Cidade do Vaticano
(RV) - No nosso Espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos
continuar a tratar na edição de hoje da relação entre o Cardeal Augustin Bea e o Colégio
Pio Brasileiro, durante o evento Conciliar.
O Cardeal alemão Augustin Bea -
exegeta famoso - optou em morar no Colégio Pio Brasileiro, um mês após ter sido criado
Cardeal pelo Papa João XXIII em novembro de 1959. Ele foi professor e Reitor do Pontifício
Instituto Bíblico. Encarregado pelo Papa de pensar os Estatutos de uma Pontifícia
Comissão Pro christianorum unitate promovendam e colocado à frente da Secretaria
para a União dos Cristãos - criada em 5 de junho de 1960 - dedicou-se com ardor às
novas tarefas a ele confiadas.
Na tese de doutorado “Padres Conciliares Brasileiros
no Concílio Vaticano II", o Pe. Oscar Beozzo escreve a este respeito: "Os reflexos
de sua atividade desdobraram-se sobre o Colégio, que se tornou um endereço obrigatório
para as personalidades das distintas Igrejas e religiões de passagem por Roma. Em
ocasiões mais solenes, como quando da visita - na tarde de 2 de dezembro de 1960 -
do Primaz da Igreja Anglicana, o Arcebispo de Cantuária Dr. Geoffrey Fischer, o Cardeal
Bea convidou a todos os seminaristas para recebê-lo e saudá-lo festivamente na portaria
do Colégio. Esta calorosa acolhida contrastou com o recebimento quase frio, dispensado
pelo Protocolo Pontifício, pela manhã, em "visita de cortesia" ao Papa. Imprensa e
fotógrafos foram excluídos dos dois eventos - a visita ao Papa e a visita ao Cardeal
Bea - mas no Pio Brasileiro, nós, os alunos, pudemos fotografar livremente o efusivo
encontro entre os dois homens de Igreja, que davam os primeiros passos para melhorar
as relações entre a Confissão Anglicana e a Igreja Católica Romana".
Os
movimentos da Igreja em direção a uma maior abertura no campo religioso provocou ataques,
por vezes violentos, de inconformados com as posições do Secretariado da União dos
Cristãos em relação ao ecumenismo, ao diálogo com o judaísmo e religiões não-cristãs,
mas especialmente, pela defesa da liberdade religiosa. O jornal "Conciliábulo" saiu
em sua defesa.
Após o falecimento de João XXIII, o Colégio Pio Brasileiro tornou-se
ponto de passagem obrigatória para dezenas de Cardeais que chegavam a Roma e discutiam
a sucessão. Existiam grandes preocupações quanto ao futuro do Concílio e da Igreja.
Ao partir para o Conclave em 19 de junho, o Cardeal Bea pediu muitas orações aos seminaristas
brasileiros. Ao retornar na sexta-feira, 21 de junho, após a Bênção do recém eleito
Paulo VI à multidão presente na Praça São Pedro, exclamou: "Conseguimos!", em alusão
à escolha de Montini pelos Cardeais. O futuro do Concílio e do Secretariado para a
União dos Cristãos estava assegurado.
O Pio Brasileiro foi sua casa até o
fim de seus dias, em 16 de novembro de 1968.
Fonte: “Padres Conciliares
Brasileiros no Concílio Vaticano II Participação e Prosopografia 1959 – 1965”. Pe.
José Oscar Beozzo.