Cidade do Vaticano
(RV) - No nosso espaço dedicado ao Novo Catecismo, vamos falar na edição de hoje
sobre a iniciativa de Deus em ir de encontro do homem.
Por uma decisão totalmente
livre, Deus se revela e se doa ao homem, nos diz o Catecismo. E o faz, revelando o
seu mistério, seu projeto benevolente, que concebeu desde toda a eternidade em Cristo
em prol de todos os homens. No programa de hoje, o Padre Gerson Schmidt vai refletir
sobre "a iniciativa de Deus":
“Amado ouvinte!
Falamos no último
encontro de que o homem deseja Deus, tem dentro de si fome do Eterno, da autêntica
Verdade, que é Deus. Recordo a grande declaração de Santo Agostinho, depois de sua
conversão:
"Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei!
Eis que estavas dentro e eu fora. E ai te procurava e lançava-me nada belo ante a
beleza que tu criaste. Estavas comigo e eu não contigo. Seguravam-me longe de ti as
coisas que não existiriam, se não existisse em ti. Chamaste, clamaste e rompeste minha
surdez, brilhaste, resplandeceste e afugentaste minha cegueira. Exalaste perfume e
respirei. Agora anelo por ti. Provei-te, e tenho fome e sede. Tocaste-me e ardi por
tua paz” 1.
Que tremenda conclusão chega esse homem que se converte só
quando adulto, depois de sua mãe rezar muito por ele. Todo o homem tem o anseio de
Deus e O procura. O número 30 do CIC aponta assim:
Se o homem pode esquecer
ou rejeitar a Deus, este, de sua parte, não cessa de chamar todo homem a procurá-lo,
para que viva e encontre a felicidade. Mas esta busca exige do homem todo o esforço
de sua inteligência, a retidão de sua vontade,"um coração reto", e também o testemunho
dos outros, que o ensinam a procurar a Deus .
O homem enfrenta muitas dificuldades
para conhecer a Deus apenas com a luz de sua razão. Esta busca de Deus com um coração
reto, com a retidão da vontade, não é um caminho simples e fácil 2. Pio XII,
na encíclica Humani Generis, já apontava essa tarefa difícil de buscar a Deus
somente com a razão e com os esforços humanos. A frase que lemos é do número 37 do
CIC:
Pois, embora a razão humana, absolutamente falando, possa chegar com
suas forças e lume naturais ao conhecimento verdadeiro e certo de um Deus pessoal,
que governa e protege o mundo com sua Providência, bem como chegar ao conhecimento
da lei natural impressa pelo Criador em nossas almas, de fato, muitos são os obstáculos
que impedem a mesma razão de usar eficazmente e com resultado desta sua capacidadenatural 3.
Mas, de fato, embora o homem tende a Deus, está inclinado
para a Eternidade, e consiga com esforço chegar a Deus pela sua razão, a iniciativa
do amor é sempre divina. Segundo o catecismo, Deus quis revelar-se ao homem e dar-lhe
a graça de poder acolher esta revelação de fé 4. As faculdades do homem o tomam
capaz de conhecer a existência de um Deus pessoal 5. Mas Deus não quis deixar
o homem a mercê de suas angústias, anseios e tristezas. Vem ao encontro do homem,
título do capítulo II do CIC, da primeira parte que fala sobre o Credo.
O
número 50 do catecismo parece ser extremamente esclarecedor, ao amigo ouvinte que
se pergunta: Afinal, podemos humanamente chegar a Deus ou não? Diz o texto:
Mediante
a razão natural, o homem pode conhecer a Deus com certeza a partir de suas obras.
Mas existe outra ordem de conhecimento que O homem de modo algum pode atingir por
suas próprias forças, a da Revelação divina. Por uma decisão totalmente livre, Deus
se revela e se doa ao homem. Fá-lo revelando seu mistério, seu projeto benevolente,
que concebeu desde toda a eternidade em Cristo em prol de todos os homens. Revela
plenamente seu projeto enviando seu Filho bem-amado, nosso Senhor Jesus Cristo, e
o Espírito Santo .
Aqui chegamos a um ponto fundamental. A iniciativa
divina de se revelar ao homem por completo, por meio de seu filho Jesus. Deus é tão
amoroso que transbordou o seu amor para comigo, se fazendo gente como a gente, carne
de nossa carne, para que cada um de nós, capaz de Deus, tivesse a graça do alto para
conhecer e amar o que até então era desconhecido.
A paz e a benção, amado
irmão”.
1Dos livros das Confissões, de Santo Agostinho, bispo de Hipona. Lib.
10,27: CSEL 33,157-163.255 -Séc. V. 3 O abade São Columbano, no século
VII, diz assim: “Se por doutas investigações procurares o inefável, irá mais longe
de ti do que estavas; se, pela fé, a sabedoria estará em tua parte, onde se encontra”.
4 Pio XII, encíclica Humani Generis: DS 3875, in: CIC, 37. 2
CIC,35. 5 Ibidem.