Cidade do Vaticano
(RV) - No nosso Espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos
tratar das redes de relações existentes e estabelecidas durante o evento conciliar,
ressaltando na edição de hoje, a CNBB.
O Concílio Vaticano II desenvolveu-se
em 4 sessões, ao longo das quais, foram sendo tecidas redes e relações segundo a língua,
nacionalidade, família religiosa, etc. Na tese 'Padres Conciliares Brasileiros no
Vaticano II", o Padre Oscar Beozzo dividiu-as em Redes Pré-existentes e Redes constituídas
durante o Concílio. Das Redes Pré-existentes faziam parte a Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil, como rede nacional; o CELAM, como rede latino-americana; as Redes
segundo a família religiosa, nacionalidade e língua e a Rede dos Bispos ligados a
movimentos leigos. Constituídas durante o Concílio eram as redes Ecumênica, o Coetus
Internationalis Patrum e a Igreja dos Pobres.
A CNBB foi constituída em
1952 e nos seus primeiros 10 anos, realizou apenas cinco Assembleias Gerais Ordinárias,
sendo a última em abril de 1962, às vésperas do Concílio. A Conferência dos Bispos
havia sido fundada como uma assembléia de Cardeais e Arcebispos, já que apenas os
Metropolitas tinham voz e voto em plenário. O peso da assembléia residia no seu secretariado,
em especial na pessoa de seu fundador e Secretário Geral, Dom Helder Câmara. Depois
do Secretário, o órgão que podia agir era a Comissão Permanente, formada pelos Cardeais
do Rio de Janeiro e São Paulo e por três Arcebispos eleitos por outros Metropolitas.
Somente no Estatuto de 1971 irá desaparecer a Comissão Central que sucede à Comissão
Permanente. As distâncias e precariedades do transporte na época, impediam uma maior
convivência entre o episcopado brasileiro, e neste sentido, o Concílio constituiu
uma particular oportunidade para que pudessem se conhecer, estudar, trabalhar, passear,
fazer as refeições juntos, enfim, criar laços de amizade e afeto, campo fértil para
debate de idéias e esforço conjunto na auto-organização.
Nas eleições internas
de 1964, Dom Helder e seu grupo foram derrotados. No mesmo ano, também ocorreu o golpe
militar. Mesmo com a fase conturbada pela qual passava o país, a CNBB foi desenvolvendo
uma estrutura e crescendo, atuando no Concílio e no país. Dom Clemente Isnard - citado
na Tese do Pe. Beozzo - conta:
"Os Bispos Brasileiros estavam quase todos
juntos na Domus Mariae, e isto facilitava os contatos e as discussões. Havia frequentes
reuniões à tarde (deixadas livres pelo Concílio) e isto favoreceu muito a aglutinação
da Conferência Episcopal. A CNBB adquiriu a sua feição definitiva em Roma, durante
o Concílio e por obra do Concílio. Embora já existisse antes, a CNBB é um fruto do
Concílio".
Outro jovem bispo, também citado pelo Padre Beozzo, fala sobre
as mudanças na CNBB por conta do Concílio:
"Todos éramos, como dizia João
XXIII, noviços no Concílio. Foram enviados muitos documentos para estudar e a gente
foi. Tivemos a sorte de ficar juntos na Domus Mariae, pois tinha um dos melhores auditórios
de Roma. Era a sede da Ação Católica. Os melhores conferencistas faziam conferências
naquele auditório e a gente participava com toda facilidade pois morávamos alí. A
gente procurou estudar, até em grupos, para ver os documentos, as emendas. Houve uma
participação quase sempre em grupos. Alguém preparava uma intervenção, mostrava para
outros e procurava coletar assinaturas. Mas afinal, nós éramos do terceiro mundo e
não tínhamos condição de liderar nada no Concílio".
O Concílio fez com
que a CNBB aglutinasse, num único conjunto, Cardeais, Arcebispos, Bispos diocesanos,
Bispos auxiliares, Administradores Apostólicos e Prelados de áreas missionárias, conhecendo
assim, num certo sentido, um segundo nascimento.
Fonte: Padres Conciliares
Brasileiros no Vaticano II. Participação e Prosopografia. 1959 - 1965. José Oscar
Beozzo