50 anos de independência da Zambia, entre entusiasmo e contradições
Lusaka (RV) - "No país há um clima de festa e de orgulho por aquilo que este
aniversário representa, mas não falta uma certa capacidade crítica de olhar para a
realidade." Com essas palavras, o sacerdote comboniano, Pe. Gian Battista Moroni,
há 25 anos na Zâmbia, comenta, de Lusaka – capital do país do centro-sul da África
–, as celebrações pelo cinquentenário da independência da República da Zâmbia.
O
aniversário oficial se dá nesta sexta-feira, dia 24, mas o país o preparou há meses,
em meio ao entusiasmo de quem ressalta os progressos destas décadas e de quem chama
a atenção para o risco de se celebrar "somente uma data", sem que da festa se passe
ao compromisso a resolver as contradições da sociedade, explica o missionário à agência
Misna.
O desafio principal é a desigualdade econômica entre os mais de 13 milhões
de zambianos: de fato, ao lado da elite beneficiada por escolhas econômicas liberalistas
"que tornaram mais fortes somente quem já o era, encontram-se as classes populares
para as quais, em alguns casos, segundo Pe. Moroni, se "caminhou para trás". Trata-se
de uma condição ante as quais os esforços governamentais conseguiram remediar somente
em parte.
Efetivamente, os projetos de desenvolvimento, observa o religioso
comboniano, "foram financiados pedindo empréstimos exteriores e criando dívida", hoje
em níveis muito altos.
Por outro lado, são muitas, porém, as conquistas – reconhece
o sacerdote. Em particular, cita "o ter unido o país e as várias etnias que o habitam:
jamais houve revoluções violentas ou golpes de Estado, a população entendeu que usar
a força leva somente a aumentar as tensões" existentes, mas contidas.
Delegações
de vinte e seis países participam das cerimônias oficiais, incluindo também seis chefes
de Estado. O grande ausente na festa é o primeiro mandatário da nação, Michael Sata,
internado no exterior, oficialmente para um check-up, sendo representado nas celebrações
por seu substituto ad interim, o ministro da Defesa Edgar Lungu.
Presente,
ao invés, o Pai da Pátria, Kenneth Kaunda, 90 anos, na condução da nação desde a independência
até 1991. Kaunda foi o primeiro a receber, nesta data, uma nova alta honorificência,
criada para a ocasião.
Segundo Pe. Moroni, "de vários modos, Kaunda continua
trabalhando pelo país e esse seu papel é aceito". Após ter-se retirado da política,
continua o comboniano, "sua figura foi reavaliada, recuperada em seus aspectos positivos:
o ter agido pelo bem do país, o ter trabalhado pela unidade, mas também pelo fato
de não ter se enriquecido e de jamais ter sido envolvido em episódios de corrupção".
(RL)