A rede de relações no Concílio: o CELAM


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço Memória Histórica, 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a tratar das redes de relações existentes no Concílio, destacando na edição de hoje o Conselho Episcopal Latino-americano, CELAM.

Além da CNBB, como vimos no programa passado, outra rede latino-americana de articulações existente no Concílio, era o Conselho Episcopal Latino-americano. O CELAM foi fundado no Rio de Janeiro em 1955.  Seus dois Vice-Presidentes, Dom Helder Câmara e o bispo chileno de Talca, Dom Manuel Larraín, foram eleitos para o biênio 1959-1960, em concomitância com a convocação do Concílio e trabalharam para que mais bispos brasileiros se sentissem inseridos nesta rede continental e nas sua s relações com as Conferências Episcopais dos Estados Unidos e Canadá. Os dois prelados foram reeleitos para a gestão 1961-63. Dom Larraín acabou assumindo a Presidência em 1963 e em 1965, Dom Avelar Brandão Vilela substitui Dom Helder Câmara na vice-presidência da entidade.

A existência do CELAM e as articulações de seus dois Vice-presidentes nos primeiros dias do Concílio, permitiu que uma gama de nomes de bispos latino-americanos, até então desconhecidos dos outros episcopados, fosse incluída na lista de bispos a serem votados para preencher vagas eletivas em cada comissão. A existência e participação do CELAM permitiu a articulação entre os 20 Episcopados latino-americanos no início do Concílio, quando a primeira Congregação Geral, por exemplo, teve de ser suspensa por quatro dias para permitir que os Padres Conciliares se articulassem para a votação para as comissões.

Na tese "Padres Conciliares Brasileiros no Concílio Vaticano II, Participação e Prosopografia: 1959 - 1965", o Padre Oscar Beozzo traz um relato de Dom Helder Câmara sobre aquele momento e sobre o papel desempenhado pelo CELAM:

"Imediatamente após a sessão de abertura, Dom Larraín e eu nos dissemos que seria necessário provocar uma reunião dos delegados do Conselho Episcopal Latino-americano, CELAM. A América Latina era o único continente em que o Episcopado já estava organizado e habituado a trabalhar em conjunto. Não se tratava de propor bispos latino-americanos para cada uma das Comissões, mas de ver em que comissões poderíamos contribuir com uma colaboração útil. Era necessário que o encontro acontecesse naquele mesmo dia".

Fomos então ver o Presidente do CELAM, Dom Miranda, Arcebispo do México. Mas ele não estava de acordo:

- É impossível, recebi uma carta da Pontifícia Comissão para a América Latina. Referindo-se à experiência dos Concílios precedentes e para evitar a constituição de blocos nacionais, a Comissão pede que não haja reuniões do CELAM durante o Concílio.

Então respondi a ele:

- Prezado Dom Miranda, sei, desde meu seminário, que durante um Concílio, a Cúria Romana não governa. Há somente os Padres Conciliares, com Pedro, sob a direção do Espírito Santo.

- Mas eu não tenho coragem!

Fomos então procurar um Cardeal latino-americano, que sabíamos que seria capaz de aceitar, de acolher, naquele dia mesmo, às quatro horas, nos salesianos que o hospedavam, os delegados do CELAM. Era o Cardeal Silva Enríquez, de Santiago do Chile. Com efeito, ele aceitou. Fizemos as convocações, rapidamente. Sugerimos os bispos que nos pareciam competentes para algumas das comissões. Fomos, assim, os primeiros a propor, sem nenhuma pretensão, candidatos de valor. E, durante quatro dias, o diálogo entre as conferências episcopais funcionou bem. Foi assim que bispos admiráveis, como Mgr. Zoa da República dos Camarões foram eleitos, embora não fossem nem um pouco conhecidos no plano internacional".

Na segunda Congregação Geral, sete bispos brasileiros foram eleitos, em 22/10/1962, para as Comissões Teológica, das Igrejas Orientais, da Disciplina dos Sacramentos, Disciplina do Clero e do Povo Cristão, das Missões, dos Seminários e Universidades e Apostolado dos Leigos. O Papa acrescentou um oitavo bispo brasileiro, na Comissão dos Seminários e Universidades. No ano seguinte, em 29 de novembro de 1963, dois novos Padres Conciliares Brasileiros foram inseridos nas Comissões: Dom Helder Pessoa Câmara, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro, para a Comissão Apostolado dos Leigos e Dom Aloísio Lorscheider, Bispo de Santo Ângelo - RS,  para o Secretariado para a Unidade dos Cristãos. Assim, foram dez os bispos brasileiros que fizeram parte das Comissões Conciliares.


Fonte: Padres Conciliares Brasileiros no Vaticano II. Participação e Prosopografia. 1959 - 1965.  José Oscar Beozzo








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