2014-10-29 18:30:44

As redes de relações no Concílio: a CNBB


RealAudioMP3 Cidade do Vaticano (RV) - No nosso Espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos tratar das redes de relações existentes e estabelecidas durante o evento conciliar, ressaltando na edição de hoje, a CNBB.

O Concílio Vaticano II desenvolveu-se em 4 sessões, ao longo das quais, foram sendo tecidas redes e relações segundo a língua, nacionalidade, família religiosa, etc. Na tese 'Padres Conciliares Brasileiros no Vaticano II", o Padre Oscar Beozzo dividiu-as em Redes Pré-existentes e Redes constituídas durante o Concílio. Das Redes Pré-existentes faziam parte a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, como rede nacional; o CELAM, como rede latino-americana; as Redes segundo a família religiosa, nacionalidade e língua e a Rede dos Bispos ligados a movimentos leigos. Constituídas durante o Concílio eram as redes Ecumênica, o Coetus Internationalis Patrum e a Igreja dos Pobres.

A CNBB foi constituída em 1952 e nos seus primeiros 10 anos, realizou apenas cinco Assembleias Gerais Ordinárias, sendo a última em abril de 1962, às vésperas do Concílio. A Conferência dos Bispos havia sido fundada como uma assembléia de Cardeais e Arcebispos, já que apenas os Metropolitas tinham voz e voto em plenário. O peso da assembléia residia no seu secretariado, em especial na pessoa de seu fundador e Secretário Geral, Dom Helder Câmara. Depois do Secretário, o órgão que podia agir era a Comissão Permanente, formada pelos Cardeais do Rio de Janeiro e São Paulo e por três Arcebispos eleitos por outros Metropolitas. Somente no Estatuto de 1971 irá desaparecer a Comissão Central que sucede à Comissão Permanente. As distâncias e precariedades do transporte na época, impediam uma maior convivência entre o episcopado brasileiro, e neste sentido, o Concílio constituiu uma particular oportunidade para que pudessem se conhecer, estudar, trabalhar, passear, fazer as refeições juntos, enfim, criar laços de amizade e afeto, campo fértil para debate de idéias e esforço conjunto na auto-organização.

Nas eleições internas de 1964, Dom Helder e seu grupo foram derrotados. No mesmo ano, também ocorreu o golpe militar. Mesmo com a fase conturbada pela qual passava o país, a CNBB foi desenvolvendo uma estrutura e crescendo, atuando no Concílio e no país. Dom Clemente Isnard - citado na Tese do Pe. Beozzo - conta:

"Os Bispos Brasileiros estavam quase todos juntos na Domus Mariae, e isto facilitava os contatos e as discussões. Havia frequentes reuniões à tarde (deixadas livres pelo Concílio) e isto favoreceu muito a aglutinação da Conferência Episcopal. A CNBB adquiriu a sua feição definitiva em Roma, durante o Concílio e por obra do Concílio. Embora já existisse antes, a CNBB é um fruto do Concílio".

Outro jovem bispo, também citado pelo Padre Beozzo, fala sobre as mudanças na CNBB por conta do Concílio:

"Todos éramos, como dizia João XXIII, noviços no Concílio. Foram enviados muitos documentos para estudar e a gente foi. Tivemos a sorte de ficar juntos na Domus Mariae, pois tinha um dos melhores auditórios de Roma. Era a sede da Ação Católica. Os melhores conferencistas faziam conferências naquele auditório e a gente participava com toda facilidade pois morávamos alí. A gente procurou estudar, até em grupos, para ver os documentos, as emendas. Houve uma participação quase sempre em grupos. Alguém preparava uma intervenção, mostrava para outros e procurava coletar assinaturas. Mas afinal, nós éramos do terceiro mundo e não tínhamos condição de liderar nada no Concílio".

O Concílio fez com que a CNBB aglutinasse, num único conjunto, Cardeais, Arcebispos, Bispos diocesanos, Bispos auxiliares, Administradores Apostólicos e Prelados de áreas missionárias, conhecendo assim, num certo sentido, um segundo nascimento.



Fonte: Padres Conciliares Brasileiros no Vaticano II. Participação e Prosopografia. 1959 - 1965. José Oscar Beozzo









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