O Ir. Roger Schutz, de Taizé, e o Pio Brasileiro no Concílio
Cidade do Vaticano
(RV) - No nosso espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II - vamos
continuar a tratar da relação do Colégio Pio Brasileiro com o evento conciliar, destacando
na edição de hoje, a presença do Ir. Roger Schutz, fundador da Comunidade Ecumênica
de Taizé, na França.
O Colégio Pio Brasileiro tornou-se ponto obrigatório de
passagem de bispos e cardeais que vinham a Roma durante o Concílio. Junto com a Domus
Mariae, revelou-se um local de intensas trocas e partilhas, o que envolvia também
estudantes e seminaristas. Peritos e teólogos proferiam conferências aos bispos brasileiros
no Auditório da Domus Mariae. Proibidos inicialmente de participar destas sessões,
os estudantes do Pio - ávidos por esta nova teologia que aflorava nos debates e sessões
conciliares - discretamente ludibriavam as restrições para ter acesso ao conteúdos
das palestras ou mesmo participar das conferências.
Em momentos de conflito
e perplexidade, os bispos vinham em socorro do Colégio, como aconteceu com a visita
do Prior da Comunidade Ecumênica de Taizé, Ir. Roger Schutz, convidado por alunos
do Pio Brasileiro que visitaram a comunidade francesa próxima à Cluny e Lyon, em 24
de novembro de 1963.
Na tese “Padres Conciliares Brasileiros no Concílio Vaticano
II”, Padre Oscar Beozzo conta: "Acompanhei-o de volta ao carro, até o seu apartamento
ao lado do Gesù. Comentei no carro alguns pontos de sua palestra, indicando que caíra
de cheio em temas vivamente debatidos no Colégio. Achou que poderia ser mal interpretado
em algumas de suas posições, como a do celibato opcional e, delicadamente, pediu para
voltar ao Pio Brasileiro, para esclarecer melhor seu pensamento. Neste meio tempo,
uma carta da Sagrada Congregação para os Seminários e Universidades Católicas, advertia
o Reitor da casa, relembrando que estavam proibidas visitas e palestras de observadores
não-católicos ao Concílio, aos Colégios e às Universidades Romanas".
O
impasse foi superado em conversas com o Cardeal Bea e bispos brasileiros. Não havia
mais impedimentos para que o Ir. Roger falasse aos bispos e alunos do Colégio Pio
Brasileiro. Através do convite do Arcebispo de Vitória (ES), e Presidente da Comissão
Episcopal da CNBB para o Colégio, Dom João Batista da Motta e Albuquerque, o Ir. Roger
Schutz voltou ao Pio Brasileiro para encontrar os estudantes, agora tendo também a
presença de bispos.
O Colégio Pio Brasileiro, desta forma, serviu como local
de intensa partilha e troca de idéias, e onde acabou por fixar raízes a rede conciliar
da "Igreja dos Pobres". De fato, no verão de 1963, alguns seminaristas do Pio estiveram
na Comunidade dos 'Compagnons de Jesus Charpentier', em Nazaré, fundada pelo antigo
professor de Dogma do Seminário de Dijon, na França, Paul Gauthier. O ideal de pobreza
e a espiritualidade de Charles de Foucauld já influenciara um bom número de estudantes
do Pio, mas Gauthier aliava a dimensão da pobreza a uma militância particular no Concílio
e ao atrativo de viver o seguimento de Jesus Carpinteiro, na Nazaré de sua infância
e juventude. Alguns estudantes brasileiros acabaram ingressando na Fraternidade, que
no pós-Concílio implantou uma comunidade masculina no Espírito Santo e posteriormente
em Pernambuco, na Paraíba e em Minas Gerais.
O Ir. Roger Schutz foi assassinado
durante um momento de oração na Igreja da Reconciliação, na Comunidade de Taizé, em
16 de agosto de 2005.
Fonte: “Padres Conciliares Brasileiros no Concílio
Vaticano II Participação e Prosopografia 1959 – 1965”. Pe. José Oscar Beozzo.