Memória Histórica: as redes estabelecidas pelo Concílio Vaticano II


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço Memória Histórica, 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a tratar, na edição de hoje, das redes de relações existentes e estabelecidas durante o evento conciliar.

Nos programas passados, analisamos a importância da articulação dos bispos da CNBB e do CELAM no evento Conciliar. Neste sentido, o Papa Paulo VI chegou a elogiar os episcopados que já haviam implementado um plano de pastoral de conjunto, exortando as outras conferências episcopais a seguirem pelo mesmo caminho. Mas existiam também outras redes de relações que foram reforçadas e foram adquirindo importância durante as quatro sessões conciliares, como por exemplo, a rede constituída por família religiosa, nacionalidade e língua. De fato, a maioria das famílias religiosas tinha suas Casas Generalícias em Roma, agrupando assim na mesma casa alguns Padres Conciliares e peritos. Os salesianos, por exemplo, acolhiam o Cardeal de Santiago do Chile, Dom Silva Enriquez e também prelados salesianos italianos que trabalhavam em Prelazias do Brasil, especialmente no norte e centro-oeste do país.

A presença de grande número de bispos estrangeiros e religiosos no Brasil, fez com que os mesmos passassem a fazer parte da rede de seu país de origem ou família religiosa, o que terminou por retirar alguns bispos da Domus Mariae, onde estava hospedado o Episcopado Brasileiro. De fato, durante a quarta sessão, 27 bispos, todos religiosos, não se hospedaram na Domus Mariae, mas na Casa Generalícia de sua Congregação ou Ordem. Assim, o único local onde o episcopado brasileiro e atuante no Brasil se encontrava, era na aula conciliar. Estas ausências provocavam embaraços de comunicação e problemas de deslocamentos em relação às constantes reuniões da CNBB e dos diferentes grupos de trabalho e comissões de estudo. Os ausentes acabavam ficando alheios às intensas atividades e à convivência diária que se desenvolvia na Domus Mariae. Por fim, para evitar mal-entendidos, surgiram apelos para que os bispos não-moradores da Domus Mariae fossem avisados na Sala Conciliar sobre atividades importantes a serem desenvolvidas pelos brasileiros.

Outra rede também existente no Concílio era a dos Bispos ligados aos movimentos de leigos. Particularmente importante, era a rede formada pela Juventude Operária Católica (JOC), com sede em Bruxelas, O Movimento Internacional da Juventude Agrária Católica (MIJARC) e a Juventude Estudantil Católica Internacional (JEC), com sede em Paris. Na tese “Padres Conciliares Brasileiros no Concílio Vaticano II”, o Pe. Oscar Beozzo escreve que Dom Helder Câmara, antigo assistente geral da Ação Católica Brasileira, Dom Antonio Fragoso e Dom José Vicente Távora, antigos assistentes da JOC e Dom Cândido Padin, assistente da JUC, ligado à JEC, beneficiaram-se intensamente destas redes, especialmente nos movimentos que tinham jovens brasileiros ocupando posições de responsabilidade a nível internacional. Como por exemplo, o jucista Luiz Alberto Gómez de Souza, que foi Secretário Geral da JEC internacional, em Paris de 1959 a 1961, trabalhou com Dom Helder Câmara no Rio de Janeiro entre a I e II sessões, nos primeiros esboços do esquema XVII, posteriormente esquema XIII, que resultaria na Constituição Pastoral Gaudium et Spes. Também Bartolo Perez, militante da JOC e Presidente da JOC Internacional em Bruxelas, tornou-se, na terceira sessão, auditor leigo do Vaticano II.

No próximo programa, vamos tratar das redes de relações que foram constituídas durante o evento conciliar.

(Fonte: Padres Conciliares Brasileiros no Vaticano II: Participação e Prosopografia. 1959 - 1965. Pe. José Oscar Beozzo)

 








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