Itália: padres 'de rua' comentarão o Evangelho na TV


Cidade do Vaticano (RV) – A Televisão Estatal Italiana, RAI, manda ao ar há muitos anos o programa “À Sua imagem”, que comenta o Evangelho dos domingos. Em sintonia com o título, e com o atual Pontificado, a Conferência Episcopal Italiana indicou para novos protagonistas da histórica transmissão 4 sacerdotes identificados como “padres de rua”: Pe. Albanesi, que há 20 anos preside uma comunidade de recuperação de toxicômanos; Pe. Luigi Ciotti, fundador da associação antimáfia Libera e do Grupo Abele, que dá assistência social a pessoas marginalizadas; Pe. Maurizio Patriciello, pároco e constante denunciador de crimes contra o ambiente, e Pe. Gino Rigoldi, capelão do Instituto penal para menores Beccaria de Milão. 

Sorrindo, Pe. Albanesi, 71 anos, diz ao jornal italiano “Repubblica”: “O vento mudou e tomara que dure” e revela que depois de 47 anos de sacerdócio a serviço dos rejeitados e doentes, recebeu o primeiro telefonema da cúpula do Episcopado. 

Em coletiva à imprensa, o Secretário da Conferência, Dom Nunzio Galantino, explicou que “se quer traduzir em fatos e imagens aquilo que o Papa Francisco nos pede sempre, para sermos Igrejas em saída. Seremos uma televisão em saída”.

Já Pe. Luigi Ciotti contou: “No passado, fui convidado para um programa, mas protestaram porque falei demais de terra e pouco de céu, e não me chamaram mais”. Para ele, na realidade, o sinal da mudança ficou visível no dia 21 de março, quando Bergoglio participou da vigília organizada pela Associação Libera para lembrar as vítimas inocentes das máfias. O Papa e o sacerdote entraram na Igreja de São Gregório VII, em Roma, de mãos dadas. “Existe uma parte da Igreja que por muito tempo ficou isolada, rotulada. Não somos padres ‘antimáfia’ ou ‘de rua’, somos apenas padres”, comentou, na época, Pe. Ciotti.

Para Pe. Abanesi, “nota-se uma passagem para os padres que ocupam espaço no grande mundo da marginalidade, uma atenção às fronteiras”. E isso, explica, “permite uma chave de leitura muito diferente da mensagem evangélica. Cristo se preocupava em passar mensagens morais, mas também curava os doentes: há 27 milagres nos textos sinóticos. Cristo queria o bem-estar físico e espiritual!”. 

Segundo ele, “a Igreja se concentrou no culto e nos sacramentos sem conjugar, paralelamente, a caridade, que foi deixada aos ‘especialistas’. A espiritualidade “subestimou a dimensão humana, a dor, a morte, a pobreza e o sofrimento”. Os comentários que fará na TV se inspirarão em quem lhe conta da aposentadoria que não chega, da falta de trabalho, das deficiências de que sofre. “Nada de novo se pensarmos no pároco clássico de antigamente, que quando via a pobreza de verdade, se ocupava de seu povo”. 

Pe. Albanesi explica a abordagem evocando o recente Sínodo dedicado à Família: “Até agora, por exemplo, foram considerados exclusivamente aspectos doutrinais: do céu vem a verdade e ela deve ser aplicada às pessoas. Ao invés, quando partirmos das pessoas, temos situações concretas, que devem, sim, ser confrontadas com a verdade, mas o processo é bem diferente”. 

(CM)








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