Dom Stankevics: Igreja defende a família sob ataque
Cidade do Vaticano (RV) – A Assembleia Geral extraordinária do Sínodo dos Bispos
dedicada aos “desafios pastorais da família no contexto da evangelização” teve sequência
na manhã desta terça-feira (14), no Vaticano, com os trabalhos dos Círculos Menores.
Os padres sinodais trabalham na compilação dos documentos finais do Sínodo, partindo
das observações sobre a “Relatio post discptationem” – que foi lida na segunda-feira
(13). Quem explica é o Arcebispo de Riga, da Letônia, Dom Zbignev Stankevics:
Dom
Stankevics – “Já ontem à tarde iniciamos o trabalho nos Círculos Menores. Procuramos
corrigir algumas expressões, não corrigidas ao meu modo de ver, usadas na “Relatio”.
Nós fazemos isso para elaborar um texto final mais equilibrado e que responda melhor
aos desafios de hoje. A minha convicção é que a tarefa principal do Sínodo é de reafirmar
a verdade do Evangelho sobre o matrimônio. Hoje, a família se encontra sob um ataque
muito forte, a tarefa principal dos padres sinodais não é fazer qualquer abertura
pouco definida, mas é de aplicar, novamente, o ensinamento da Igreja na situação de
hoje. Certamente é necessária uma abertura e devemos ir ao encontro dos desafios contemporâneos
o quanto antes. Mas, sem perder a identidade católica e sem renunciar a verdade sobre
o matrimônio."
RV – Uma Igreja que move o mundo, ao invés de uma
Igreja que é movida pelo mundo?
Dom Stankevics – “Sim. È assim mesmo,
porque quando permite ao mundo de movê-la, corre-se o risco de perder a identidade.
Quando perdemos a identidade quer dizer que perdemos o sal. Se perdemos o sal, o mundo
não precisa mais da Igreja. A Igreja não serve para satisfazer os prazeres do mundo,
a Igreja serve para dar sal ao mundo, para mostrar a verdade que vem do alto. Nós
recebemos a Revelação de Deus: nossa tarefa é transmitir essa Revelação na maneira
que seja mais compreensível possível, havendo em consideração, inclusive, as dificuldades
do mundo. Nós acabamos sendo muito rígidos algumas vezes. Nesse sentido, é necessária
uma conversão da nossa parte. Devemos fazê-la com toda humildade, com toda misericórdia
em relação ao mundo, mas a verdade permanece sempre, a verdade é objetiva. Não podemos
dizer que cada um pode compreendê-la como quiser."
RV – O senhor dizia
inicialmente que, hoje, a família é colocada sob ameaça, sob ataque. Vinte anos atrás,
esse conceito foi expresso por João Paulo II na “Carta às Família”, quando escrevia:
“à desintegração das famílias parece, infelizmente, indicar vários programas sustentados
por meios muito poderosos nos dias de hoje”. É uma afirmação ainda válida?
Dom
Stankevics – “Sim, porque os processos se desenvolvem e aquele ataque, hoje,
toma outras formas. Nos dias de hoje, a ideologia do ‘gender’, por exemplo, é muito
forte: afirma-se que cada um pode escolher a própria identidade, inclusive sexual
e biológica, mas isso não é verdade. Esse ataque contra as famílias tomou novas formas,
conquistou diversas nações. O processo continua, o perigo cresceu nesses 20 anos."
RV
– Trata-se de um ataque contra a natureza humana?
Dom Stankevics –
"Sim, contra a identidade da família, contra a identidade humana. Nós devemos reafirmar
a verdade, buscando uma linguagem adaptada, compreensível também ao mundo, se for
possível."
RV - O mundo hoje pede para entender?
Dom Stankevics
– “Vamos dizer que aquele grupo de grande influência que ataca as famílias
não pede: persegue os interesses deles e procura impor ao mundo. Pessoalmente, porém,
eu encontrei muitas pessoas, inclusive não credentes, que procuram a verdade. Vejo
que está crescendo no mundo uma oposição em direção a tendências que destroem a família."
RV
– Tratando-se de um assunto de grande atualidade, extremamente delicado, a responsabilidade
dos padres sinodais reunidos neste Sínodo é enorme...
Dom Stankevics
– "Nesta manhã, celebrei a missa também pelo Sínodo, para que o Espírito Santo nos
faça de guia para não renunciarmos à nossa tarefa, às nossas responsabilidades, para
não nos submetermos às pressões do mundo e àquelas dos meios de comunicação de massa."
(AC)