Com encontros de grupo, prosseguem trabalhos do Sínodo - Primeiras observações sobre
o Relatório após o Debate
Com encontros de grupo (os chamados “Grupos menores”), prosseguem no Vaticano os trabalhos
da assembleia do Sínodo dos Bispos sobre a família. Trata-se de debater, corrigir
e aperfeiçoar o “Relatório após o Debate”, que ontem de manhã foi apresentado à assembleia,
como síntese das intervenções dos Padres sinodais na semana passada. Esta fase de
trabalho de grupo teve início ontem, segunda-feira, à tarde, e continuarão até quinta-feira
de manhã. Nela participa também o Papa Francisco.
Foi entretanto anunciado
que o Santo Padre convocou já a XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo, que decorrerá
no Vaticano de 4 a 25 de outubro de 2015, tendo como tema “A vocação e a missão da
família na Igreja e no mundo contemporâneo”.
Na segunda parte da assembleia
geral de ontem, após a apresentação, pelo cardeal Peter Erdo, do “Relatório após o
Debate”, tomaram a palavra 41 Padres Sinodais, aproveitando do tempo destinado a intervenções
livres, para comentar globalmente aquele texto, sublinhando aspetos positivos ou limitações
e lacunas.
Em geral, foi muito apreciada a capacidade revelada em “fotografar”
bem as intervenções havidas ao longo da primeira semana na assembleia sinodal, captando
bem o espírito ali vivido e considerando o “acolhimento” como tema dominante. Do
Documento – observou-se – emerge o amor da Igreja pela família fiel a Cristo, mas
também a sua capacidade de estar perto do homem em cada momento da sua vida, de compreender
que, por detrás dos desafios pastorais, estão tantas pessoas que sofrem. O olhar do
Sínodo – reafirmou-se – deveria ser o do pastor que a vida pelas suas ovelhas, sem
as julgar a priori.
Além disso, pois que o Relatório recolhe diferentes
pontos de vista para fornecer uma base de trabalho aos Círculos menores, foram desde
já indicados aspetos a serem inseridos para melhorar o texto. Por exemplo: sem por
em causa o facto de que a Igreja deve acolher quem se encontra em dificuldade, sere
bem falar mais amplamente das famílias que permanecem fiéis aos ensinamentos do Evangelho,
agradecendo-as e encorajando-as pelo testemunho que dão. Do Sínodo deveria emergir
com mais clareza que o matrimónio indissolúvel, feliz, fiel para sempre, é belo, é
possível e está presente na sociedade, evitando portanto focalizar-se sobre as situações
familiares imperfeitas.
Outras reflexões foram no sentido de dar maior
atenção ao tema da mulher, da sua tutela e da sua importância na transmissão da vida
e da fé; de integrar algumas considerações sobre a figura dos avós no seio do núcleo
familiar; de inserir uma referência específica à família como “Igreja doméstica” e
à paróquia como “família das famílias”, assim como à Sagrada Família, modelo de referência
essencial. Nesta óptica foi também sugerido valorizar mais a perspectiva missionária
da família como anunciadora do Evangelho no mundo contemporâneo.
Necessário
também aprofundar e esclarecer a chamada lei da “gradualidade” que pode estar na base
de uma série de confusões. No que toca ao acesso aos sacramentos para os divorciados
re-casados, por exemplo, foi dito que é difícil acolher excepções sem que, na realidade,
se tornem uma regra comum.
Foi igualmente posto em relevo que a palavra “pecado”
quase que não está presente no Relatório. Recordado também o tom profético das palavras
de Jesus, para evitar o risco de conformar-se à mentalidade do mundo presente.
Em
relação aos homo-sexuais, foi evidenciada a necessidade do acolhimento, mas com a
justa prudência, a fim de que não se crie a impressão de que uma avaliação positiva
de tal orientação por parte da Igreja. A mesma atenção foi desejada em relação aos
conviventes.
Outros pontos de reflexão apontaram a necessidade de voltar a
insistir na importância do sacramento do Baptismo, essencial para compreender bem
o carácter sacramental do matrimónio e também o seu ser um “ministério” no anuncio
do Evangelho.
No que toca à simplificação processo para a causa de nulidade
do matrimónio, alguma perplexidades foram levantadas a respeito da proposta de dar
maior competência ao bispo diocesano, pesando excessivamente sobre os seus ombros.
U ma reflexão mais aprofundada e articulada foi considerada oportuna em
relação aos casos de poligamia – sobretudo para quem se converte e quer aproximar-se
aos sacramentos – e para a difusão da pornografia (em particular a na internet), um
risco real para a unidade familiar. Por fim, em relação à abertura à vida da parte
dos casais, se sublinha a necessidade de enfrentar de modo mais aprofundado e decisivo
não só o tema do aborto, mas também o da maternidade substitutiva.
Entretanto,
sempre ontem, segunda-feira, teve lugar uma conferência de imprensa para apresentar
aos jornalistas o referido “Relatório após o debate”. Intervieram o cardeal húngaro,
Peter Erdö – Relator Geral, o cardeal filipino Tagle, arcebispo de Manila, D. Bruno
Forte – Secretário deste Sínodo, e o porta-voz da Santa Sé – padre Federico Lombardi.
Sublinhou-se que o Documento revela uma Igreja em atitude de escuta das
famílias, inserida na sociedade de hoje, com todas as diversidades da realidade contemporânea.
D. Bruno Forte observou que, para além de “escutar todos” o Sínodo é um contínuo “caminhar
juntos”, amadurecendo as posições e tendendo a consensos resultantes de um aprofundamento
das questões.
A lógica convincente nunca é a do “ou tudo ou nada”,
mas sim a da paciência da transformação, da atenção aos pormenores, às diversidades,
à complexidade das situações. Sem esta lógica corre-se o risco de julgar as pessoas
sem as compreender, sem as acolher e acompanhar. Parece-me que um dos aspetos mais
belos deste Sínodo… é este espírito de companhia, de acompanhamento e progressividade,
de maturação, sobre o qual naturalmente há ainda muito a fazer. (O Relatório) é apenas
um momento, uma etapa. O contributo dos grupos será importantíssimo para integrar,
precisar melhor e desenvolver os elementos que entretanto emergiram.