuro de suas paixões, na incerteza confusa de suas próprias certezas, tão ilusórias e precárias... e termina matando.

A festa da Epifania convida todos os fiéis a partilharem dos anseios e fadigas da Igreja que “ora e trabalha ao mesmo tempo, para que a totalidade do mundo se incorpore ao Povo de Deus, Corpo do Senhor e Templo do Espírito Santo” (LG. 17). Aqui temos o plano de Deus de fazer toda a humanidade participante da salvação em Cristo! Esta é a boa-nova, o Evangelho. Por isso, devemos hoje dar graças a Deus por nossa vocação cristã.

Para que isso aconteça é preciso que trilhemos o caminho dos Magos. Qual será este caminho? Primeiramente é preciso estarmos atentos aos sinais de Deus, ou como dizemos em nossa tradição, aos sinais dos tempos e, como consequência, termos o desejo de adorar o Senhor.  “Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-Lo” (Mt 2,2). Em segundo lugar, é preciso procurá-Lo onde Ele se encontra! Depois, é preciso partir sempre de novo, recomeçar, sair à procura! Então, a estrela há de aparecer e pousar sobre o lugar onde se encontra o Menino. Serão momentos de grande alegria!

Para todos sempre haverá uma estrela no horizonte da vida a sugerir um caminho para o encontro com o Senhor! Cada um de nós poderá contar suas experiências de como chegou a encontrar Cristo em sua vida.

Quem encontra Jesus Cristo muda de caminho. Toma outro caminho. Um caminho novo, o caminho de Jesus Cristo que se apresenta como o Caminho (Jo 14,6). Precisamos estar atentos à estrela! A estrela são todos os sinais de Deus para que encontremos o Messias Salvador. A Palavra de Deus, os Sacramentos, o Magistério da Igreja, uma palavra do sacerdote ou de pessoas amigas, os acontecimentos da vida. Devemos estar atentos para perceber a presença da estrela. E mais: somos chamados a ser estrelas (sinais), que vão indicando o caminho ao próximo para que ele encontre o Messias Salvador. Há muitas maneiras de sermos estes sinais, dando testemunho de Jesus Cristo. Isso, na família, na Igreja e na sociedade. Somos chamados a testemunhar, como discípulos missionários, que o Senhor nos mostra o caminho que Ele mesmo é e nos conduz pelos caminhos da vida.

 

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ








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