Dom Bruno Forte: "Sínodo, escuta do que o Espírito diz à Igreja"


Cidade do Vaticano (RV) – Na Audiência Geral da última quarta-feira o Papa Francisco falou do Sínodo Extraordinário sobre a família “indo além das descrições dadas pela mídia que, como disse, algumas vezes falaram no estilo das crônicas esportivas ou políticas”, imaginando “dois times, pró e contra, conservadores e progressistas”. Justamente em vista do Sínodo de outubro de 2015,  família é o tema do novo ciclo de catequeses do Santo Padre. A este propósito, a Rádio Vaticano  conversou com o Arcebispo de Chieti-Vasto, Dom Bruno Forte, confirmado Secretário especial para o próximo Sínodo:

Dom Bruno Forte: “O que estamos vivendo como Igreja, sob a guia do Sucessor de Pedro, não é um caminho de maioria-minoria a definir, mas é uma profunda escuta comum do que o Espírito diz à Igreja e cujo discernimento último diz respeito, sobretudo, aos pastores e ao Sucessor de Pedro, que é o ponto de referência de unidade de toda a Igreja. Portanto, não se trata de trabalhar para fazer prevalecer uma ou outra posição; trata-se de estar todos em escuta da ação de Deus, discernindo qual é o bem maior para Igreja, para a humanidade, em modo especial para a família que é esta célula vital tanto da Igreja quanto da humanidade. É, em outras palavras, uma visão profundamente teológica e espiritual do caminho feito e que, portanto, se distancia de qualquer leitura que queira reduzir este caminho a uma concepção – poderíamos assim dizer – somente “mundana” de partes mais ou menos em tensão entre elas, mais ou menos capazes de prevalecer uma sobre a outra”.

RV: O Papa precisou: “Nenhum pronunciamento no Sínodo colocou em discussão as verdades fundamentais do Sacramento do Matrimônio”. Existiam temores neste sentido? Por que o Papa teve que fazer esta precisação?

Dom Bruno Forte: “Veja bem, se existiam temores, não eram certamente por parte dos pastores, porque o Sínodo é feito por bispos de todo o mundo em torno do Papa, e certamente os bispos têm clara a doutrina da Igreja, a fé que temos em relação ao Sacramento do Matrimônio, a sua indissolubilidade, a necessidade da sua abertura à procriação. Portanto, os problemas poderiam vir antes, de fora, da redução midiática deste debate e do querer, portanto, ver que também os fundamentos poderiam ser colocados em discussão, coisa que naturalmente no Sínodo, absolutamente, não esteve presente”.

RV: Ninguém brigou, certamente, mas os Padres Sinodais falaram forte. “Isto é prova também da liberdade que existe na Igreja”, disse Francisco. O que o senhor poderia dizer sobre isto?

Dom Bruno Forte: “Eu confirmo, antes de tudo, este fato que graças também ao convite do Papa Francisco para falar com grande liberdade. Ele disse explicitamente: “Não existe nada sobre o que alguém deva pensar: ‘Disto não se pode falar’”. Graças a este convite, houve um debate muito vivo, com enfoques diferentes, e isto é um bem, pois mostra que a Igreja está viva e que os pastores estão ao lado das problemáticas dos fiéis e também da variedade das situações que estão na comunhão católica. Mas tudo, porém, voltado à busca de um profundo consenso que não fosse fruto de um equilíbrio entre as partes, mas de uma – como dizia – mais profunda escuta do Espírito e da obediência a ele devida por todos nós, naturalmente sob a guia e com a ajuda e o discernimento do Bispo de Roma”.

RV: O Papa também reiterou: “Os documentos oficiais do Sínodo de outubro passado são a mensagem final, o relatório final e o discurso final”, que o próprio Pontífice pronunciou. Uma precisação, importante....

Dom Bruno Forte: “A precisação é importante porque de um lado se valoriza a contribuição de todo o caminho sinodal, assim, a ‘relatio’ torna-se a base fundamental das ‘Lineamenta’. Por outro, o importantíssimo discurso conclusivo do Papa Francisco, que evidenciou de forma clara o papel do Bispo de Roma, a sua responsabilidade, que é decisiva na vida e na comunhão da Igreja, e naturalmente, depois, existem as perguntas que como Conselho do Sínodo foram preparadas, onde faciliar a recepção, onde estimular também as respostas por parte de todas as Igrejas do mundo. E graças a estas respostas será depois elaborado o Instrumentum Laboris do Sinodo de outubro de 2015. Portanto, é um caminho em andamento, um “work in a progress”, como gosto de dizer, no qual todos estamos envolvidos. E o desejo do Papa Francisco, que acredita profundamente no valor da colegialidade, é que todos, efetivamente, levem a sua contribuição para auxiliar no discernimento necessário para o bem da Igreja e de toda família humana”.

RV: Um artigo publicado há alguns dias no jornal “Avvenire”, observava como no domingo 7/12, em duas diferentes entrevistas a dois jornais – um argentino e um alemão – o Papa Francisco e o Para Emérito pronunciaram-se sobre a discutida questão que diz respeito aos divorciados recasados, os Sacramento da Eucaristia, etc....como ambos falaram sobre a necessidade de uma maior integração na Igreja: “Abrir mais as portas”, disse o Papa Francisco. Este foi, seguramente, um assunto importante no Sínodo de outubro e o será no próximo...

Dom Bruno Forte: “Sim. É também um tema muito caro ao Papa Bento. Quem quisesse contrapor os magistérios dos dois Papas, em realidade não os conhece em profundidade, porque os temas levantados no Sínodo eram temas que o Papa Bento havia tratado mais vezes – até mesmo já quando Cardeal – e haviam declarado o quanto seria necessário encontrar caminhos de maior acolhida e integração para pessoas em situações difíceis, como a dos divorciados recasados, na Igreja. Nesta mesma linha se move também o Papa Francisco e é desejo seu que o olhar de misericórdia que Deus certamente coloca sobre as pessoas que se encontram em situações de famílias feridas, pessoas separadas, divorciadas, divorciadas e recasadas, este olhar de misericórdia possa também encontrar expressão no estilo de abordagem da Igreja a estas situações e na disciplina que naturalmente deve regular esta abordagem”.

RV: Por fim, na entrevista ao “La Nación”, o Papa Francisco precisou: “No Sínodo, ninguém nunca falou de matrimônio homossexual”. Teve que esclarecer também esta questão...

Dom Bruno Forte: “Sobre esta questão bastava – para quem não tem preconceitos – ler o texto da ‘relatio’ final, onde o Papa Francisco disse simplesmente a verdade, e isto é, que o Sínodo se ocupou da questão dos homossexuais unicamente no fato de que existem famílias que têm filhos que vivem esta situação e, naturalmente, em se tratando de família, também este é um tema muito importante. E o Sínodo chamou a atenção sobretudo para a exigência de viver o respeito pela dignidade da pessoas e portanto, também, obviamente, da pessoa homossexual, e também o discernimento e a atenção para que este respeito e esta atitude de acolhida e de misericórdia se traduza na vida pastoral da Igreja”. (JE)

 








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